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Fábio Martins de Lima: um profissional responsável, competente, dedicado ao trabalho e a família

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 08-07-2017 17:07 | 4895
Depois que eu me tornei pai, eu pude sentir o significado do que é amor
Depois que eu me tornei pai, eu pude sentir o significado do que é amor Foto: João Oliveira/Jornal do Sudoeste

O advogado e coordenador da Procuradoria de Defesa do Consumidor em São Sebastião do Paraíso (Procon Municipal), Fábio Martins de Lima, é um homem voltado para a família e um batalhador que não se deixou abater diante dos percalços da vida. Não teve uma infância fácil e precisou trabalhar muito para poder estudar e hoje ocupar a posição que tem. Fábio é filho do senhor João Vicente de Lima e da dona Maria Elza Martins de Lima. Tem dois irmãos, o César, estudante de Engenharia Ambiental, de 23 anos, e a Franciele, estudante de Pedagogia, de 20. É casado com a Daliana Rosa de Oliveira Martins, um relacionamento de 17 anos do qual gerou o jovem Lucas, que faz cinco anos em agosto e o Benício, que nasce em novembro. Aos 34 anos, Fábio já caminhou muito para chegar aonde está e valoriza cada passo, desde a época em que trabalhava na roça para ajudar o pai e para pagar a faculdade até o momento em que foi convidado para se tornar coordenador do Procon, onde faz um trabalho respeitado e reconhecido por todos que precisam da sua ajuda.




Jornal do Sudoeste: Como foi a sua formação até se tornar coordenador do Procon em Paraíso?




Fábio Martins: Eu sou graduado em Direito pela Unifenas, turma de 2004-2008. Colamos grau em janeiro de 2009. Estou na área jurídica desde 2002 quando fui estagiário do Tribunal de Justiça, antes da faculdade de Direito. Sou natural de Campinas, viemos para Paraíso em 1995, para morar na roça. Na zona rural tudo é mais difícil por causa do transporte. Comecei um curso técnico de Contabilidade e tinha a necessidade de fazer estágio, e havia conseguido dentro do Fórum um estágio gratuito. Eu tinha 19 anos na época  quando comecei; trabalhei no Juizado Especial como voluntário e fazia essa parte de correio e atendimento ao público e ali me apaixonei pelo Direito. Eu comecei na parte prática, pode se dizer. Prestei vestibular e passei em Passos, mas não tinha condições de pagar a faculdade, além do que eu nunca quis sair daqui de Paraíso e deixar meus pais, queria ficar próximo deles, só que eu não tinha condições de pagar faculdade, morava na zona rural, mas com 15 dias de trabalho fui contratado como estagiário e comecei a receber, e assim, começaram a se abrir as portas.




Jornal do Sudoeste: Você cursou contabilidade...




Fábio Martins: Sim, eu fiz um curso técnico de Contabilidade e depois fui técnico de Turismo e, logo após foi aberta a Unifenas em Paraíso, uma ótima oportunidade para estudar, e eu disse a mim mesmo: “seja o que Deus quiser”. Eu não tinha dinheiro, mas demos um jeito e assim comecei. As coisas foram acontecendo gradativamente, cada mês uma briga, um desafio, e ingressei na faculdade de Direito. Continuei como estagiário do Fórum, trabalhei no Juizado Especial, Vara Criminal e aí fui crescendo gradativamente; cheguei a ser indicado para assumir alguns cargos comissionados dentro do Fórum. Depois, tive a oportunidade no INSS como estagiário; também trabalhei na Caixa como estagiário até receber a proposta para trabalhar no departamento jurídico de uma administradora de consórcio.




Jornal do Sudoeste: Como começou essa sua dedicação ao consumidor?




