JUSTIÇA

JUSTIÇA

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 30-05-2017 08:05 | 1931
Foto: Reprodução

Monoglotas
Somos o povo mais monoglota do mundo, falamos só o português brasileiro e olhe lá. Faz alguns anos resolvi reparar nesse defeito e venho incrementando meus conhecimentos em outros idiomas. Mas, nos idos de 2010, 2011, eu estava perigosíssimo achando que falava espanhol quando fui pescar na Argentina com amigos. E foi assim que parti com os amigos para uma pescaria na região do “Chaco”, perto da tríplice fronteira Argentina-Brasil-Paraguai. No penúltimo dia de viagem nossos guias de pesca nos prepararam uma surpresa e ancoramos os barcos em uma ilha de rio onde era preparado um legítimo churrasco argentino para celebrar nossa estada ali. Tudo muito bem, tudo muito bom, cerveja vai e vem, este que vos fala resolveu fazer um discurso de agradecimento (em espanhol, claro) para os guias e pescadores argentinos que nos acompanharam na aventura. Falei por uns três minutos, coisa simples, apelando para o fato de que todos somos latino americanos, que somos hermanos, que a Argentina é linda, coisas do tipo. Ao terminar notei meio estranhado poucos aplausos e alguns olhares de aturdimento tanto dos nativos estrangeiros quanto de meus colegas de viagem, mas deixei para lá, debitei aos hectolitros de álcool já consumidos e seguimos adiante. Vida que segue. Outro dia, passados seis ou sete anos daquela viagem, me encontrei com o bom amigo André Baixo Astral, irmão do meu amigo irmão José Gaudêncio, companheiro na pescada argentina. Depois conto porque o apelido do André é “Baixo Astral”. O fato importante aqui é que ele se lembrou da viagem, da farra, do churrasco de despedida e do meu humilde discurso. Perguntei se ele gostou. “Zupo, respondeu André, eu não entendi nada e meu piloteiro argentino também não. Ele só ficava me perguntando que língua era aquela e por que você não discursava em português, de uma vez!”




Temer e Dilma
Já ficou famoso um desabafo do Diogo Mainardi, do programa Manhatan Connection e do site Antagonista: sem essa de diferenciar os nossos corruptos preferidos dos corruptos da oposição. Acrescento ao comentário dele que, se há indício de crime, deve ser apurado, independente do lado partidário ou ideológico do suspeito. Essa coisa de “meu malvado favorito” é boa só em filme, e olhe lá. Raciocinando assim, é até possível colocar Temer, Dilma, Aécio e Lula no mesmo barco. Mas há aqui um obstáculo intransponível a impedir que sejam igualados. Temer e Aécio (e também Eduardo Cunha) não arrebentaram com a nossa economia, nosso bolso, não corroeram o poder aquisitivo de nossa moeda e tampouco ressuscitaram a inflação e o desemprego.  O lado vermelho do poder, os ideólogos e líderes trabalhadores e marxistas, sim. Vivemos duzentos anos de política de clientelismos e maracutaias, está em nosso DNA, e não vamos mudar isso da noite pro dia com Direito Penal, cadeia e cassação. Mas podemos dizer que há os políticos de caráter discutível que resolvem e fazem a diferença, e aqueles outros políticos que também tem conduta questionável e, além de corrompidos, são também incompetentes e ruins de serviço, sabotadores do nosso pequenino e efêmero milagre econômico, destruidores da tranquilidade da classe média, profanadores da paz social tanto buscada pelo povo. Estes últimos são os piores, sem dúvida. Dilapidaram dinheiro público e nada trouxeram em troca, a não ser fracasso, demagogia, conflito. Não melhoraram a vida dos pobres. Pioraram a vida de todo mundo.




Utilidade Pública
Alexandre Garcia me lembrou em Brasília que o convívio de motoristas com a faixa de pedestres é muito simples no mundo todo: pé na faixa é igual a pé no freio. Se o pedestre começou a transpor a faixa, o motorista que está prestes a cruzá-la deve respeitar, dar a preferência ao pedestre e frear seu carro. Mas por aqui o simples não é simples. Há os motoristas que não respeitam o pedestre e a faixa e saem cantando pneu e atropelando e matando, quando não buzinam e xingam, e há os motoristas - estes são os piores - metidos a ingleses e educados, mas que por ignorância e burrice prejudicam o trânsito mais ainda: são aqueles que já param o carro abruptamente antes da faixa quando o pedestre nem sequer iniciou transpô-la, ou está olhando com cara de paisagem distraído para os arredores ainda no canteiro central e longe da faixa. Motorista que vem atrás e não viu o pedestre colide com o veículo da frente e a coisa toda termina em engavetamento. Nem lá nem cá. A perfeição está no equilíbrio. Por isso não esqueça a lição do nosso querido jornalista Alexandre Garcia: pé na faixa, pé no freio. Não breque nem muito antes, nem muito depois.




Renato Zupo, Juiz de Direito, Escritor