ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 04-09-2019 14:51 | 782
Foto: Reprodução

Os dentes do Cavalo de Tróia
Bolsonaro questionou a ajuda internacional oferecida e em grande parte já propiciada ao longo dos anos por poderosos países de primeiro mundo visando salvaguardar as reservas de oxigênio da esbaforida Amazônia Brasileira. Meu velho e saudoso pai dizia que ninguém dá almoço de graça. É óbvio que as beneméritas nações estrangeiras têm um interesse bem claro com relação à proteção da maior floresta tropical do planeta: sua manutenção como reserva de biodiversidade e produção de oxigênio limpo. O planeta Terra agradece. Não é por antipatia ao presidente ou por interesses asquerosos que países desenvolvidos voltam seus olhos para a Amazônia, mas para, protegendo-a, garantir os denominados direitos de terceira geração: aqueles que legamos aos nossos sucessores, às gerações vindouras, a um meio ambiente habitável e a um Planeta em que se possa respirar. Agora, paira acima desse interesse social evidente uma ameaça grande, e aí me forço a desconfiar da esmola dada, como Bolsonaro insinua: vi, li e repasso, crônica de um dos editorialistas do Corriere della Serra Italiano, afirmando que a Amazônia é do mundo e que deve ser governada por todos (leia-se: países poderosos), e não somente por “Bolsonero”, como ele apelida nosso presidente, referindo-se ao Imperador Nero que pôs fogo em Roma. De resto, diversos livros didáticos estrangeiros classificam a Amazônia Brasileira como “área de controle multinacional” e não parte do nosso território. Arriscamos nossa soberania e não nos apercebemos disso, prova de que há cavalos dados cujos dentes devem ser conferidos. Afinal, lembremo-nos do Cavalo de Tróia. 

Macron x Bolsonaro
O presidente francês, Emanuel Macron afirmou que os brasileiros precisam de gente melhor para governa-los. Ora, isso nós é que temos que decidir, e quem ofende a Presidência da República ofende a um símbolo nacional.  Ele pode estar certo ou errado, mas (sinceramente) prefiro Bolsonaro ao francesinho empedernido que deveria cuidar da própria vida e nos respeitar mais. Não é o primeiro dos presidentes franceses a nos dizer barbaridades. Na década de 1960, Charles de Gaulle afirmou que o Brasil não é um país sério. Macron é um servil barnabé que fica em cima do muro francês sem atinar para os perigos da imigração cataclísmica que descaracterizou seu país, tampouco oferecendo alternativas de segurança pública à sua população assolada por atentados terroristas. Sua economia derrapa e ele vem olhar nosso quintal. Deixe-me falar algo sobre a França e os franceses, porque os conheço suficientemente bem. Paris é linda, talvez a cidade mais bonita do mundo, mas está ficando tão insegura de se andar a noite como as grandes cidades brasileiras. Furtos e pequenos roubos pelas ruas mais frequentadas por turistas são bastante comuns por lá. Tem cidades grandes, mas sua agropecuária ainda se sustenta em regimes de cooperativas e sua indústria automobilística sobrevive graças a investidores japoneses. Agora, pergunto: esse país e seu presidente devem se preocupar com a Amazônia ou com o próprio umbigo? Ainda sobre Paris, durante a Segunda Guerra a capital francesa não sofreu um único tiro de canhão, não foi bombardeada sequer por um buscapé mal aceso: foi entregue de bandeja a Hitler por um governo que simpatizava com os ideais nazistas, tanto que foi o primeiro ministro inglês Churchill a afundar a frota da marinha francesa prestes a ser apossada por Hitler e dada à passividade dos franceses diante da invasão alemã que lhes fez de gato e sapato e transformou a antigamente heroica Gália em mais um satélite nazista. Os franceses são os argentinos da Europa, sobretudo os parisienses, que comparo aos portenhos, aos argentinos nascidos em Buenos Aires, senhores de si, arrogantes, dispostos a ensinar regras de etiqueta ao mundo. Macron, ao cuidar da Amazônia, não faça como fez com a Catedral de Notre Damme.

Abuso de autoridade e STF
Mais uma vez se deu no último domingo aquela “jabuticaba” que só acontece no Brasil: protesto “a favor” de alguém… Só por aqui mesmo, pândega a invencionice brasileira. A Lei de Abuso de Autoridade cria o perigoso hábito de se punir o carteiro por causa da cartaOs juízes são ferramentas de aplicação da lei. Têm liberdade, sim, para analisar provas, mas na hora de impor sanções, determinar diligências ou punir, são absolutamente escravos das leis criadas pelo Congresso Nacional com legitimidade popular. Juízes são servidores públicos com poder de julgar os semelhantes, mas conforme a Constituição atribui e limita. Não criam as leis que fazem cumprir. Bom… Há o STF, sempre lembrado pelos manifestantes. O STF está legislando e julgando conforme os interesses sociais dos quais se entende intérprete e defensor. Todo magistrado que sai da blindagem da toga para ser populista e julgar conforme o povão quer, que o diga Sérgio Moro, se submete aos humores deflagrados por seu inadequado ativismo judicial. Juiz dá jurisdição e jurisdição deve ser inerte. Juiz que segue as tendências ideológicas do momento, ao julgar, é um tolo – a opinião pública crucificou Jesus Cristo. Deve, ao contrário, se restringir às provas e a lei, e que se dane se será popular ou não em redes sociais.
RENATO ZUPO, Magistrado, Escritor