CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Quermesse beneficente de 1935

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 27-05-2017 20:05 | 1482
Foto: Reprodução

Esta crônica retorna aos idos de 1935, para rememorar cenas da história social de São Sebastião do Paraíso, importante polo da cafeicultura do sudoeste mineiro. Mais pontualmente, focaliza uma quermesse beneficente realizada em favor da Santa Casa de Misericórdia, instituição hospitalar fundada em 1917, sob a honrada liderança de Ângelo Calafiori, detentor de uma patente de major da extinta Guarda Nacional. Como foi divulgado, durante três semanas, os participantes poderiam vivenciar animadas noites, algumas delas organizadas para homenagear cidades vizinhas, cujos moradores eram convidados a contribuírem no evento. Os valores arrecadados também auxiliariam a Sociedade São Vicente de Paulo, casa de assistência aos idosos da mesma cidade. 
Esses fragmentos históricos foram obtidos em uma reportagem publicada pelo jornal A Vanguarda, de Cássia, na mesma região, quando estava sob a direção do jornalista Paulo Gama. Naqueles anos e até mesmo até no final do século XX, era muito comum a realização das mencionadas quermesses, geralmente, em frente à Igreja Matriz, onde eram armadas grandes tendas ou barracões para essa finalidade. Eram vendidas refeições, bebidas, doces e sorvetes, com apresentação de música. 
Bingos ou sorteios eram promovidos para arrecadar fundos, assim como leilões de diferentes produtos doados pela população, tais como leitoa assada, roscas e pães especiais ou frango. Os festeiros ou fazendeiros mais abonados costumavam doar bezerros, os quais eram leiloados e adquiridos por outros criadores. Ainda por volta dos anos 60, quando eu estava iniciando a escola primária, lembro da fila de caminhões de gado, estacionados ao lado da Igreja, no dia do grande leitão beneficente de gado. 
Além de ser um meio de promoção caritativa daqueles anos, quando quase não havia políticas públicas para a saúde das classes populares, eventos dessa natureza eram também momentos de lazer para os moradores da cidade. A quermesse objeto dessa crônica ocorreu sob a liderança do cônego José Phillipe da Silveira, pároco da Igreja Matriz, autor de uma extensa lista de serviços sociais prestados à população carente. Foi uma das maiores festas daqueles anos, amplamente divulgada na região. A presença dos visitantes mais ilustres, incluindo os coronéis e políticos, era anunciada no serviço de alto-falante, através do qual havia a oferta músicas.
Um grande cartaz foi publicado para divulgar a programação da festa, incluindo leilões de prendas e de gado, barracas de música regional e clássica, apresentação de cantores, bandas e corais, declamação de poesias, exposição de produtos agrícolas e o funcionamento de um emocionante "correio elegante", um serviço diário de entrega, durante a festa, de cartinhas trocadas entre moças e rapazes para expressar amizade, admiração ou para arriscar o início de um possível namoro. 
A comissão organizadora dessa quermesse era formada pelos seguintes cidadãos: Dr. Francisco de Sales Naves (presidente), Dr. Joaquim Alves Pinto (vice-presidente), Evaristo Malagutti (tesoureiro), Antônio Faria Neto (1º secretário) e Roberto Scarano (2º secretário). O presidente da comissão enviou uma carta ao editor do jornal cassiense, que foi publicada na íntegra para divulgar o evento e convidar os moradores daquela cidade a prestigiarem a promoção realizada em São Sebastião do Paraíso.