A impressão é de que o GP de Mônaco, amanhã, ficou em segundo plano. Tudo por conta da troca que Fernando Alonso fez da corrida mais charmosa da Fórmula 1, da mais esperada do ano, da mais desejada por todos os pilotos, por um mergulho de cabeça no desconhecido – pelo menos para ele – em Indianápolis.
O espanhol abraçou o desafio de correr pela primeira vez as 500 Milhas ciente de que lá tem mais chances de vencer do que obter um bom resultado com a McLaren, em Mônaco. Se tudo corresse bem, um bom treino, uma boa largada e uma corrida sem problemas mecânicos, o máximo que estaria ao seu alcance, e com muita sorte, nas ruas do Principado seria um 5º lugar em condições normais de corrida e contando com alguns abandonos.
É o mesmo que nada para quem já venceu duas vezes em Mônaco. Alonso não consegue esconder sua insatisfação com os muitos problemas que vem enfrentando com o modelo MCL32, principalmente com as constantes quebras e falta de potência do motor Honda. Por isso decidiu se aventurar do lado de cá do Atlântico. Decidiu ir atrás da “Tríplice Coroa” do automobilismo que consiste em vencer o GP de Mônaco, as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans.
O primeiro passo ele já deu em Mônaco em 2006 e 2007. O único até hoje a conquistar o feito foi o inglês Graham Hill, cinco vezes vencedor em Mônaco: 1963/64/65/68/69. Aqui cabe um parêntese: (Hill foi chamado “Rei de Mônaco” até perder o trono para Ayrton Senna, até hoje o maior vencedor da prova em 1987/89/90/91/92/93. Na próxima quarta-feira (31) completa-se 30 anos da primeira vitória do brasileiro, em Monte Carlo, e várias homenagens estão sendo feitas para Senna). Em 1966 Hill venceu as 500 Milhas de Indianápolis e em 72 as 24 Horas de Le Mans. De quebra foi bicampeão Mundial de Fórmula 1 em 62 e 68.
Alonso é daqueles pilotos com perfil que se encaixa em qualquer tipo de competição. Mesmo com poucos treinos para aprender os segredos da pista, do carro, adaptar o estilo de pilotagem, e à velocidade constante acima dos 360 km/h, o espanhol vai largar amanhã em 5º num grid de 33 carros. Um desempenho excepcional para quem nunca havia corrido em circuito oval e num carro totalmente distinto do que ele está acostumado na Fórmula 1.
Apesar do jargão do automobilismo que diz “treino é treino, corrida é corrida”, outra máxima é que em Indianápolis tudo pode acontecer numa prova de 800 km – até uma vitória do carro laranja 29 de Alonso. A estrutura montada para ele é das melhores da Indy, com a equipe Andretti e orientação do brasileiro Gil de Ferran, um dos nomes mais respeitados no automobilismo norte-americano, vencedor da prova em 2003.
E a expectativa em torno da participação de Alonso causou um “bumm” na Indy. Só no primeiro treino o espanhol atraiu 2 milhões de pessoas que assistiram ao vivo pelas mídias online da IndyCar, algo jamais visto na categoria em tempos de internet e redes sociais. E é esperado recordes de audiência nas TVs detentoras dos direitos de transmissão da corrida – aqui, pela Band. Olhos dos fãs de automobilismo no mundo inteiro estarão voltados para Indianápolis a partir das 13h deste domingo.
Independente de qualquer resultado, a participação de Alonso numa das mais emblemáticas corridas do planeta foi uma grande tacada que alavancou o interesse pela Indy e mostrou para a Fórmula 1 que promoções assim só faz bem ao esporte. Algo que jamais seria possível nos tempos de Bernie Ecclestone no poder; tampouco a McLaren inscrever um carro com sua nomenclatura para Alonso. A iniciativa partiu de Zak Brown, novo diretor-administrativo da McLaren, que lançou o desafio e Alonso não pensou duas vezem em agarrar. E assim a McLaren volta a Indianápolis como “McLaren-Andretti-Honda” para tentar repetir as vitórias que conquistou com Johnny Hutheterford em 74 e 76.
POLE 65?
Se fizer a pole position hoje, Lewis Hamilton iguala a marca de Ayrton Senna (65). E não haveria lugar melhor para alcançar o ídolo como em Mônaco.