As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) tiveram um aumento considerável em São Sebastião do Paraíso e é uma tendência que acompanhou demais regiões do país que atualmente vive uma preocupação com os casos de sífilis, principalmente em mulheres grávidas. Apesar de não haver dados comparativos, o médico especialista e infectologista do município, José Carlos Costa Junior, ressalta que são dados perceptíveis, o que motivou um alerta do Ministério da Saúde, sobretudo, para ampliar as campanhas de prevenção e tratamento, não apenas de sífilis, mas de todas as DSTs. O médico ressalta que apesar da sífilis ser uma doença que estava controlada, teve um aumento expressivo nos dois últimos anos, coincidindo com a falta do medicamento para o tratamento da doença.
“É uma preocupação que somou com os aumentos de registros de sífilis em mulheres grávidas e em crianças (que é a sífilis congênita). A sífilis congênita pode levar a morte do feto, parto prematuro, má formação da criança – como problemas nos ossos, no sistema nervoso central e cardiovascular. É uma doença que o Ministério da Saúde percebeu aumentos em todo o país. Isso foi ruim porque coincidiu também com o desabastecimento da penicilina nos dois últimos anos, que é o principal tratamento para a doença. Nós tivemos problemas na compra de penicilina cristalina e bezantina. No entanto, no final do último ano e início deste a situação se regularizou”, explica o médico.
O agente transmissor da sífilis é o treponema pallidum, uma bactéria que tem como principal forma de contaminação a relação sexual sem proteção ou verticalmente, que é a transmissão da mãe para o feto. Conforme explica o médico, o período de incubação depois da relação sexual acontece em torno de 5 a 10 dias, quando aparece uma lesão que é geralmente uma ferida no órgão sexual.
“Essa lesão é o que chamamos de sífilis primária. Ela pode ser autolimitada, ou seja, melhora mesmo sem o tratamento, mas isso não significa que a pessoa está curada, porque a sífilis pode ficar no organismo e se não fizer o tratamento, além da transmissão, a pessoa ainda pode vir a ter outras manifestações e complicações da doença – a sífilis secundária –, que são lesões na pele ou, em uma forma mais tardia, acometer o sistema nervoso e o coração. Não existe diferenciação da gravidade em relação ao sexo da pessoa, mas nas mulheres a preocupação é em relação à transmissão vertical”, elucida.
De acordo com o infectologista, hoje as principais causas de contração dessas DSTs de forma geral é a falta de prevenção. O médico atribui os casos a precocidade da vida sexual e a falta de preocupação com a gravidade de doenças como a Aids, que hoje possui tratamento muito eficaz. “As pessoas não veem mais o adoecimento pela AIDS. Quando essa doença ‘surgiu’, no início dos anos 90, as pessoas viam pacientes doentes e se assustavam. Mas hoje parece que, com o tratamento, as pessoas não estão tão preocupadas; e o tratamento do HIV é muito eficaz e não vemos as pessoas se adoecerem e morrem por conta da Aids”, avalia.
Não foi somente os casos de sífilis que aumentaram, também houve aumento de casos de gonorreia, herpes genital, o HPV, e demais doenças sexualmente transmissíveis, segundo relata o infectologista. “Não podemos falar em falta de informação, apesar do Governo Federal fazer um mea-culpa sobre o programa federal de prevenção, tanto que agora há um novo programa que trata da prevenção combina do HIV e outras DSTs, onde você tem o diagnóstico precoce, isso porque na maioria das vezes a pessoa não sabe que tem a doença e não previne”, ressalta o médico.
Entre as medidas preventivas, José Carlos comenta que há a profilaxia pós exposição, ou seja, se a pessoa sai durante a noite, tem uma relação sexual sem proteção ou usou o preservativo e rompeu, ela pode procurar a Infectologia em até 72h e tomar o medicamento para prevenir que haja a transmissão por exposição; isso é feito também em casos de abuso sexual e mesmo com a relação consentida ou qualquer cidadão que tenha uma relação sexual e teve qualquer tipo de preocupação.
