ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 08-08-2018 10:37 | 1052
Foto: Reprodução

FRÁGIL
Reneé Goscinny, criador do Asterix, gostava de dizer que seus personagens eram “susceptíveis”.  Assim se classificam as pessoas extremamente vulneráveis às influências do meio, internas e externas, que se magoam ou se enfurecem com facilidade, ao sabor dos ventos e com os nervos sempre expostos, à flor da pele. É dessas susceptibilidades, dessas fragilidades, que se compadece o nosso craque Neymar. Tenho pena dele, com todos os seus milhões. Nunca soube viver fora de uma rede social e desde os treze anos sustenta a família e vê na figura do pai um misto de guru empresarial e lacaio, um “parça”, no jargão da bola. É muito mais importante para Neymar a imagem que os outros lhe detém do que aquela firmada por sua autocrítica. Ele somente alcançará maturidade intelectual se passar alguns meses por ano em um monastério tibetano longe de eletrônicos, para finalmente aprender que um homem não se mede pelo sucesso, fama ou dinheiro, mas pelo que faz (ou faria) com tudo isso.

EQUIPE
O livro “Guardiola Confidencial” mostra porque os melhores teóricos do futebol mundial são, sem sombra de dúvidas, também os mais estratégicos, dentre eles o personagem principal do livro, Pep Guardiola. O cara simplesmente estuda todos os adversários, faz diversos ensaios táticos e modifica o time conforme o adversário, independente da qualidade do seu opositor. Ou seja, não importa se vai enfrentar um pé rapado da segunda divisão espanhola ou um grande clube europeu da Champions League, em qualquer hipótese Guardiola será sempre um enxadrista perfeccionista. Antes da Copa do Mundo, eu ficava intrigado em saber que esses supostos supertécnicos permaneciam fora do maior torneio futebolístico do mundo e achava isso um sinal de que os caras na verdade não eram tão bons assim. Depois da Copa, descobri que nós brasileiros é que não somos lá essas coisas, que somos muito menos do que almejamos ser.

O VAR (I)
Imaginem o árbitro de vídeo em um jogo do Campeonato Carioca. Imaginem Eurico Miranda, o todo poderoso coronel do Vasco da Gama, invadindo as cabines dos árbitros responsáveis pelo videomonitoramento, somente para fiscalizá-los e manejar o apito do árbitro em benefício da sua agremiação. Vejam que, por mais que tentemos nos modernizar, nós brasileiros permaneceremos escravos da mesma estagnação cultural típica da periferia do mundo. “Progresso” é um conceito que nasce, primeiro, em nossos corações para depois alcançar o mercado.

O VAR (II)
Mesmo com o árbitro de vídeo, assistimos evidentes erros de arbitragem. Isso não vai deixar de ocorrer, porque nem todo equívoco do apito nasce da interpretação equivocada de imagens. Muitas vezes a dificuldade do árbitro é com as regras, a disciplina, a própria dinâmica de um jogo cada vez mais veloz. Faz parte da tradição futebolística a resenha depois da partida, quando se critica o pênalti perdido, o erro de arbitragem, o perna de pau e o craque. Não haveria graça alguma em debochar do adversário se o Futebol fosse dotado de uma certeza matemática, de uma lógica rígida embasada em fundamentos imutáveis e inquestionáveis. A beleza desse esporte é justamente o fato de que seus resultados, obstáculos e percalços não podem ser previstos. É a diferença entre o que é possível e o que é provável. Fazemos sempre um prognóstico quase certeiro das probabilidades. Já as possibilidades, essas são infinitas.

MAIS JK
Juscelino lançou algumas modas quando governou o país, no início dos anos 1960. Apelidado de “Presidente Bossa Nova” por conta do novo estilo musical que então já se tornava uma febre, sempre elegante e mulherengo, o que usava e fazia indicava as tendências mais modernas de vestuário e hábitos. Notívago, fechava boates. Era um pé de valsa que mostrou para a sociedade  que é possível ser suave e masculino, tudo ao mesmo tempo, isso em uma época em que os machões não dançavam. JK entronizou uma moda curiosíssima: não gostava de ficar calçado por muito tempo e sempre que possível tirava os sapatos debaixo das mesas, em eventos e festas. Para facilitar-lhe a vida, sua esposa Dona Sara o presenteou com  uns sapatos italianos sem cadarço, novidade na época, e que permitiam ao nosso mineiríssimo Nonô se libertar mais facilmente do desconforto de estar calçado durante as solenidades. Logo seria seguido por todos os homens elegantes da época.

RENATO ZUPO, Magistrado, Escritor