Leila Yunes foi empossada na última semana e passou ocupar a Cadeira de número 14 na Academia Paraisense de Cultura (APC), que pertencia à saudosa acadêmica, Dona Antonieta Morato Símaro Campos. Carrega no sorriso a alegria e paz de uma vida construída e vivida com muito amor. A alegria e o riso inconfundível só não são mais bonitos que a sua percepção pela vida e capacidade de enxergar a beleza que existe em cada ser humano. Paraisense de coração, Leila é natural de Guaxupé, onde viveu até os 18 anos, antes de se mudar para Campinas em busca de melhores oportunidades. Filha de Terezinha Dib Yunes e de Tuffi David Yunes é a primogênita de quatro irmãos, Dácio e David, que hoje moram em Paraíso, e o mais novo Juliano, que mora em Manaus. É com essa energia que a relações públicas aposentada e hoje membro efetivo da APC conta um pouco da sua trajetória: da infância ao seu retorno à São Sebastião do Paraíso, terra de seus avós e parentes maternos.
Jornal do Sudoeste – Você foi muito jovem morar em Campinas e viveu grande parte da sua vida por lá. Por que decidiu retornar, mais precisamente para Paraíso?
Leila Yunes – Eu sou natural de Guaxupé, mas fui muito jovem morar em Campinas, com 18 para 19 anos, porque a minha cidade natal era muito pequena e eu não tinha muito estímulo para estudar, por isso resolvi deixar meus pais e tentar a vida em Campinas e nunca mais saí de lá. Trabalhei na Cetesb (Companhia Ambiental Do Estado De São Paulo) por 33 anos e me aposentei. Isso aconteceu em novembro de 2011 e em março de 2012 eu já estava aqui. Devido à violência em Campinas, onde fui assaltada três vezes, e em uma dessas vezes durante visita de uma tia minha daqui de Paraíso, eu resolvi vir embora para cá, por medo da minha mãe também sofrer algum tipo de violência. Meu marido já havia falecido e minha mãe foi morar comigo porque tinha começado a sofrer de Alzheimer. Eu vim para Paraíso passar uma temporada, arrumei uma casa e voltei com a minha mãe para cá. Ela já estava bem debilitada, mas eu tive a oportunidade de cuidar dela por três anos, foi lindo e eu agradeço a Deus por isso.
Jornal do Sudoeste – Ela veio a falecer...
Leila Yunes – Sim, há cerca de dois anos. Mas eu comecei a sair, não quis ficar curtindo uma depressão, isso não era favorável para mim e nunca foi do meu perfil; então eu procurei a APC, por meio da dona Dirce Brigagão, e através da própria dona Antonieta, que declamou uma poesia da Maria Rita Preto Miranda, nossa atual presidente e que me deu a maior força para eu estar dentro da ACP hoje. A Academia pra mim é uma riqueza e, talvez, os paraisenses ainda não conheçam essa riqueza que tem no município e eu pude verificar; a história de Paraíso está lá, são muitos talentos: escritores, poetas, pintores, cantores, músicos, artistas plásticos. Eu fico muito feliz de fazer parte dela. Quando me chamaram para ser acadêmica honorária, a felicidade foi imensa, e eu quis participar mais e entrei com o projeto “conhecendo a Academia Paraisense de Cultura”, levando alunos da 6ª série para dentro da ACP para conhecer o que há em São Sebastião do Paraíso, onde eles pudessem ter acesso e descobrir a vida de pessoas que escreveram e amaram nossa Paraíso.
Jornal do Sudoeste – Agora você é uma Acadêmica Efetiva...
Leila Yunes – Sim, estou ocupando a Cadeira de número 14, que era da acadêmica Antonieta Campos, e a Dalila Cruvinel agora ocupa a Cadeira de numero 10 que era do Lucas Bertucca, outra sumidade da nossa cidade. Falo por mim e por ela também, porque estamos muito felizes de estarmos dentro da Academia. Na minha posse eu disse que eu voltei para casa, não para a minha terra natal, que é muito próxima, mas aqui também é minha casa. Eu passei aqui muito tempo da minha infância e adolescência. Não pretendo voltar mais para Campinas, apenas a passeio porque também tenho minhas amigas lá, que vieram para Paraíso e amaram a nossa terra.
Jornal do Sudoeste – Você tem boas recordações da sua infância em Paraíso?
Leila Yunes – Sim, minha infância foi maravilhosa. Quando eu vinha passear na casa da minha avó, eu fugia com uma amiga para ir ao circo; entrávamos por debaixo da lona para assistir as apresentações. Eu também ia à Liga, que tinha Carnaval e era muito bom; no Clube Paraisense também, que tinha carnavais maravilhosos. E em Guaxupé, também foi uma infância maravilhosa, eu tenho uma lembrança muito viva da florada de maravilhas, aquelas flores todas coloridas que enchiam as calçadas e atraíam as borboletas, é uma lembrança que eu guardo muito comigo. Foi infância com seus altos e baixos, meus pais eram muito simples, mas era uma infância de verdade; jogávamos queimada na rua... O primeiro filme que eu assisti com meu pai foi Django, na matinê em Guaxupé. São lembranças muito gostosas.