“Algumas cidades do Brasil têm um programa chamado de ‘PREP’, dedicado a populações de muito risco como profissionais do sexo ou pessoas que tem relacionamentos homoafetivos e trocam constantemente de parceiros; esse programa fornece a essas pessoas medicamento de uso continuo para prevenir contra essas doenças, mesmo não a tendo, no entanto isso diminui o risco de contração: é a prevenção combinada
CONSEQUÊNCIAS
A sífilis pode deixar seque-las graves se não tratada ou tratada tardiamente, como problemas neurológicos graves desde demência até paralisia do corpo e crises convulsivas. O médico infectologista cita os manicômios, muito comuns no século XIX e meados do século XX, onde a maioria dos pacientes internados eram pessoas que tinham sífilis não tratada. É justamente devido a essas sequelas que o médico faz um alerta para o tratamento e exames preventivos.
Os indícios que podem levar a suspeita da contração de sífilis inicialmente é uma pequena lesão nas genitálias. “Às vezes essa lesão pode ser imperceptível, mas se houve qualquer lesão é importante procurar a Infectologia e fazer um exame de sangue para ter certeza; e hoje tem o teste rápido, que a pessoa vem até a Unidade de Infectologia, faz o exame e tem o resultado quase no mesmo instante. Mas a orientação é, surgiu alguma lesão ou se expôs a uma situação de risco ou ainda faz parte de um grupo de risco, é importante procurar uma unidade de tratamento para fazer o diagnóstico e tratar a doença o quanto antes”, destaca o médico.
Existem dois exames para fazer o diagnóstico da sífilis, que é o triponêmico e não-triponêmico: um é o teste rápido que fica pronto em 10 minutos; o outro leva cerca de uma semana, devido a logística de entrega do resultado. “A procura é muito alta. Nós agora somos CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), qualquer pessoa que teve uma relação de risco recente, ou há três meses, não importa a data, pode nos procurar para fazer o exame. E o tratamento da sífilis é muito simples e é feito com a aplicação de bezetacil, dependendo do caso com aplicação de até três doses que é feita no própria Unidade de Pronto Atendimento”, destaca o médico.
HIV
De acordo com o médico infectologista José Carlos Costa Junior, a preocupação dos casos de HIV, não somente no município, mas também em todo o país, é com relação ao aumento da doença entre os jovens. “É uma preocupação do Ministério da Saúde, não somente com o aumento da doença entre esse grupo, mas também entre os homossexuais”, ressalta.
Segundo dados do setor de Infectologia, em 2015 foi registrado em Paraíso cerca de 28 casos de HIV; em 2016 o setor registrou cerca de 25 casos e, neste ano, 4 novos casos. “Mas vale lembrar que não são novos diagnósticos, há casos de pacientes que mudam para Paraíso e começam a fazer o acompanhamento junto a nós”, comenta o médico.
Para o médico, os casos em sua maioria estão relacionados a precocidade da vida sexual, da falta de preocupação com a doença e, também, grande parte de pessoas que não tem um parceiro fixo. A Infectologia em Paraíso, hoje acompanha cerca de 172 pacientes para o tratamento da doença, entre esses pacientes, moradores de São Tomás de Aquino, Monte Santo de Minas, Itamogi e Jacuí.
A orientação do Ministério da Saúde, conforme explica o médico, é atingir uma meta 90-90-90, ou seja, ter 90% da população sexualmente ativa testada para o HIV; dos casos positivos 90% recebendo o tratamento e desses, 90% com a carga viral infectada.
“Isso significa que quando se inicia o tratamento com o medicamento para controle o vírus, ele para de se reproduzir e fica indetectável. Todos são tratados independente deste resultado, essa meta é porque com o vírus ficando indetectável, reduz as chances de transmissão além de contribuir para qualidade de saúde desse cidadão”, avalia o especialista.
Conforme ressalta o médico, o Brasil é um modelo no tratamento do HIV. “O paciente não compra esse medicamento, ele é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É distribuído gratuitamente aos soropositivos e é um medicamento que é distribuído no mundo todo para tratamento. No entanto, apesar de sermos essa referência, a prevenção ainda é falha”, completa o médico.