Maria Márcia da Silva Osório, professora aposentada e grande incentivadora dos projetos sociais em execução em São Tomás. Lá está ela, sempre, na Associação Unidos Venceremos com seus sonhos seus projetos para crianças e adolescentes de sua terra natal. Alguns realizados outros não, mas sua filosofia na área social é de que tudo vale a pena desde que haja parcerias com pessoas comprometidas e do bem. Esposa de Fábio dos Reis Osório, mãe de Stella, Isamara e avó muito presente de Maria Fernanda. Filha de José Bernardes da Silva e Ana Inácia da Silva. Como sempre diz dona Tiana Vieira, sua mãe do amor. Combativa, não tem medo de levantar questionamentos democráticos em favor das causas sociais na comunidade aquinense. Acredita que ter esperança é essencial nesses, “tempos difíceis”.
Jornal do Sudoeste - Como surgiu o interesse pelos projetos sociais?
Maria Marcia da Silva Osório - Porque durante 32 anos de minha vida, convivi com crianças e adolescentes. Fui alfabetizadora durante 10 anos e outros 22 com adolescentes. Dei aulas de Inglês, Português e Literatura. Nunca consegui conviver bem com injustiça social e desigualdades e a sala de aula é o termômetro indicador de tudo isso. Sentia muita vontade de resolver problemas dessa natureza, mas nem sempre era possível. Eu sempre tive em mente que quando aposentasse, dedicaria parte do meu tempo a esse tipo de trabalho. O trabalho social, por si só, não garante nem é solução para todas as questões, mas minimiza e reduz as diferenças.
Jornal do Sudoeste - Como foi sua infância?
Maria Marcia da Silva Osório - Minha família era de origem muito pobre. Posso dizer então, que tive uma infância complicada, difícil mesmo. Perdi meu pai de sete para oito anos. Sou a penúltima de cinco irmãos. Quando meu pai morreu, minha mãe sentiu-se incapaz de criar os filhos aí nos separamos e cada um “seguiu seu rumo”. Nesse momento de minha vida fui acolhida pela dona Sebastiana Ozório Vieira minha “mãe do coração”, meu porto seguro.
Jornal do Sudoeste - A adolescência foi diferente?
Marcia Maria da Silva Osório - Sim, foi de conquistas, de desafios vencidos. Aprendi a trabalhar e amava estudar. A escola e os professores do meu tempo promoveram a minha autoestima. Sentia que era muito querida por todos eles. Quanta saudade! Cultivei amigos, tinha lazer saudável. Participava dos eventos de datas comemorativas promovidas pela professora Lira de Matos. Aprendi a gostar de “boa música” com meu querido professor Olívio Silva, nas aulas de canto. Ele me apresentou pela primeira vez a “Canção da Alegria”, a 9ª Sinfonia de Beethoven. O gosto pela leitura fazia e faz parte de minha vida.
Jornal do Sudoeste - A vocação para ser professora apareceu quando em sua vida?
Maria Marcia da Silva Osório - Minha vocação de mestre aconteceu logo no 1º ano da escola. Nasceu da admiração que tinha e tenho até hoje pela professora que me alfabetizou: a doce, querida e inesquecível dona Celeida Cândida Silva Alvarenga. Depois vieram outros. Dona Maria Magda de Lima Silveira que era extremamente enérgica, mas plantou em mim o senso da justiça. Ela tratava de maneira igual a todos sem se importar com condições socioeconômicas. Não posso esquecer de dona Laurinda Gomes da Silva Pereira (Lola) que era “todo coração”. No dia do diploma de 4ª série foi taxativa quando disse, não pare de estudar. Fui cursar o “ginásio”. Os professores sem exceção tiveram fundamental importância na minha formação, mas quem me inspirou e influenciou minha decisão e escolha profissional foi dona Ana de Lima Souza, mulher de cultura imensurável que me ensinou a enxergar a vida e a ler nas entrelinhas. E o Monsenhor Benedito José da Silva, homem que sabia combinar de um jeito único, cultura e humildade, sabedoria e simplicidade. Cursei também a Faculdade de Filosofia de Passos. Sinceramente, eu nunca imaginei ter outra profissão, se não professora.