Fábio Martins: No consórcio. Foi lá que eu comecei a atuar como auxiliar jurídico e, depois advogado por três anos. Eu cuidava da parte da defesa da empresa e recebia muitas reclamações dos Procons de outras cidades porque a empresa era de abrangência nacional e a central dela era aqui em Paraíso e tudo chegava até a nós. Lá eu comecei nessa linha do Direito do Consumidor.  Fui dispensado da empresa e, passados dois meses, eu tinha prestado um concurso para a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, e fui chamado, então fui para o Posto do Psiu, onde recebi o convite para trabalhar no Procon.  Saí de auxiliar da Junta Comercial para assessor jurídico do Procon em Paraíso, em 2012. Passado um ano, e com a mudança de gestão, fui convidado a assumir o Procon como coordenador, em 2014, e zelo muito a defesa do consumidor




Jornal do Sudoeste: Você agora faz parte do Conselho do Idoso...




Fábio Martins: Sim, eu fui pedir ajuda para eles e me pediram ajuda, pra eu ficar, para fazer algumas orientações. Então, uma vez por mês nós nos reunimos e é justamente por isso que estou fazendo um trabalho junto aos bancos, um trabalho educativo, mas também mais coercitivo do Proncon, mostrando o que é certo e que o descumprimento acarretará em consequências. O problema maior que eu vejo na Defesa do Consumidor é que não tem uma lei específica que regulamenta a aplicação de multa, e diante disto ficamos muito limitados, presos ao Ministério Público e, assim, não há muito o que se fazer e acabamos delegando para outros.




Jornal do Sudoeste: Como vocês conheceram Paraíso?




Fábio Martins: Nós não temos parentes aqui; meu pai era um pequeno empresário em Campinas e a secretária dele tinha família aqui. Meu pai teve um começo de AVC devido ao estresse da cidade grande, e queria se mudar para um lugar pacato, sossegado e foi nesse momento que essa secretária falou de Paraíso. Ele nunca tinha ouvido falar daqui e resolveu vir conhecer; nós gostamos muito, então vendemos tudo o que tínhamos lá, e compramos um sítio em Paraíso, em 1995. Foi uma mudança drástica, mas assim começou nossa vida aqui. Meu pai ainda trabalha na roça, mas mora na cidade.




Jornal do Sudoeste: Você é religioso?




Fábio Martins: A vida é tão problemática que temos que ter uma válvula de escape. Eu tenho que ter fé e acreditar em algo que é superior as minhas forças para que possa ter um conforto espiritual. Eu sou muito religioso e ajudo muito. Sou católico apostólico romano, membro da paróquia São José. Eu já passei da idade (risos), mas de vez em quando participo do grupo de jovens, é sempre um bate papo sobre motivação, relacionamento, família algo nesse sentido. Faço parte também do Encontro de Casais com Cristo onde acontecem encontros com casais a fim de auxiliá-los no relacionamento pertinente aos problemas do dia a dia. Hoje os relacionamentos estão muito sem valores, “descartáve-is”. Com isso, a gente tenta mostrar que se houve a união, dessa união houve os frutos, que são os filhos, tem algo que merece a preservação, o zelo. E tentamos demonstrar isso nesses encontros; se durou até agora é porque há algo que vale a pena cultivar. 




Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância em Campinas?




Fábio Martins: Meu pai é alcoólatra e está há aproximadamente 32 anos limpo. Hoje é coordenador do Grupo de Recuperação de Alcoólatras aqui em Paraíso. É um grupo de apoio tanto ao dependente quanto a própria família também. Minha infância foi um pouco conturbada porque eu peguei o auge do alcoolismo dele. Meu pai veio da roça e naquela fase da globalização, trabalhou muito, mas também gastou muito com vícios e jogos. Não fez uso de entorpecentes e tabaco, mas gostava da bebida e quando bebia se alterava; então foi um pouco sofrido. Porém, minha mãe sempre foi uma guerreira. Costumo dizer que ela é um exemplo de mulher. Diante de qualquer dificuldade, sempre me lembro dela porque se ela passou por tudo isso e está de pé até hoje, eu também consigo passar por qualquer problema que possa surgir na minha vida. Nesses 37 anos de relacionamento entre eles, houve os altos e baixos, mas sempre cultivaram muito o zelo pela família. Mesmo com o problema do alcoolismo ele sempre fez de tudo para que não faltasse nada para nós.




