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Antônio Colombaroli: Uma vida de muitos feitos e trabalho

Por: Heloisa Rocha Aguieiras | Categoria: Cidades | 02-04-2017 11:04 | 2625
“Seu” Antônio Colombaroli chega do trabalho e geralmente lancha com os netos
“Seu” Antônio Colombaroli chega do trabalho e geralmente lancha com os netos Foto: Heloisa Rocha Aguieiras

“Seu” Antônio Colombaroli é dono de olhos azuis translúcidos, que chamam a atenção pela beleza.  No alto de seus 88 anos esses olhos muito já viram  e guardam a vivacidade de uma criança. Pai, avô e bisavô, trabalha no próprio negócio de refrigeração até hoje e vive cercado pela família animada, descentes de italianos, com antepassados que chegaram a São Sebastião do Paraíso como muitos, para trabalhar com café e ajudar a fazer a cidade.



Jornal do Sudoeste – Como eram seus pais?
Antônio Colombaroli – Meu pai chama-se Segundo Colombaroli e minha mãe Rosa Stevanato Colo-baroli. Ele veio para o Brasil na época da imigração italiana e se conheceram aqui no Brasil. Ela estava com uns 15 anos e ele com 18 quando resolveram casar e tiveram dez filhos. Ela chegou a trabalhar como pajem do comendador João Pio de Figueiredo Westin, o Zizito Figueiredo. Após o casamento, meu pai comprou uma chácara, localizada vizinha às terras da família Cantieri e foi trabalhar por conta própria. Nesse tempo, os Cantieri começaram a trabalhar na extração de pedras e meu irmão, o Pedro, foi trabalhar com eles, depois foi meu pai e ainda meu outro irmão, Domingos. A extração era feita tudo manualmente, na picareta. Eu lembro que as pedras desciam em carroças, puxadas por animais, contornando a serrinha onde a gente morava.



Jornal do Sudoeste – Como foi viver entre nove irmãos?
Antônio Colombaroli – Era protegido de minha mãe, porque era o caçula. Ela nunca foi de bater na gente. Meu pai faleceu muito cedo, com 55 anos. À época ele criava porco e pediu para meu irmão mais velho, o Vitório, que fosse ajudá-lo a matar um animal e quando eles estavam matando o bicho, meu pai teve um infarto. Alguns de meus irmãos, os mais velhos, já eram casados e eu, uma criança de sete anos. Como meu pai ainda devia um pouco das terras, minha mãe passou a vender verdura e colocava os filhos menores para sair com a cesta, para ajudá-la. Com sete anos eu já vendia jabuticaba, manga, verdura. Eu estudava pela manhã e à tarde tinha que ajudar a vender o que a gente produzia naquela época, a fim de terminar de pagar as terras.



Jornal do Sudoeste – O senhor, então, começou a trabalhar muito cedo?
Antônio Colombaroli – O primeiro emprego oficial foi aos 13 anos, na marcenaria do meu irmão. Terminei o quarto ano primário e não tinha como continuar a estudar, então fui trabalhar. Aprendi marcenaria com outro irmão que também trabalhava conosco, Vitório, que era muito rigoroso e me ensinou a fazer um serviço perfeito. Se a gente atrasava um pouquinho, ele nos mostrava o relógio. Por isso sou uma pessoa muito pontual, me acostumei com isso, fiquei disciplinado. Sei tudo de marcenaria; fazíamos dormitórios, jogos de estofados. Era apenas um menino quando pegávamos dez dúzias de cadeira para fazer. Olhávamos o caminhão que chegava com os pedaços pequenos de madeira para descarregar e fazer as cadeiras, dava até desânimo.



