CRÔNICA - Joel Cintra Borges

A borboleta e o casulo

Por: Joel Cintra Borges | Categoria: Brasil | 13-05-2017 09:05 | 1897
Foto: Reprodução

"Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida: 
Viver é lutar.
A vida é combate, 
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar."
(Do poema "Canção do Tamoio", de Gonçalves Dias).




Conta-se que um homem observava um casulo onde havia pequeno orifício, pelo qual tentava sair uma borboleta. Ela forçava a cabeça, as pequenas asas, mas, o buraco era pequeno e ela não conseguia passar.
As horas corriam e ela parecia não fazer progresso algum. Cuidando de seus afazeres, a pessoa de vez em quando ia lá ver como estava se saindo sua pequena amiga. Que pena, parecia não haver progresso algum! 
Já chegava o fim do dia, o buraquinho continuava apertado, e o pequeno inseto quietara, como se tivesse desanimado.
-  Pobre amiguinha. - Pensou ele. - Sozinha não vai dar conta!
Condoído, pegou um canivete e abriu um pouco a fresta, o que permitiu que a pequena borboleta saísse com facilidade.
-  Vai voar! - Pensou. - Mas, ela não voou. Seu corpo era fraco e suas asas ainda malformadas. E ela passou a vida toda se arrastando, sem conseguir levantar vôo para as alturas, sem conseguir beijar as flores que se abriam para o sol.
O que o homem, em sua boa intenção, não compreendera, era que a natureza não estava torturando a pequena borboleta: em sua sabedoria, dava-lhe apenas oportunidade de exercitar-se, de criar um corpo musculoso, capaz de movimentar asas já prontas para o vôo.
Quase sempre nos queixamos das dificuldades, dos problemas que enfrentamos pela vida afora, esquecendo-nos que são eles que nos enrijecem, são eles que nos fazem crescer.
É o calor do fogo que tempera o aço, são as grandes pressões e temperaturas que fazem com que, do humilde carvão, nasça o diamante, a pedra mais bonita e mais dura da natureza.
Será que o atleta, ao receber a medalha de ouro nas Olimpíadas, lamentará as horas, os dias, os anos, que passou em duros exercícios, quando todo seu corpo doía, e só uma vontade poderosa o impedira de parar, de quietar-se, de desanimar?