Sim, senhor

por Michele Caroline Luz
Por: Redação | Categoria: Cultura | 17-02-2017 08:02 | 1510
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Respeitamos idiotas, gente sem o menor valor, moralistas e hipócritas. Somos ensinados a abaixar a cabeça, consentir com quem vale mais do que nós, de acordo com a burra hierarquia de classe, gênero e sexo. Escutamos comentários de ódio, nos encolhemos, guardamos nossa vergonha e o nosso não-direito de revidar. Quem se importa? Ninguém.


A educação vem pra domesticar e ensinar crianças não serem um incômodo social, nem nas escolas, nem em casa e principalmente na política. Cidadãos passivos e atomizados. Que linda servidão, despolitizados por entretenimento e obedientes por educação. Realidade triste, realidade burra, realidade borrão. Ainda somos obrigados a ouvir a hegemonia enfurecida pela roupa que encareceu, embora adore vangloriar quantos tostões pagou por um pedaço de alienação. Ah, contradição moderna. Nas igrejas vestem o bom mocismo, o olhar de devoção diante da palavra divina, não sentam ao lado do pobre mas fingem sentir muito pelo pobre, entoam amém no início de cada pausa e vomitam os mesmos sermões para quem encontram. Vocês sabem, né? Deus disse, tá na Bíblia. Muitas vezes somos vítimas desses dizeres e muito envergonhados ouvimos a voz do Senhor que reverbera na do nosso senhor.


- Perdão chefia, melhorarei meu modo de conduzir a vida.


Assim, não falamos de igual pra igual e sequer questionamos o motivo do espancamento da filha ou aquela vez que desviou dinheiro. Pois é, isso Deus permite, tá nas entrelinhas da Bíblia.


Morremos aos poucos e a morte é silenciosa, nossas palavras não têm o mínimo valor e os gritos são abafados, mas roubamos a cena quando nossos corpos são esquartejados e exibidos em praça pública. Então, exclamam:


- Esses indigentes burlaram as leis, queriam agir como senhores e decidir pelo próprio corpo! Estão vendo? É assim que acaba quem ousa se rebelar!


Alguém acredita que essa babose-ira faça sentido? Realmente, nada convincente. Mas a violência educa, acreditam.





* Michele Caroline Luz, 18 anos


Estudante de Comunicação Social