O Anuário de Minas Gerais, com dados atualizados até 1913 e publicado no ano seguinte, sob a direção de Nelson Senna, tem informações gerais sobre os municípios mineiros, destacando aspectos históricos, geográficos, datas civis e eclesiásticas e os mais variados assuntos. Entre as páginas 824 e 827 consta uma detalhada notícia história do município de São Sebastião do Paraíso, então florescente polo da cafeicultura do sudoeste mineiro. A expressiva produção anual e qualidade dos grãos colhidos começaram a ser noticiados na grande imprensa do País. A população do município, então com 1120 quilômetros quadrados (equivalente a 112 mil hectares), era de 18 mil habitantes, de acordo com o censo realizado em 1900.
Naquele momento, o município localizado no extremo da região sulina do Estado de Minas Gerais, denominada
Sudoeste Mineiro, abrangia quatro distritos de paz, termo usado para designar unidade administrativa de poder judiciário. Além do distrito sede, haviam os distritos de São Tomás de Aquino, Espírito Santo de Peixoto e Espírito Santo do Patrinha, divisão que estava fixada por uma legislação de 1911. Atento aos aspectos geográficos da região, o referido anuário destacava que as “puras águas” dos córregos e rios que banhavam o munícipio corriam para a bacia hidrográfica do rio Grande e, portanto, pertenciam à grande bacia do rio Paraná.
Naquele momento, já havia grande expectativa pelo progresso regional pelo fato da cidade estar servida por duas empresas de transportes ferroviários, a Estrada de Ferro São Paulo e Minas e a Companhia Mogiana, bem como pelo telégrafo que estava funcionando, sendo a população servida por uma empresa telefônica e por outra de eletricidade. Fato importante foi igualmente destacado: a cidade estava servida por uma rede de água potável canalizada. Constava ainda a existência de Fórum, Ginásio, Escola Normal, Cine Teatro, Imprensa, Igrejas e Jardim Público.
Ainda sob a balizada direção do pároco Aristóteles Aristodemus Benatti, o Curso Normal anexo ao Ginásio Paraisense se destacava entre os vinte que existia, naquele momento, no Estado de Minas Gerais. O diploma conferido aos normalistas concluintes passava a ter validade em todo o Estado, em decorrência de sua equiparação à Escola Normal Modelo de Belo Horizonte. Entretanto, cumpre registrar que nem tudo era “perfeito” no Paraíso de outrora. No mesmo ano, um detalhado relatório publicado na imprensa nacional, elaborado pelo professor Gedor Silveira mostrou que as escolas primárias públicas então existentes no município atendiam apenas 25 % das crianças em idade escola, quando o Estado ainda era responsável pelo oferecimento desse nível de escolaridade, de forma compartilhada, com a municipalidade. Na época, não havia ainda de modo consolidado a ideia da responsabilidade do poder público em oferecer instrução escolar para todos. Hoje, o oferecimento do Ensino Fundamental atinge quase toda a população escolar, mas ainda permanece o desafio da melhoria da qualidade da educação ministradas para as classes populares.
Ao finalizar a notícia histórica, o cuidadoso cronista transcreve artigo publicado na Gazeta de Passos, edição de 9 de março de 1908, comentando o privilégio concedido pela câmara municipal de São Sebastião do Paraíso à Estrada de Ferro São Paulo e Minas. A íntegra desse registro é a seguinte: “Por mais que um bairrismo mal-entendido queira desligar esta parte do sul do Estado dos mercados paulistas, procurando nos planos de viação vincular-se somente ao mercado do Rio de Janeiro, como que se torna isso impossível; e, fatalmente, pela sua posição geográfica, senão todo o sul esta nossa região há de procurar nas estradas de ferro paulistas, a solução do problema da sua viação, pelas grandes vantagens que lhe resultarão com o encurtamento da distância e com a facilidade e rapidez da construção de linhas férreas.