Chuva de granizo atinge lavouras e pode comprometer safra de café na região

Especialistas alertam para prejuízos na safra atual e risco de impacto econômico prolongado nas lavouras atingidas pela tempestade de granizo da última semana
Foto: Reprodução Rede Sociais

A tempestade de granizo registrada na tarde de sexta-feira, 25 de julho, deixou marcas profundas em municípios da região de São Sebastião do Paraíso, especialmente em áreas produtoras de café. Em municípios como Jacuí, Monte Santo de Minas, Guaxupé, Muzambinho, o fenômeno provocou danos físicos em lavouras, perda de frutos e prejuízos que podem se estender até a próxima safra.

Segundo relatos apurados pela Emater de Jacuí, diversos cafeicultores procuraram assistência após o temporal. Os principais danos foram desfolha intensa, quebra de galhos, queda dos grãos ainda não colhidos e prejuízos na qualidade dos cafés que estavam secando nos terreiros.

“Recebemos, em média, relato de 20 produtores atingidos pela chuva de granizo, mas esse número pode ser maior. O granizo compromete tanto a safra atual quanto a próxima, por conta dos danos à estrutura floral que inicia a formação dos frutos”, explica Hully Alves Rocha, extensionista agropecuária da Emater em Jacuí.

A orientação técnica é clara: produtores devem agir rápido para conter os efeitos das pedras de gelo. “A recomendação é pulverizar as plantas com produtos à base de cobre ou fungicidas, para cicatrizar os ferimentos. Dependendo do nível de dano, pode ser necessária a poda dos pés, o que compromete a produção por até dois anos”, alerta Hully.

O professor Diego Bedin Marin, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), também reforça a gravidade da situação. “A chuva de granizo pode comprometer significativamente a produtividade das lavouras. As pedras de gelo provocam ferimentos nas folhas, ramos e frutos, o que reduz a produção e favorece o surgimento de doenças fúngicas e bacterianas”, afirma.

Marin ainda destaca que os impactos são duradouros. “Além da perda imediata na safra atual, há um aumento nos custos de produção, pois o produtor precisa investir em aplicação de fungicidas, podas corretivas e adubação de reforço. Isso afeta diretamente o fluxo de caixa, especialmente em pequenas e médias propriedades”, pontua.

Reflexos econômicos

Além dos danos no campo, há preocupação com o impacto financeiro para os produtores e o reflexo no preço do café. Marin explica que, se o evento afetar uma área extensa de produção, é possível que a oferta caia e os preços subam, especialmente no mercado interno. “Mas isso depende também da situação do mercado global, já que o Brasil é o maior produtor de café do mundo”, pondera.

Questionada sobre eventuais linhas emergenciais de crédito para os produtores afetados, a Emater informou que ainda não há previsão de ações específicas para esse evento climático. No entanto, os bancos relataram que há alternativas já existentes.

O Banco do Brasil comunicou à Emater que, até o momento, não há uma linha emergencial voltada exclusivamente para os produtores atingidos pela chuva de granizo. No entanto, há casos pontuais de cafeicultores que acionaram o seguro rural de operações de custeio vigentes. A instituição também destacou que o lançamento de medidas depende da avaliação da extensão dos danos e de um eventual “Alerta Agropecuário”, que pode ser emitido conforme os relatórios de campo.

Já o Sicoob informou que ainda não há linhas emergenciais específicas para essa ocorrência, mas mencionou que, assim que houver alguma atualização oficial ou diretriz por parte das instâncias superiores, a cooperativa comunicará os produtores atendidos. A supervisora de crédito da unidade de São Sebastião do Paraíso destacou que o Funcafé — Fundo de Defesa da Economia Cafeeira — deve ser uma alternativa viável no segundo semestre. No entanto, o banco ainda não recebeu comunicado formal sobre essa liberação.

Assistência técnica e seguro

A Emater reforça a importância de notificar o sinistro, especialmente para produtores vinculados a programas de crédito com seguro. “O produtor deve registrar o ocorrido, fazer fotos dos danos e entrar em contato com sua instituição financeira. Isso pode garantir a cobertura dos prejuízos”, orienta Hully.

Para aqueles que não possuem seguro, a recomendação é redobrar os cuidados agronômicos com a lavoura. “Mesmo sem seguro, é preciso agir rápido para evitar maiores perdas. Pulverizações, monitoramento e até podas de recuperação são medidas necessárias para tentar garantir a retomada da produção”, conclui.