O Senar Minas (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais) promoveu o curso de Recuperação e Proteção de Nascentes a dez produtores de várias regiões rurais de São Sebastião do Paraíso e cidades vizinhas. O curso foi realizado na Estância “Além do Horizonte”, de propriedade dos produtores de hortaliças orgânicas Paulo e Salete Costa.
A carga horária foi de 24 horas, dividida em três dias de aulas teóricas e práticas. Os alunos receberam conhecimentos sobre a legislação ambiental estadual e federal, topografia e as características do local onde a nascente se encontra, como construir um ponto de captação e como registrar os dados da nascente recuperada para catalogação.
O objetivo principal do curso é ensinar como adotar práticas para aumentar a qualidade e a quantidade de água. A meta do Senar é ter, até o fim do ano, mil nascentes protegidas em toda a sua área de atuação.
São cinco passos que os alunos aprendem:
- 1º Identificar a nascente;
- 2º Cercar a nascente;
- 3º Limpar a área;
- 4º Controlar a erosão e
- 5º Replantar espécies nativas.
Em Paraíso
O engenheiro agrônomo, Luiz Francisco de Rosa Macedo, o Lico, instrutor do curso, disse que os alunos tiveram a oportunidade de aprender como fazer a recuperação de um manancial degradado, entendendo o que foi feito de errado para ter esse tipo de consequência.
Ele descreveu o cenário da região paraisense como excelente em termos de quantidade de minas d´água existentes no entorno. Para sua perfeita conservação, ele diz que é necessário que cada produtor entenda como é feito o abastecimento do manancial, o regime hidrológico que alimenta uma nascente. “Encontramos solo muito fértil no geral, com grande potencial e poucas manchas de maior compactação. Porém, mostramos nesse curso o quanto o manejo desse solo é importante e por desinformação há algumas ações equivocadas. A médio e longo prazos estamos degradando”, disse o instrutor.
Queimadas, pastoreios intensivo e corte abusivo de florestas nativas devem ser evitados para não prejudicar as nascentes. “Vamos à contramão desse processo a fim de preservar aquilo que as ações erradas prejudicaram”, disse Lico.
O engenheiro disse que nenhum produtor precisa deixar de ganhar dinheiro para adotar ações mais ecológicas e de proteção ao solo. “A agricultura integrada, com sustentabilidade, é mais viável do que a que degrada, aquela que trabalha para ter retorno em curto prazo e que esgota rapidamente o que tem como fonte e que é de difícil reversão”, alerta.
Lico ensinou em seu curso alguns meios de conservação do solo, como por exemplo, não deixá-lo descoberto. “Para a produção de café, por exemplo, o melhor jeito de não deixar o solo sem cobertura é fazer o manejo da baquearia que vai dar o retorno de matéria orgânica para a terra. Temos que manejar o mato e não eliminar esse mato. Quem ganha com o uso abusivo do herbicida são as grandes corporações e o produtor que trabalha com esse exagero gera impacto social e ambiental”, ensinou.
Na prática
Os alunos tiveram também a parte prática do curso e saíram ao redor da propriedade para aprender a identificar uma mina, a nascente d´água, demarcar seu espaço, a fim de preservá-lo da melhor forma.
O produtor de leite, Danilo Silveira Partes, que fez o curso de Recuperação e Proteção de Nascentes do Senar, é proprietário da fazenda Santa Paulina, localizada no município de Jacuí. “O curso me ensinou a enxergar o que eu posso fazer para conservar as nascentes que existem nas minhas terras. Achamos recentemente mais uma nascente e agora sei como fazer bom uso dela. Estava planejando fazer um poço artesiano na fazenda, mas acredito que agora não vou mais precisar. Vou conseguir aumentar a quantidade de água das nascentes que existem no local”, contou ele, satisfeito.
Salete Costa, a anfitriã do curso, diz que o conteúdo é muito interessante porque o produtor aprende a identificar onde há mina d´água e muito mais. “Aprendemos a fazer o diagnóstico para descobrir se realmente há uma nascente, um ‘olho d´água’. Aprendemos também muito sobre a conservação dessas minas de água. Temos que preservar todo o espaço no entorno, afinal onde há a mina não é onde ela nasce. A água vem do topo da montanha e percorre um longo caminho até se mostrar, se houver deterioração ambiental nesse percurso, haverá também comprometimento da quantidade e da qualidade da água. Dá para colocar em prática todas as situações, não é difícil de recuperar uma nascente, só não faz quem não quer e quem não tem informação”.
O produtor Hamilton Dias, proprietário da Fazenda Monte Alegre é produtor de gado nelore e ficou satisfeito com o conteúdo do curso. “O curso foi excelente, afinal água é tudo. Sabemos hoje que qualquer propriedade para ter valor tem que ter água e temos que cuidar; o curso veio na hora certa para aprendermos. Sou um privilegiado, acredito que a água das minas em minha propriedade deve ser a mesma que a de Termópolis, pois o lençol freático é um só nessa região”, finalizou o produtor.