Durante toda a semana a imprensa veiculou e o setor produtivo de café comemorou: A Frente Parlamentar Mista do Café, formada por deputados e senadores, obteve o compromisso do governo, de que não vai mais haver importação de café conillon do Vietnã, conforme tinha sido autorizado anteriormente.
O portal na internet “Notícias Agrícolas” veiculou uma matéria na quarta-feira, (22/2), dizendo que “o presidente Michel Temer decidiu suspender provisoriamente a importação de café robusta pelo Brasil, informou a Secretaria de Governo da Presidência através de nota ao portal. Temer quer agora analisar toda a situação antes de qualquer decisão. A medida foi tomada após reunião na terça-feira (21) do setor produtivo e políticos ligados ao agronegócio com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e também com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira”, diz a matéria.
O deputado Carlos Melles, um dos articuladores para barrar a importação, ponderou que “no Plano Real o país consumia seis milhões de sacas de café e atualmente consome 22 milhões. Foi um produto que se comportou bem economicamente, mas não foi impactante na inflação. Isso indica que alguém colocou no mercado café a um preço bom e o produtor perdeu. Agora que o preço está relativamente equiparado com o custo vem esse golpe. Não porque o preço do arábica está alto, mas porque o preço do robusta subiu muito, assim era o momento de usar mais arábica para fazer o blend”, explica o deputado.
Melles argumenta que se houvesse boa gestão no Conselho Nacional do Café e no Conselho Deliberativo da Política de Café o setor de arábica poderia estar batendo palmas para essa crise e comemorando o possível aumento de consumo do café arábica.
Importar café robusta do Vietnã seria dupping, pois trataria de um comércio de um café feito em um país sem leis ambientais válidas, que paga 30 dólares ao dia ao trabalhador rural, que não tem leis trabalhista que o protegem e ainda podem vir carregados de pragas, complementa o deputado.
Para entender
A fim de explicar como acontece o uso do café conillon pela indústria para fazer o blend com o arábica, o deputado federal Carlos Melles usa uma comparação simples de entender: “Uma indústria faz uma goibada, usando 100% de goiaba. Dado momento, a indústria percebe que se usar 10% de chuchu e misturar com o restante goiaba, o consumidor pode continuar aprovando o produto e a empresa estará economizando. Assim vai aumentando a adição de chuchu e diminuindo a quantidade de goiaba. É isso que aconteceu com o blend do café e a indústria vem saindo ganhando”, compara.
“Seria uma importação oportunista, com a manipulação dos preços do café para baixo, forçado pelos torrefadores que atuam no Brasil, em sua maioria, grande corporações internacionais”, ressaltou o deputado.
O problema
O Instituto Brasileiro de Café (IBC) e a OIC (Organização Internacional do Café) foram instalados como agência reguladoras há 60 anos, tinham o controle da produção, do comércio e do que se guardou. Atualmente não há isso, não há estatística confiável o país não tem estoque regulador, que deveria existir em, pelo menos, 10% do que produz de café.
“Faltou o bom uso do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira nessa questão da importação do café robusta. Não tem preço de garantia e não há fomento de ordenação da safra, que é a colheita nos três meses e o consumo em um ano ou 16 meses” diz o deputado Carlos Melles.
Ele diz que se não houver prudência e não forem adota-das as devidas providências nessa crise de escassez de robusta – que em 60 dias vem nova colheita e vai existir no mercado – terá uma crise maior que pode atingir o café arábica. “Não há preocupação com o produtor e sim com o abastecimento mundial de café. Consumo cresceu 2,5% e a produção tem acompanhar e esse crescimento aconteceu com o consumidor brasileiro. Quem sofre é o produtor”, disse.
Soluções e esperanças
O deputado Melles comentou que há uma expectativa de que o governo crie realmente um plano de proteção ao produtor e ao produto café. “Pode ser que o café volte a ser produto de responsabilidade do Ministério de Indústria e Comércio, deixando de fazer parte da pasta de produtos do Ministério da Agricultura, juntamente com a cana de açúcar e com o cacau. O café fica ‘sumido’ no Ministério da Agricultura”, informou.
Como forma de diminuir os riscos do produtor, tramita na Câmara dos Deputados um projeto que destina parte dos recursos do Funcafé para o fundo garantidor de risco de crédito para cafeicultores e suas cooperativas.
Melles também acredita que ainda este ano o governo possa lançar um programa garantidor de opção três a seis milhões de sacas de café. “A saca custa R$ 500 e há o direito de entregar ao governo se estiver abaixo desse valor; acima disso o produtor não faz a entrega. Quando o governo coloca o preço dessa forma, dificilmente o mercado comercializa abaixo disso. Há regulação de oferta”.