A tragédia desta semana que passou, foi para os argentinos o que foi para os brasileiros o dia 01/05/1994. Naquele ano morria Airton Senna, e no dia 25 de novembro deste, faleceu Diego Armando Maradona.
O que tinham em comum estas duas personagens? Eram ídolos. Só isto. Eram ídolos que ocupavam espaços no imaginário de seus povos. Com suas posições pessoais e de defesa de suas pátrias, davam a cada cidadão a impressão de que todos eram importantes.
Quando agitavam ou se enrolavam nas bandeiras de seus países, carregavam nestes gestos o sonho de cada um, de uma pátria livre, forte e respeitada e alimentavam em todos a certeza de que eram imbatíveis.
No volante de um carro a trezentos quilômetros por hora ou com uma bola nos pés mágicos em um gramado qualquer do planeta, o orgulho de brasileiros e argentinos era colocado no lugar mais alto do pódio.
Em frente aos seus ídolos, todos se esqueciam por algumas horas o “complexo de vira latas” a que estaríamos condenados a viver, conforme disse o dramaturgo Nelson Rodrigues.
O filme Senna, que retrata a vida e morte do piloto de Fórmula 1, mostra com clareza os momentos vividos pelos brasileiros. Muitos naqueles tempos procuravam comida no lixo, mas nas manhãs de domingo corriam para a frente da tv para comemorar mais uma vitória.
Com Diego não era diferente, tornou-se um produto essencial na vida dos nossos irmãos argentinos, pois carregava nos ombros as mazelas e a esperança de toda uma nação.
Sem nenhum reparo em suas profissões, até pelo fato de que isto era impossível, no dia de sua morte alguns críticos, que se posicionam acima do bem e do mal, contestavam a informação recebida, de que Diego Maradona era esquerdista. Eles não se conformaram e apontaram logo que ele era contraditório.
Com Senna isto também ocorreu, pois, alguns críticos foram bastante preconceituosos. Isto me incomodou sobremaneira, pois eram só seres humanos.
Primeiro, não sei até onde isto é importante. Segundo, os nossos heróis, ao contrário daqueles da tv, importados na sua grande maioria e criados para influenciar nossas culturas, são de carne e osso. São homens; com seus defeitos e virtudes, suas tragédias e seus medos, suas alegrias e tristezas, suas preferências políticas, religiosas, sexuais etc.
Por isto são reverenciados. Pois fazem parte destas sociedades tão exploradas e usurpadas diuturnamente. São somente ídolos, não deuses. Mas se são reverenciados como deuses é porque davam a cada pessoa a sensação de que todos poderiam “influir no resultado”, como dizia o dramaturgo Plínio Marcos.
E mais, tenho absoluta certeza que, no momento de sua morte, qualquer pessoa no mínimo mereça respeito. Heróis perfeitos são os das histórias em quadrinhos, pois são criados conforme o nosso desejo, “mas com gente é diferente”, já dizia Zé Ramalho.
Airton e Diego, cada um a seu tempo, deixaram sua gente órfã, mas agradecida, e saíram da vida para a história.
À benção Airton Senna da Silva e Diego Armando Maradona.
João Batista Mião São Sebastião do Paraíso.
“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra, aí vai cometer o primeiro pecado”.
Swami Paatra Shankara