Jornal do Sudoeste: Vocês superaram isso...




Fábio Martins: Esse período mais drástico durou cerca de sete anos; meu pai tinha perdido a casa, o carro em acidente e a família, porque minha mãe tinha deixado ele por não dar conta de viver daquela forma, até que ele buscou ajuda. No rádio ele ouviu uma mensagem de um grupo de apoio e lá ele viu que não era o único que tinha problemas com alcoolismo e que se aquelas pessoas conseguiram superar ele também conseguira, bastava querer isso. E assim aconteceu, levou um tempo para reconquistar a família e começou a crescer profissionalmente, se tornando um pequeno empresário lá em Campinas. Ele é eletricista, mas devido a todo aquele estresse da cidade grande, entre 1993 e 1994 ele passou mal e foi quando decidimos nos mudar para Paraíso. Naquela época houve um assalto na loja, colocaram uma arma na minha cabeça e disseram que iriam me sequestrar; naquela época minha mãe estava grávida, e acabou perdendo essa gestação e, diante de tudo isso, nos mudamos para cá. 




Jornal do Sudoeste: Que idade tinha, quando se mudou para Paraíso?




Fábio Martins: Eu tinha 11 anos. Aqui minha adolescência foi bem tranquila. Meus pais, principalmente minha mãe, são muito religiosos. E o fato de eu morar na zona rural, ir de casa para escola e vice-versa, não tinha muito contato. Estudei no Paraisense, depois no Ditão e em seguida, no Clóvis, onde fiz o técnico em Contabilidade e, posterior a isso, na Unifenas, onde me formei em Direito. Sempre fui um menino muito tranquilo, muito caseiro e o que eu gostava e comecei a frequentar foi um grupo de jovens, no qual eu conheci minha esposa. Ela foi minha amiga, namorada e, agora, minha esposa. Como comecei a namorar muito cedo, minha vida foi bem tranquila e também limitada porque eu não tinha condições de ficar me deslocando. 




Jornal do Sudoeste: Foi uma fase marcante...




Fábio Martins: Sim. Nós tínhamos um status de vida em Campinas, era uma classe média, vivíamos bem e quando chegamos aqui nos mudamos para a zona rural. Houve uma época em que acabou o dinheiro e tivemos que nos virar para sobreviver na roça. Foi sofrido. Não tenho vergonha de dizer isso, mas já fui plantar café para conseguir dinheiro para comprar uma calça jeans. Eu levantava às 5h20 para ir para roça com o meu pai plantar verdura; e até hoje ele planta verdura e abastece alguns mercados da cidade. Eu fiz isso para ajudar ele e também para pagar a minha faculdade. Eu dou muito valor a isso porque eu me lembro de onde vim e onde hoje eu estou. Levantava nesse horário, depois ia para casa, às vezes pegava carona para voltar, para chegar em casa, tomar banho e voltar para a cidade e trabalhar no Fórum até as 18h; depois ia fazer um curso de informática e as 19h tinha que estar na faculdade. 




Jornal do Sudoeste: Mas as dificuldades não atrapalharam você trilhar seu caminho...




Fábio Martins: Eu pensava que se eu não “plantasse” eu não iria colher. Sempre tive esse raciocínio, o caminho se faz caminhando eu não podia ficar parado. Eu não queria depender da roça para a minha subsistência e não por menosprezar, pelo contrário, não era o meu perfil. Eu queria estudar, trabalhar, ter mais conforto, algo nesse sentido. E assim foi. Lembro-me também que chegava a dormir na aula, porque acordava muito cedo e dormia muito tarde, por volta de meia noite e meia, e tinha que estar de pé as 5h20. E por isso eu tirava o máximo proveito das aulas, porque sabia que em casa eu não teria tempo de pegar os livros para estudar. A vida não me permitia e, justamente por isso, eu era um aluno exemplar e muito estudioso. Nos finais de semana estudava sempre, fazia meus trabalhos e, apesar das dificuldades, assim fui crescendo profissionalmente. Com muita responsabilidade e sempre dando um passo de cada vez. Onde trabalhei, sempre fiz amigos, pessoas que me ajudaram e eu pude ajudar dentro das minhas limitações.




