O professor de anatomia da Universidade Federal de Alfenas, o doutor Wagner Costa Rossi Júnior, esteve em sessão da Câmara de São Sebastião do Paraíso nesta semana onde apresentou o projeto “Ensinando Além da Vida”, que visa divulgar a legislação a respeito da doação de cadáveres para os departamentos de anatomia das universidades com a finalidade de estudo.
O professor apresentou lei criada e aprovada pela Câmara de Alfenas permitindo acesso das universidades as peças cadavéricas localizadas no cemitério municipal. Ele citou o problema de superlotação do cemitério e dificuldade para encontrar ambientes para realizar novos sepultamentos, além de problemas ambientais. Disse que devido à lei, hoje já melhorou muito a situação naquele município.
“Há cerca de um ano e meio estamos viajando pela região para apresentar o projeto ‘Ensinando Além da Vida’, que tem como objetivo mostrar para a população que não trabalha diretamente com a área da saúde, a real necessidade dos cadáveres humanos nos departamentos de anatomia com o objetivo de contribuir da melhor forma possível para a formação de qualquer profissional da área da saúde, seja ele médico, dentista, farmacêutico enfermeiro, enfim, contribuir para que ele tenha uma formação cada vez mais adequada para a sua área de atuação”, disse.
Conforme o professor, o objetivo final é mostrar para a sociedade que existe legislação específica que permite que o cidadão, ainda que por forma altruísta, possa fazer a doação do seu corpo para estudo e pesquisa destinado a formação de alunos dos cursos na área da saúde.
“O que solicitamos é que se houver interesse, que esse projeto possa ser levado para a sociedade mostrando que isso pode ser feito. Não é nada burocrático para que se possa acontecer. Existe uma barreira muito grande enquanto a isso, e nós sabemos, que é uma barreira social, cultural e religiosa”, acrescentou.
O professor resaltou que as universidades públicas viven-ciam um momento de dificuldade financeira até mesmo para que possam realizar suas atividades básicas. Ressaltou a boa estrutura da Unifal e dos laboratórios para estudo, no entanto comentou que o departamento de anatomia tem apenas oito cadáveres para mais de 500 alunos que a universidade recebe semestralmente. Segundo ele, é uma quantidade muito pequena, mas que sem dúvida contribui para a formação técnica desses profissionais.
“A anatomia é uma ciência que funciona como se fosse à alfabetização do profissional da saúde, sem isso a sua formação fica extremamente debilitada. Para isso, o objeto de estudo é o cadáver humano para que esse aluno saiba o que é cada estrutura do corpo humano. As pessoas questionam se não existem alternativas, e existem, são bonecos que representam um cadáver de forma aproximada; é interessante, mas para nós, uma universidade pública, inviável pois o custo é de aproximadamente R$ 35 mil. Não temos condição financeira para isto. Pedagogicamente é interessante, mas financeiramente é inviável e não faz parte da nossa realidade enquanto universidade pública”, justifica.
O professor destacou ainda que mesmo sendo interessante o uso desses bonecos e de toda uma tecnologia que existe para o estudo da anatomia, e que é muito cara, o uso dos cadáveres é importante para a formação do aluno ao lidar com as diferenças anatômicas de pessoas para pessoas. “Tem sido feitas inúmeras descobertas no campo da anatomia, a exemplo de um novo órgão no abdômen humano, graças à possibilidade de ainda se fazer esses estudos com o cadáver humano”, elucida.
Conforme Wagner, existe uma legislação que permite essa doação desde 1992, que regulamenta o recebimento de corpos “não reclamados” e que estabelece que os IMLs podem fazer a doação desses cadáveres, caso não haja a reclamação por eles. Segundo o professor, a partir de 2002 o próprio Código Civil estabeleceu que a qualquer pessoa é permitida a doação do seu corpo ou parte dele (caso haja amputação, por exemplo). Além disto, Wagner ressalta que Alfenas criou uma lei municipal permitindo acesso às peças cadavéricas localizadas no cemitério municipal. Ele citou o problema de superlotação do cemitério e dificuldade para encontra ambiente para realizar novos sepultamentos, além de questões ambientais envolvidas.
Ele citou também que será o primeiro doador para a Unifal e mostrou um termo de intenção de doação assinado por ele e por familiares. Fez comparativo com a doação de órgãos e disse que esse é um projeto que já acontece fora do Brasil há mais de 10 anos.
O vereador Marcelo Morais citou a lei de Alfenas e disse que acredita que esse trabalho de divulgação é um dos grandes trabalhos que tem sido feito na região. O vereador convidou a Casa para que fosse feito um estudo mais amplo sobre esse assunto, ficando a cargo da Comissão de Saúde da Câmara, sob presidência da vereadora Cidinha Cerize, a possibilidade da implementação de uma lei parecida no município.
Cidinha citou a disciplina como base na sua formação como fisioterapeuta e da importância de se ter a “peça” para identificação das diferentes deformidades existentes. Ela parabenizou o professor pela explanação do tema e também propôs o debate da lei para o município.