Jornal do Sudoeste - O que é para você ser professor?
Maria Marcia da Silva Osório - Ser professor é antes de qualquer coisa gostar de aprender. Acredito que a gente só é professor enquanto puder aprender, nossa profissão se baseia na mudança. Alunos são pessoas que crescem e mudam diante dos nossos olhos.
Jornal do Sudoeste - Como você vê a ajuda aos projetos sociais em São Tomás?
Maria Marcia da Silva Osório - Tenho recebido muito apoio da sociedade civil para a Associação Unidos Venceremos. Pessoas que trazem consigo o espírito de ajuda e responsabilidade social e tenho muito que agradecer a elas. Esse apoio também acontece de outras formas que não são de natureza financeira, mas de grande importância também. Como dizia Tancredo Neves, “Nada poderei, senão aquilo que pudermos fazer juntos”. Quanto ao poder público, não quero aqui fazer referência a nenhum gestor, em específico. Só acho necessário e urgente, estabelecer parcerias. Implementar políticas públicas para reafirmar e até mesmo ampliar a execução de projetos. É necessário se conscientizar que crianças não são vítimas de “assistencialismo”, elas têm direito à “assistência”. A justiça social precisa de um lugar para acontecer e esse lugar deve ser a comunidade.
Jornal do Sudoeste - E a família, a escola, a religião, o lazer, e práticas esportivas na formação do jovem?
Maria Marcia da Silva Osório - A família é o alicerce, onde os filhos devem receber dos pais amor incondicional e um conjunto de valores pelos quais devem pautar a vida. Escola é o espaço de transformação e a continuidade de formação dos cidadãos do futuro. Sempre disse aos meus alunos e filhas que depois de “nossa casa o melhor lugar para se frequentar se chama Escola. O lazer é algo que precisa ser levado a sério por todos da sociedade. As práticas esportivas refrigeram o corpo e a mente, proporcionam geralmente autoestima e autoconfiança. A religião é a morada do amor, é acontecimento de uma vida inteira.
Jornal do Sudoeste - Esposo, filhas e neta. Fale um pouco deles.
Maria Marcia da Silva Osório - Fabinho, querido esposo e companheiro. Posso contar com ele para tudo. Pai amoroso e avô exemplar. As minhas filhas e neta são a minha melhor herança, minha riqueza, a razão de tudo. Sou muito feliz e agradecida pela linda família que tenho.
Jornal do Sudoeste - E morar em São Tomás?
Maria Marcia Osório - Gosto muito da terra em que nasci. Aqui construí a minha história. São Tomás hoje é bem diferente do meu tempo de jovem, quando as serenatas quebravam o silêncio das madrugadas, dos bailes no Clube Recreativo, do sossego das janelas abertas, mas ainda tem seus encantos de cidade pequena do interior onde as pessoas se cumprimentam com o bom dia, boa tarde, boa noite. Uma grande família e daqui não irei embora. Amo São Tomás de Aquino.
Jornal do Sudeste – Deixe uma mensagem para os nossos leitores
Maria Marcia da Silva Osório - Tenho aprendido muito e tentado colocar em prática os ensinamentos do padre Fábio de Melo. Com sabedoria ele nos mostra a importância da esperança e da própria vida para cada pessoa. “Esse é o comprometimento que poderá fazer a diferença. Quanto mais estivermos comprometidos com a vida, maior será nossa possibilidade de diminuir os efeitos do sofrimento dos nossos dias. Diante da tragédia, podemos nos desesperar ou nos encher de novos motivos para o recomeço. Este é o código que diferencia um ser humano de todos os outros: a capacidade de recomeçar”. Esta é a mensagem que quero deixar para todos. A importância de recomeçar alicerçada na fé e na esperança.