Acompanhando o tema da sucessão municipal deste ano, deparei-me com uma crônica de Humberto de Campos, publicada em seu livro “Mealheiro de Agripa”, editado em 1951, e intitulada “Os Sacerdotes de Baal”, que tratava da sucesão presidencial da época em que foi escrita. Creio que, guardadas as devidas proporções, a crônica se insere da atual sucessão municipal, e é uma boa reflexão.
“Os Sacerdotes de Ball.
Perseguido por Jesabel, que se deixara governar pelos sacerdotes de Baal e pelos quatrocentos de Asera, que comiam da sua mesa, andou Elias fugido de Samaria, até que, em um momento de penúria extrema para todo o reino, mandou Acab a Obadias que fosse buscá-lo pelos caminhos. Levado à presença do rei, pediu Elias, para conjurar a vingança do céu, que se reunisse o povo de Israel no Monte Carmelo, e aí, diante da multidão, intimou-a:
“Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e se Baal, acompanhai-o (Reis, 18,21)”.
E como Israel se mostrasse indeciso, o profeta, sozinho, diante dos sacerdotes idólatras, fez descer uma língua de fogo celeste, que devorou o holocausto, destruiu o altar e lambeu a água do córrego, demonstrando, dessa maneira, que era ele, entre tantos embusteiros, o único portador da confiança de Deus...
É esta, no momento, a perspectiva da situação do Brasil, ante o problema da sucessão presidencial. Apontam-se como candidatos os deuses e os demônios, e como não aparece um Elias que a intime a escolher um caminho definitivo, a Nação hesita, cala-se, tergiversa, como se desconhecesse, diante do abalo, os limites de sua responsabilidade.
Os sacerdotes de Baal e os quatrocentos profetas de Asera, que “comem da mesa de Jesabel”, não devem, entretanto, zombar do momento que passa, insistindo, como até agora, em explorar a ignorância de Israel, Elias pode irromper, de repente, amotinando as turbas irresolutas, como está sucedendo em todos os recantos da terra, e é como aviso aos impostores que transcrevo, aqui, mais um versículo do Livro dos Reis:
“E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro Kison, e ali os matou” (18,40).
Rômulo Aguiar Generoso
São Sebastião do Paraíso.