O Hospital Regional do Coração (HRCor) da Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso não tem mais recursos para realizar o mesmo número de cirurgias cardiovasculares que vinha realizando. A informação é do interventor do hospital Adriano Rosa Nascimento, que vai ter que adequar esse número com o montante pago pelo estado, que foi cortado há algum tempo, para a metade.
“Tomamos a seguinte decisão: Não podemos mais atender o chamado ‘extra-polamento de teto’ (serviços que são feitos acima do montante pago pelo estado), porque não temos mais condições de arcar com essa despesa”, disse Adriano.
Ele informou que o montante pago pelo estado anteriormente para a unidade cardiovascular era de R$ 500 mil e atualmente o valor caiu para R$ 228 mil. “Estamos fazendo apenas 50% da produção. Chegamos a extrapolar em R$ 400 mil”, contou o interventor.
Adriano disse que todas as cirurgias da unidade cardiovascular empregam “órteses e próteses”, que são, por exemplo, implantação no paciente de marca passos, ou dos chamados “stents”, o custo disso é muito alto e a Santa Casa não tem como cobrir. “O valor das ‘órteses e próteses’ é quase a metade do valor total gasto em uma cirurgia cardiovascular, quem vai pagá-lo?”, questiona, lembrando que há ainda os médicos e todo o restante que precisa ser pago.
A Santa Casa, assim, está ficando com um prejuízo alto. O estado vinha fazendo o chamado “encontro de contas”, mas não contempla todos os gastos e há perdas significativas de qualquer forma, segundo Adriano. “A única forma de conseguirmos continuar atendendo como sempre o fizemos é que os recursos continuem sendo enviados ao hospital”.
Ele também informou que há mais de R$ 2 milhões em extrapolamento de teto que não foram pagos desde abril do ano passado.
EM PASSOS
O Hospital do Coração de Passos ganhou recentemente habilitação para realizar cirurgias cardiovasculares também. Especialistas criticam essa ação, alegando que os credenciamentos devem acontecer mediante ao atendimento de uma região, considerando número de habitantes que terão acesso aos serviços.
Isso quer dizer que, teoricamente e de acordo com o que preconiza o Ministério da Saúde, não haveria necessidade de ter outro atendimento em cirurgias cardiovasculares em localidades tão próximas. Explica-se que tais unidades estariam atendendo os mesmo habitantes, portanto haveria desperdício de recursos com as duas instituições recebendo para o mesmo fim.
Porém, Adriano explica que uma unidade cardiovascular de alta complexidade pode oferecer diversos tipos de serviços, e que esse “portfólio” pode diferenciar um do outro.
“Nós da Santa Casa de Paraíso acreditamos muito na questão ética das instituições, incluindo a de Passos. Há um acordo de muitos anos de que Passos teria a vocação para ser uma referência em oncologia e São Sebastião do Paraíso ser uma referência em cardiologia. Ministério da Saúde e Secretaria de Estado da Saúde fizeram investimentos indo ao encontro de atender tal acordo. Qualquer ação fora disso é a quebra de um trato dentro de uma questão ética, com investimentos que não podem inviabilizar uma instituição. Acredito que isso é muito claro para o hospital de Passos e de Paraíso”, ponderou.
Adriano disse que já houve conversações com representantes do Ministério da Saúde e com a Secretaria de Estado de Saúde para que o teto volte a ser no montante que era anteriormente. “Estamos também tentando sensibilizar representantes regionais, por meio das Comissões Intergestores Bipartite (CIB-SUS) da micro região e da macro região. Vamos explicar as nossas dificuldades e tentar fazer a repactuação”.
Enquanto isso, a Santa Casa passa a atender dentro do teto atual. “Tivemos uma auditoria dentro da Santa Casa que considerou o serviço da Unidade Cardio-vascular de Alta Complexidade do HRCor um dos melhores em qualidade de assistência nesse tipo de procedimento. Por isso estamos nos mobilizando. Entre os problemas que a Santa Casa está vivenciando, esse é um dos mais sérios. Tivemos redução de déficit mensal, a equipe interventora está conseguindo equalizar isso, buscando saldar com os fornecedores. Prefeitura tem feito os repasses em dia, parcelou uma pequena parte de sua dívida. A Santa Casa está trabalhando também na pactuação de outros serviços”, finalizou o interventor Adriano.