Ele partiu um dia, para o sono sem sonhos, na amorável ternura de um adeus. No seu perfil de humanista, escritor, médico e poeta, não ingressou no festival de ilusões, mas deixou no mural do tempo a marca indelével da saudade...
Levou para a sepultura, uma palavra de respeito e a leve gratidão do esquecimento, que ele mesmo profetizou nos seus emotivos e candentes versos, porque sabia que as nuvens, escondem uma estrela, mas elas passam, e as estrelas, ficam... e ele ficou: na humildade que é a coragem sem arrogância, ficou na saudade que é a presença dos ausentes, por isso, devemos honrá-lo com as lembranças, e não com as lágrimas.
Médico: podendo curar, ele curava, não podendo curar, ele aliviava, não podendo aliviar, ele consolava e vestia de branco, porque branco é a cor da Paz. Romântico, mesmo no outono de sua vida, viveu numa eterna primavera e o soneto de sua autoria “Solitude” é uma grande expressão de amor...inesquecível...
Solitude
O nosso amor fluiu como um ribeiro
que mostra o céu nas suas águas mansas:
profundo como o sono derradeiro,
suave como o riso das crianças.
O tempo, em seu labor, fugiu ligeiro
que nem sequer notei suas mudanças:
levando-te de mim, levou primeiro
todas as minhas ternas esperanças.
Agora no abandono sem disfarce
relembro de Francesca o atroz martírio:
“nessum magior dolor che ricordarse”...
Sem ti a vida é incolor e oca
e na alucinação do meu delírio
beijo no ar que aspiro, a tua boca.