Jornal do Sudoeste – E a Leila estudante, como era?
Leila Yunes - Eu nunca fui uma aluna nota 10 (risos), eu estudei em colégio de freiras, primeiro no grupo escolar Barão de Guaxupé e depois foi para o colégio das irmãs, o Imaculada Conceição. Na chamada, e sempre que encontrávamos com a irmã dizíamos “Ave Maria puríssima”, mas na hora de entregar os textos e as atividades eu nunca fui nota 10. A minha mãe era sempre chamada no colégio e as irmãs diziam a ela: “dona Terezinha, a senhora ‘aperta’ daí, que nós vamos ‘apertar’ daqui para ela não repetir de ano”. Quando eu fui para Campinas e vi a dificuldade de conseguir um emprego sem estudo, eu realmente comecei a estudar. Prestei vestibular na área de Relações Públicas, porque eu vi que meu caminho seria muito pequeno se eu não tivesse estudado e consegui ingressar na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em Campinas.
Jornal do Sudoeste – Seus pais ficaram felizes?
Leila Yunes – Quando eles ficaram sabendo que eu tinha passado no vestibular e que eu iria estudar, para eles foi uma alegria imensa, uma glória, porque tudo o que um pai e uma mãe querem, o presente maior que eles podem deixar, é o estudo para seus filhos. Depois que eu consegui me formar, e já estava dentro da Cetesb, eu consegui uma promoção, mas ainda para minha promoção eu tive que morar quatro anos na Baixa Santista. Não foi fácil, se as pessoas acreditam que tudo acontece de repente, não acontece; você tem que trabalhar para isso e o trabalho que você faz é muito importante, isso nos dignifica. Com isso, permaneci na Cetesb por 33 anos na área de Relações Públicas e me aposentei.
Jornal do Sudoeste – Você também trabalhou com questões ambientais?
Leila Yunes – Sim. Eu trabalhei muito com a educação ambiental no Vale do Ribeira, na Baixada Santista, Campinas e, por último na Cetesb de Paulínia, com questões voltadas para comunidades afetadas por problemas ambientais e também educação ambiental. Eu gostaria também de trabalhar um pouco com a questão ambiental em Paraíso porque quanto ao lixo, também é muito complicada no município. Eu já vi a nossa Paraíso muito mais limpa, agora está deixando a desejar. É uma questão muito ligada a cidadania. Temos pessoas de fora que você sabe que se não tem amor pela terra, ela não se incomoda, ele vai jogar lixo no chão. O mais importante é você ter respeito pelo município. Felizmente nós temos em Paraíso o que muitos municípios não têm que é a coleta regular diária e a coleta seletiva que teria que ter um espaço maior.
Jornal do Sudoeste – Você também foi casada...
Leila Yunes – Sim, meu marido, o Walter, era empresário, de Campinas, ele faleceu já tem 12 anos. Ficamos casados 18 anos, ele se foi, se foi muito jovem... me deixou, porque a gente tinha feito planos de ficar velhinhos juntos. Mas eu estou aqui. Conhecemo-nos em um baile Havaiano em Campinas e foi lindo. Foi muita bonita nossa relação, o Walter foi a minha linda história de amor. Ele entrou na minha vida, não somente para me ajudar, mas ajudou também minha família, meus irmãos trabalharam com ele. Foram 18 anos que eu vivi uma linda história de amor, viajamos muito, fomos para o exterior, mas agora ele está lá no cantinho da saudade.
Jornal do Sudoeste – Qual o balanço você faz da sua vida hoje?
Leila Yunes – Se eu fosse dar uma nota pela minha vida de 0 a 10, seria 11. Porque eu estou muito feliz, e isso é de dentro de mim. Hoje eu sou uma garota de 60 anos. É maravilhoso, se passaram todos esses anos e eu nem vi. Eu pedi para minha sobrinha fazer uma apresentação na minha posse na ACP, a Rebeca Yunes, e ela cantou lindamente uma canção chamada “Trem-bala”; a vida nada mais é do que um trem-bala, ela passa e você nem vê... se você não segura, ela vai embora. Já sofri grandes perdas na minha vida, mas isso faz parte do crescimento. Infelizmente, quando a dor da perda vem, é difícil recomeçar. Pra mim foi difícil, mas não foi tanto assim porque eu pude fazer tudo o que estava ao meu alcance para essas pessoas que eu amava. Faça tudo que você precisa fazer por quem ama agora, em vida. Saiba cuidar delas, todas, eu digo todas as pessoas. Eu me senti muito acolhida em Paraíso e abraçada por todos dessa terra, pela APC. Estou muito feliz, muito feliz mesmo.