Jornal do Sudoeste: Você sonhava em ser advogado?




Fábio Martins: Eu nunca tive sonhos pré-formados, mas tive algumas pretensões como ser diplomata ou até voltado para a carreira jurídica, como ser juiz, algo voltado para essa parte de humanas. Não sonhei em ser advogado, tive a oportunidade de conhecer um lado do direito, apaixonei-me e vi que era o que eu queria e fui atrás. Pensei muito sobre essa questão do que eu queria ser, e ser diplomata era uma delas, principalmente pela questão de ser pacificador e unir povos diferentes, de pacificar, de harmonizar relacionamentos, mas não trilhei esse caminho. É preciso estudar muito e ter uma dedicação muito grande, assim como ser magistrado ou promotor. No momento eu estou me dedicando a ser pai.




Jornal do Sudoeste: Você é muito família...




Fábio Martins: Sim, sou muito família, muito caseiro, gosto de estar presente e ser presente na vida do meu filho e também da minha esposa, não tem como eu negligenciar isso. Eu me casei cedo, tinha uma relação de sete anos com a minha esposa e havíamos decidido dar esse passo. Se você pisa, Deus coloca o chão e assim você vai conquistando seus objetivos e crescendo gradativamente. Agora estou nessa fase paterna. O Lucas vai fazer cinco anos e eu sou apaixonado por aquele moleque.




Jornal do Sudoeste: O que mudou com a paternidade?




Fábio Martins: Tudo mudou quando ele veio. Depois que me tornei pai, pude sentir o significado do que é amor. Aquela responsabilidade e aquele pensamento de que eu não posso fazer isso ou aquilo porque eu tenho um filho em casa; pensar que eu tenho que andar com cuidado na estrada porque eu tenho alguém que depende de mim para ser alguém na vida. Quando se é pai, você começa a ter mais responsabilidade nos seus atos, não que eu fosse irresponsável antes, mas você não passa a pensar apenas por você, mas por todos. Prezo muito pela família, independente de como ela seja; a família é a base do amor. Se na família não for plantado, cultivado e não florir o amor, o mundo não melhora. Só vai haver um mundo melhor se nossos filhos forem educados para serem pessoas melhores.




Jornal do Sudoeste: E qual o balanço que você faz desses 34 anos?




Eu faço um balanço ótimo. Não foram somente flores, houve espinhos e eu soube viver. Eu tive uma base de princípios e valores que vieram de meus pais e que eu trago comigo e transmito para a minha família. Eu não tento ser melhor que os outros, mas procuro fazer a diferença. O trabalho que eu faço é mais social que técnico: às vezes chega alguém que começa a chorar e você vê que é porque ela não tem capacidade e discernimento de resolver um problema que às vezes é simples aos meus olhos e para ela não. Essa ajuda ao próximo é de extrema importância e prezo muito isso, independente de quem seja. A minha vida é ótima, não é perfeita, mas eu sempre olho para o problema pensando que nem tudo que é ruim eu tiro coisas ruins, eu posso tirar coisas boas dali. Nada de ruim que acontece é por acaso e tudo de ruim que acontece tem algo bom por trás. Nesse balancete da minha vida, eu vivi muito bem, sou  apaixonado pela vida, pela minha família, pelo meu trabalho e, principalmente, por Deus.




Jornal do Sudoeste: E seus planos?




Fábio Martins: Quero fazer magistério, não sei se voltado para o Direito. No ano passado fui coordenador do Curso Técnico de Administração no Clóvis Salgado. Foi uma experiência de seis meses, algo que o Procon me proporcionou, de estar a frente transmitindo conhecimento, ter essa troca de valores e acho que tenho a capacidade de levar isso a mais pessoas e quero amadurecer essa ideia. Talvez focando para um mestrado. Mas acho que ainda não é momento devido à dedicação como pai, mas para o futuro penso em algo nesse sentido, de uma qualificação profissional voltada para o magistério, de dar aula, de transmitir conhecimento.