Jornal do Sudoeste – A casa onde mora sua família hoje também tem história?
Antônio Colombaroli – Tem sim. Depois que trabalhei como marceneiro, fui trabalhar na instalação de energia elétrica rural, feita com roda d´água e um dínamo (motor) para puxar a água e gerar a energia. Aprendi praticamente sozinho. Uma instalação dava conta de acender de seis a sete lâmpadas em uma casa e eram pouquíssimas as propriedades que tinham esse equipamento. Como naquela época quase não tinha energia elétrica nas roças, ia para as fazendas, fazendo as instalações. Há muito tempo fiz a instalação no sítio onde minha filha mora atualmente e até hoje existe a roda d´água lá. Trabalhei em toda a região como Cássia, Itaú de Minas, Santo Antônio da Alegria. Rocinha. Trabalhei muito.



Jornal do Sudoeste – E quando o senhor se casou?
Antônio Colombaroli – Casei aos 26 anos com a Elídia Marques. A cerimônia foi feita pelo Monsenhor Mancini, que era muito meu amigo, e usou uma batina nova, feita especialmente para a cerimônia. Conheci minha esposa quando fui fazer uma instalação de energia elétrica na propriedade da avó dela. Namoramos e casamos em três anos. Tivemos quatro filhos Antônio Carlos, Maria Cristina, Regina e a Paula. São dez netos e sete bisnetos e está vindo mais um. 



Jornal do Sudoeste – De que maneira o senhor passou a trabalhar com consertos de linha branca, como geladeira e máquinas de lavar roupa?
Antônio Colombaroli - Na época em que casei, fui fazer uma instalação elétrica em uma propriedade a pedido do Atílio Aloise, pai do ex-prefeito Reminho. Ele tinha uma loja de refrigeração e material elétrico, juntamente com um sócio, o José Guide. Ele me indicou para fazer uma instalação em uma propriedade de um cliente; na ocasião disse que o sócio estava deixando a empresa, por isso precisava de outro e me convidou. Fui para São Paulo fazer um curso sobre refrigeração, na General Motors, que era representante da marca de geladeira “Frigidaire”, da qual Atílio era concessionária da marca em toda a região. Poucos tinham acesso à geladeira, era muito caro e as pessoas diziam que fazia mal. Trabalhei dez anos com ele.



Jornal do Sudoeste – Foi quando o senhor resolveu trabalhar com conta própria?
Antônio Colombaroli – O Atílio Aloise vendeu a loja dele para o Lar Moderno, e fiquei trabalhando lá ainda por tempo. Depois achei que era hora de ter meu negócio. Fiz minhas economias, comprei o terreno, fiz a casa e quando casei, não precisei pagar aluguel. Moramos nessa casa por muito tempo; fui reformando e aumentando ao longo dos anos. Foi também onde abri minha oficina de refrigeração e onde ela está até hoje. Mudamos há cerca de nove anos para a casa que foi de meu irmão Domingos. Quando ele faleceu, deixou de herança para a Marise Colombaroli, para a Rose e para a Claudete, que vivem no Paraná. Quando a Marise faleceu, a casa ficou para as filhas dela, que também não moram em Paraíso e elas resolveram vender. Quis comprar por ter sido a casa de meu irmão. O imóvel quase não foi modificado nesse tempo. A chácara onde nasci, na região rural da Ressaca, continua na família e agora tem meus filhos e netos morando lá, que já construíram suas casas. Somos todos unidos.



Jornal do Sudoeste – O senhor tem religião?
Antônio Colombaroli – Sempre fui muito católico e o Monsenhor Mancini era muito apegado a mim, tínhamos uma amizade muito forte. Ele tinha muito medo de ficar à noite sozinho em casa e os alunos da Escola São Sebastião sempre pregavam uma peça nele, desligando a energia da casa. Ele ficava apavorado e me ligava a hora que fosse, para que eu fosse ver o que estava acontecendo, eu sempre ia tranquilizá-lo.   Nessa época, o Monsenhor coordenava o grupo dos Vicentinos e eu era um. Foi quando precisaram de uma pessoa para cuidar do Asilo São Vicente de Paulo.



