Certamente muito magoado com o abandono de seus pares, o deputado federal Osmar Serraglio decidiu não aceitar a indicação para o Ministério. Saído do Ministério da Justiça, iria para a Transparência (ex-CGU).
Menos mal.
Como ficar numa pasta que é o oposto de sua vida política?
Como trabalhar com uma equipe que o investiga e não concordou com a indicação, os servidores de carreira da pasta fizeram piquetes para demonstrar isso? Depois vem a vingança, contra aqueles que o rifaram.
O ato de sua nova nomeação garantiria a permanência de Rocha Loures, o faz-tudo-gravado-carregando-mala, como deputado federal e com foro na Justiça. Como deputado, só pode ser preso com ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas se então Loures deixa de ser deputado, o que resta? Juridicamente há dois caminhos: o Ministério Público Federal mandar tudo para a primeira instância em Curitiba, onde a Força-Tarefa da Lava-Jato pode decidir sozinha se prende ou não Loures, com autorização do juiz Sergio Moro.
Mas há a trilha mais rápida: como o caso de Loures está intimamente atrelado ao inquérito que investiga o presidente Michel Temer e também o senador Aécio Neves, pode o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, bater na porta do relator Edson Fachin mais uma vez. E lá argumentar: se o acusado não é mais parlamentar, já pode ser preso por tudo o que foi apresentado contra ele.
Mas aí ainda sobra uma derradeira pergunta: Temer deixará Loures nessa condição? Abrirá o caminho para uma eventual prisão e dali contar os dias para um já aventada delação premiada do ex-deputado que foi acusado justamente de receber dinheiro em nome do presidente da República?
Se quiser manter Loures na esfera do STF para ter alguma perspectiva de o ex-auxiliar se livrar de prisão , Michel Temer terá que ser Dilma Rousseff. Quer dizer, terá que chamar um dos outros três deputados da bancada do PMDB no Paraná para um cargo qualquer, num gesto muito parecido como a nomeação do ex-presidente Lula por Dilma. A diferença é que a nomeação seria de terceiro, beneficiando Loures por tabela. Enquanto isso, o Ministério da Transparência passa a ser relegado ao status de pasta de aluguel, como bem definiu um advogado carioca:
- A CGU virou o Ministério da Pesca para esse governo, coloca lá qualquer um, não tem importância.
Quando a controladoria perde o controle, é porque o fundo do poço é ainda mais embaixo.
E se o presidente em quem ninguém votou se acha com superpoderes suficientes para usar cargos de primeiro escalão para manter a si e aos comparsas longe das mãos da justiça é porque no fundo desse poço tem muita, muita lama.
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