Em junho de 1917, décadas antes da consolidação das leis trabalhistas no Brasil, cerca de 400 operários - em sua maioria mulheres - da fábrica têxtil Cotonifício Crespi na Mooca, em São Paulo, paralisaram suas atividades.
Eles pediam, entre outras coisas, aumento de salários e redução das jornadas de trabalho, que até então não eram garantidos por lei. Em algumas semanas, a greve se espalharia por diversos setores da economia, por todo o Estado de São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Era a primeira "greve geral" no país.
Não foi uma greve anunciada e patrocinada. Ela começa com questões específicas dos setores que vão aderindo ao movimento grevista, alguns por solidariedade. Depois é que a pauta passou a incluir desde reivindicações relacionadas ao trabalho até reivindicações de cunho político - libertação dos presos do movimento, por exemplo. Questões como salário, direitos trabalhistas e até assédio sexual se misturaram no caldeirão ideológico daquela época.
Essa greve foi importante porque mostra a conexão do Brasil com o resto do mundo.
Naquele ano, greves como aquela ocorreram em diversos países. Ideologias como o anarquismo e o socialismo marxista, que chegaram a São Paulo principalmente pelos imigrantes italianos, tiveram um papel importante na organização do movimento. Por causa da Rússia, eles tinham a ideia de que aquilo poderia levar a uma insurreição dos trabalhadores. Isso não ocorreu, mas a cidade foi tomada. Pela primeira vez isso espantou as elites do país, que começaram a se dar conta de que a questão social urbana era grave e tinha que ser considerada.
100 anos depois, uma greve anunciada exaustivamente e patrocinada por sindicatos preocupados com seus recursos, tem muito menos sucesso e efeitos, com exceção da baderna.
É um movimento acéfalo, sem bandeiras e sem lideranças.
A descrença causada pela corrupção dos nossos "líderes" e a ineficiência de suas atuações, deixou mais letárgicos ainda os brasileiros.
Nem para lutar, nem para mudar, nada nos comove.
Tristes trópicos, triste sina.
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