Jornal do Sudoeste – E o senhor aceitou esse desafio?
Antônio Colombaroli – Sim, aceitei, porque o asilo estava passando por uma situação de dificuldade extrema, não existiam recursos. Era antes uma Vila Vicentina, com casinhas, e pavilhão da ala masculina, outro da ala feminina, a cozinha e o refeitório, moravam em torno de 95 idosos. Como não existiam outras instituições, aqueles com problemas de alcoolismo, ou abandonados pela família, acabavam indo viver no asilo, que era o abrigo de todos. O dia que eu entrei lá para tomar conta, a funcionária me avisou: “Tem mantimentos somente para fazer o almoço, não há nada para o jantar”. Meu primeiro passo foi no Mário Giacchero, que tinha uma máquina de beneficiar arroz, e expliquei a situação. Disse que precisava de cinco sacos de arroz, mas não tinha dinheiro para pagar naquele momento, prometendo ser o responsável pela conta e ele arrumou o arroz.



Jornal do Sudoeste – Ou seja, foi realmente um desafio?
Antônio Colombaroli – Sim. Logo depois convidei mais dois amigos vicentinos, depois que parávamos em nossos serviços, pegava o meu Fusquinha e íamos aos sítios perto da cidade e aos domingos, íamos às propriedade mais longe. Explicava que estávamos fazendo “campanha das galinhas” para comprar remédios e mantimentos para o asilo. As galinhas não eram para os idosos comerem, e sim para vendermos. Fiquei 17 anos dirigindo o asilo. O pessoal da roça era muito solidário e doavam sacas de arroz, feijão, café, milho, davam legumes, pedaços de carnes, leitoas, leite e lenha para o fogão. Foi melhorando, o próprio asilo passou a criar porco e a fazer horta. Formalizaram a doação de leite, conseguimos por meio da Coolapa, os produtores permitiam que tiravam uma quantidade de leite cada um e, acabava tendo 40 litros de leite no asilo.



Jornal do Sudoeste – A sua gestão foi muito boa, então.
Antônio Colombaroli – Mais interessante foi o meu ingresso no asilo. A Sociedade Vicentina e formava as “conferências”, que eram grupos de homens vicentinos, que cuidavam dos pobres que não eram do asilo. Eram os chamados “pobres envergonhados”, porque tinha vergonha de pedir e passavam fome, como em casos de famílias quando o marido ficava doente, não podia mais trabalhar e a mulher, carregada de filhos, também não conseguia trabalhar e passavam fome. Assim os vicentinos cuidavam mesmo dos carentes. O asilo sempre foi muito conhecido como o lugar que serve para o fim das pessoas, daqueles que ficaram sem suas famílias, os abandonados que perdem autonomia.



Jornal do Sudoeste – É verdade que o senhor também ganhou outra atividade por meio do asilo?
Antônio Colombaroli – Sim. Eu estava servindo o almoço no asilo, quando o delegado Régis Ferreira chegou e viu a fartura e comentou que a pessoa que fornecia estava doente e iria parar de fazer a comida para a cadeia e me propôs que fornecêssemos. Combinei com a minha mulher e passamos a fornecer a comida aos presos e essa atividade durou 22 anos. Era tudo feito na chácara. Nas datas festivas, caprichávamos no cardápio. E eu, desde sempre, fazia a massa caseira, como molho de tomate e faço até hoje. A situação era precária, ninguém ganhava dinheiro, porque pagavam ao mês, em uma época que a inflação era galopante, o estado falido levava quatro meses para pagar. Fomos heróis. Eu continuava na oficina de refrigeração, dava uma assistência pela manhã à minha equipe e depois continuava meu trabalho. 



Jornal do Sudoeste – O que o senhor faz nas horas vagas?
Antônio Colombaroli – Leio. Não pude estudar e cheguei a ter vergonhar de ler nas missas e reuniões da igreja porque não lia bem. Aí, ganhei um livro, engavetei e depois de um tempo resolvi ler, era do Augusto Cury. Assim, me empolguei e já li todos os títulos desse autor. Sou hoje ministro da eucaristia e trabalho todos os dias.