Se fosse primeiro de abril eu iria pensar que se tratava de uma pegadinha de mau gosto. Mas era quarta-feira, 12. A Fórmula 1 ainda respirava aliviada com as disputas e ultrapassagens do ótimo GP da China, bem diferente da corrida insossa da Austrália, e já se preparava para o GP do Bahrein com largada amanhã, ao meio dia, quando piscou na tela do computador a notícia bombástica de que Fernando Alonso vai correr as 500 Milhas de Indianápolis, abrindo mão de disputar o GP de Mônaco no mesmo dia, 28 de maio.
E para viabilizar sua participação, a McLaren está dando todo o aval e vai inscrever um carro da equipe Andretti para Alonso correr. Assim, ainda que apenas com o nome, a McLaren retorna a Indianápolis onde venceu três vezes as 500 Milhas nos anos 1970.
Chega a ser estranho essa decisão num mundo tão fechado como o da Fórmula 1 em que a maioria das equipes evitam liberar seus pilotos para outros eventos de riscos, principalmente depois de algumas experiências desagradáveis, como o acidente que pôs fim à promissora carreira de Robert Kubica na categoria, depois de um grave acidente numa prova de rali em 2011. No final de janeiro, Pascal Wehrlein se feriu com certa gravidade na Corrida dos Campeões, uma espécie de confraternização dos pilotos, mas que ninguém entra pra brincar. O alemão da Sauber perdeu os GPs da Austrália e da China e está retornando neste final de semana, no Bahrein.
O fim da “Era-Ecclestone” também pode ter facilitado a decisão de Alonso e da McLaren. Tenho minhas dúvidas se ainda estivesse no poder, Bernie Ecclestone permitiria a equipe de inscrever um carro para Alonso correr as 500 Milhas de Indianápolis no mesmo final de semana do GP de Mônaco. O mesmo vale para Ron Dennis, agora afastado do comando da McLaren, se daria ao luxo de fazer a vontade do piloto. Certamente há interesses por trás desse projeto e a filosofia de trabalho dos dirigentes do Grupo Liberty, novos donos da Fórmula 1, bem diferente da de Ecclestone, já pode ser sentida.
Eu vejo tudo isso como uma tentativa da McLaren segurar Alonso na Fórmula 1 até o final do ano depois que começou a ganhar força os boatos de que ele não terminaria o campeonato, insatisfeito com os inúmeros problemas da McLaren e da Honda; ou até mesmo uma jogada da equipe em oferecer como moeda de troca para renovação de contrato, além dos muitos milhões de euros de salários, possibilidades de participar de outros eventos importantes do automobilismo.
Alonso traçou como meta para a carreira conquistar a Tríplice Coroa do automobilismo que é vencer o GP de Mônaco que ele já ganhou duas vezes, as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans.
Em 2015 o espanhol foi a Le Mans acompanhar mais famosa prova automobilística de longa duração do planeta e ficou encantado com o que viu, ainda mais que um dos pilotos do trio vencedor, da Porsche, era Nico Hulkenberg, da Force India, hoje na Renault.
Alonso ainda é visto como um dos pilotos mais completos em atividade na Fórmula 1, mas não vence um Mundial desde 2006. Muito disso tem a ver com as decisões erradas que tomou desde que trocou a Renault pela McLaren em 2007, depois no retorno para a Renault em 2008, no clima ruim que criou na Ferrari e no retorno à McLaren, em 2014, quando a equipe já estava numa espiral em declínio. Apesar da insatisfação com a falta de competitividade da equipe, Alonso é um profissional exemplar. Domingo passado ele disse ter operado dois milagres em duas corridas ao se manter no top 10 na Austrália e na China enquanto o carro aguentou.
Se a decisão de correr as 500 Milhas de Indianápolis será mais uma equivocada ou não, saberemos apenas no dia 28 de maio. Mas desde já o anúncio foi um golaço de Alonso.
TIRA TEIMA
Sebastian Vettel e Lewis Hamilton chegam ao Bahrein, empatados com 43 pontos. Uma vitória e um 2º lugar para cada. O GP da China registrou 54 ultrapassagens. Ficou mais difícil de ultrapassar com o novo regulamento e por isso mesmo elas agora serão mais valorizadas porque vão exigir muito da coragem e do talento do piloto. Que o diga Vettel que tocou rodas com Daniel Ricciardo numa disputa pela 3ª posição, ou Max Verstappen que largou em 16º por causa de um problema de motor na classificação e só na primeira volta, com asfalto úmido, deixou nove carros para trás e terminou a prova em 3º.