A escrita da história se faz com o constante desafio para articular memórias e documentos dos mais variados tipos e credibilidade. Tanto um como outro não têm o poder de traduzir, isoladamente, a realidade plena do passado. Por esse motivo, as crônicas históricas, tais como as que são aqui apresentadas, registram fragmentos pontuais, que podem apenas contribuir para entender uma questão específica que pertence ao estrito domínio da história. Mas, por certo, sempre permanecem lacunas que servem de motivação para persistirmos no estudo de nossas próprias raízes.
É com essa intenção que retornamos à história do Ginásio Paraisense, no contexto da transição da direção do estabelecimento entre o dentista Lamartine Amaral e o advogado Pedro de Souza e Silva, que ocorre em meados de 1940. Na mesma época, o professor Antônio de Souza e Silva, irmão do referido professor, pertencia ao corpo docente do estabelecimento. No ano anterior, com o início da Segunda Guerra Mundial, havia um clima de instabilidade e insegurança geral, não somente no Brasil, como em diversas partes do mundo.
Dificuldades econômicas e financeiras chegaram em diversos setores da sociedade e inclusive na educação secundária particular. Cumpre lembrar que o referido Ginásio Paraisense pertencia ao município de São Sebastião do Paraíso, mas através de um contrato de arrendamento, o diretor podia cobrar mensalidades para a sua manutenção. A economia cafeeira passava por dificuldades, com o decréscimo no volume de exportação para a Europa, devido ao conflito bélico. Não havia como a crise não chegar à histórica instituição de ensino de Paraíso.
O professor Lamartine Amaral resolveu fazer uma grande campanha publicitária, de abrangência nacional, em três revistas de ampla circulação nacional do Rio de Janeiro, O Malho, O Tico-Tico e Cinearte, publicadas pela mesma empresa editorial. Entre os diretores dessa grande empresa editorial estavam três jornalistas da família Souza e Silva de São Sebastião do Paraíso: Osvaldo de Souza e Silva, Antonio de Souza e Silva e Luiz Lavínio de Souza e Silva. Essa informação é confirmada pelo escritor paraisense José de Souza Soares, em sua obra publicada em 1945, ao ressaltar a participação de jornalistas paraisenses na imprensa nacional daquela época.
No dia 9 de agosto de 1939, a revista O Tico-Tico – primeira revista de histórias em quadrinhos do Brasil – então dirigida pelo jornalista Antônio de Souza e Silva, foram publicadas as regras do grande concurso de abrangência nacional, intitulado Grandes Vultos do Brasil, com patrocínio do Ginásio Paraisense. O objetivo desse concurso consistia em incentivar alunos que pretendessem ingressar no curso ginasial a dissertar sobre um grande vulto da história do Brasil, numa lista de 25 nomes apresentados pelos organizadores e avaliadores do certame.
O principal prêmio era o direito do ganhador estudar por um período de cinco anos, grátis no Ginásio Paraisense, na condição de aluno interno. Havia também vários outros prêmios como bicicletas, bolas, rádios, relógios e até mesmo latas de goiabada. Das três mencionadas revistas, o maior número de mensagens publicitárias publicadas foi em O Tico-Tico, com diversas ilustrações do Ginásio Paraisense, bem como sobre a cidade de São Sebastião do Paraíso e outros atrativos, tais como praça de esportes, biblioteca e os laboratórios existentes para o estudo de ciências.