Todos nós sabemos da capacidade fantástica da mente humana. Temos conhecimento, também, que utilizamos apenas parcialmente de todo seu poder. Apesar de entendermos muito sobre como funciona o cérebro, permanece, ainda, misteriosa e desconhecida a maior parte do processamento e das engrenagens desse precioso e fantástico órgão.
O cérebro define a pessoa. Ele caracteriza o indivíduo. Todas as habilidades, estilos e comportamentos são determinados, consciente ou inconscientemente, por essa poderosa estrutura.
Reflito, às vezes, como desenvolvi não só a capacidade, também a maneira, o estilo do que escrevo. Tem a parte consciente por ter procurado, em minhas leituras, livros que trouxessem uma boa estória, cultura e informação, o que influenciou e caracterizou o que e como procuro escrever. Contudo, as tramas, as ligações entre temas, o ritmo, as divisões dos assuntos são elaborados mais pelo subconsciente. Penso em algo para escrever, naturalmente, entretanto, depois de dar o ponta pé inicial, ponho no piloto automático e a mente vai trabalhando e ditando o que devo escrever.
Uma capacidade mental, que sempre me espanta, é de pensar em alguém e, instantaneamente, essa pessoa está ao telefone ou sendo anunciada sua presença para falar comigo. Como se dá essa comunicação? A pessoa pensando em mim, procurando falar comigo, e minha mente recebendo a transmissão imediatamente antes de estabelecer o contato direto. Suponho ser uma energia física de ondas magnéticas, coisas terrenas, não tendo nada de fenômenos metafísicos.
Outra manifestação do poder mental se apresenta quando programo minha mente a acordar em determinado horário e desperto antes mesmo do alarme do despertador ser acionado.
Eu tenho uma capacidade de me programar para dar uma cochilada por cinco a dez minutos. Deitado ou sentado, concentro-me, determino o quanto desejo apagar, e o cérebro se programa e cumpre o estabelecido. Esses minutos são extremamente reconfortantes, eliminando o sono e o cansaço mental.
Essa capacidade de me programar fez-me passar por um momento deveras interessante.
Viajava de avião para Navegantes, aeroporto de uma pequena cidade ao lado de Itajaí, em Santa Catarina. Esse aeródromo é muito utilizado para quem vai para Blumenau, Brusque, Jaraguá do Sul e Itajaí. Meu destino, nesta viagem, era Jaraguá do Sul e um amigo aguardava-me para me levar de carro para esta cidade.
Assim que terminei meu lanche servido pelas aeromoças, o comandante anunciou que estávamos nos aproximando de Navegantes com tempo bom e em dez minutos iniciaria os procedimentos de descida.
Ao ouvir do comandante que teríamos dez minutos para aterrizar, acomodei-me na poltrona e pensei: “Vou dar uma cochilada e assim que o pneu do trem de pouso tocar o solo da pista, acordo”.
Pensado e feito, quando meu cérebro detectou o impacto do avião na pista do aeroporto, minha mente despertou. Aos poucos fui espantando o sono, determinado a abrir os olhos assim que a aeronave taxiasse e parasse no local de desembarque.
Despertando, fui percebendo um burburinho entre os passageiros. Ao abrir os olhos, notei todos em pé no corredor conversando uns com os outros. Pensei: “Que coisa estranha, todos se conversando, agitados”. Mas não dei tratos à bola e ignorei.
Ao descer do avião, já na escada – não tinha fingers, tínhamos que caminhar pela pista – olhei em direção do prédio do aeroporto e fiquei admirado, pensando em como fazia tempo que eu não voava para Navegantes, tanto que tinham reformado e construído uma edificação maior. Ao entrar no edifício notei uma enorme esteira para a retirada das malas. Mais uma estupefação, pois, afinal, sabia que não era tanta gente que utilizava esse destino.
Intrigado, entrei no saguão e fiquei mais pasmo ainda: “Nossa como cresceu esse aeroporto!”, pensei com meus botões.
Inesperadamente, aparece em minha frente um conhecido, gerente de uma grande indústria têxtil de Brusque, que tinha acabado de descer do avião. Heleno era seu nome.
Depois de nos cumprimentar efusivamente, comentei com ele:
— Heleno, estou meio espantado: em que aeroporto nós estamos? É o de Navegantes?
— Pedro, você chegou nesse voo? perguntou-me espantado.
Após ouvir minha afirmativa, rindo às gargalhadas, perguntou-me:
— Você não viu o que aconteceu conosco?
— Aconteceu o que? Vou confessar: estava dormindo e só acordei quando o avião aterrizou.
Rindo mais ainda, ele me relatou que o vôo tinha sido desviado para Florianópolis, pois ao se aproximar de Navegan-tes, o aeroporto foi encoberto de forma repentina e rápida por um denso nevoeiro. O comandante procurou aterrizar, porém, não conseguindo, deu uma volta no entorno e atreveu-se novamente, sem sucesso. Tentou, determinado, mais uma vez e quando estava bem baixo, o piloto arremeteu rapidamente ao perceber que estava sobre o prédio do aeroporto. Meu amigo, que me esperava em Navegantes, contou-me, posteriormente, que os que estavam no saguão ficaram apavorados ao perceber o avião quase roçando o prédio, fazendo um barulho espantoso ao arremeter.
No avião, os passageiros, segundo meu amigo Heleno, ficaram quase desesperados com a possibilidade de o avião cair, falando alto e mesmo alguns gritando, até serem acalmados pelo comandante, que anunciou mudança de planos, dirigindo-se para Florianópolis.
Minha mente, disciplinada e obediente, só me acordou quando percebeu o tocar do pneu do trem de pouso na pista do aeroporto... porém de Florianópolis.
* Virgilio Pedro Rigonatti, Escritor, www.lereprazer.com.br rigonatti_pedro@terra.com.br autor do livro “MARIA CLARA a filha do coronel” que se encontra à venda nas livrarias Supertog, Estação do Livro e Livraria Beca