MARIA TEREZINHA

Maria Terezinha: de locutora, a advogada e médica

Por: Nelson Duarte | Categoria: Entretenimento | 24-05-2011 10:45 | 1892
Foto: Nelson P. Duarte

28 e 29 de Maio de 2011 - edição SudoesteB 568

No início da década de 50, vivia o rádio brasileiro sua época áurea. O grande referencial era a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Fundada em setembro de 1936, pertencia a Organização Victor Costa, sendo estatizada em 8 de março de 1940 pelo presidente Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo. Considerada, então, a maior emissora da América Latina, era celeiro de locutores, cantores, rádio-atores e atrizes que se notabilizaram. Sonho de realização profissional para comunicadores, a Nacional entrou nos planos da paraisense Maria Terezinha Ferreira, locutora da Rádio Difusora Paraisense. Em entrevista ao Jornal do Sudoeste ela contou sua trajetória no rádio, e como se formou advogada e médica.

Embora tenha concluído o curso normal, Maria Terezinha percebeu que não se sentiria bem lecionando. Certo dia, sintonizada com a Rádio Difusora, ouviu chamamento de José Soares Amaral (Zezé), diretor da emissora, anunciando vagas para locutores. Sua avó, Dona Nenega, com quem foi criada, falou com Zezé, lhe assegurando o emprego, e, bom salário.

Os olhos da doutora Maria Terezinha brilharam quando puxou de sua memória os tempos de Rádio Difusora na rua Pinto Ribeiro, primeiro endereço da ZYA4. De Zezé Amaral, conforme disse, seu grande professor de dicção e impostação de voz, de colegas de trabalho como Miguel Rezende, Maria Constância Vasconcelos, professor José Alcântara, dentre outros.

Zezé Amaral foi seu padrinho de casamento com Antônio Sillos Telmo de quem enamorou-se ainda adolescente, uma história que foi interrompida bruscamente logo depois de voltarem da lua de mel em São Paulo. Telmo acompanhava o pai de Maria Terezinha a um cartório e ao desviar o cano de um revólver apontado para o sogro, foi irremediavelmente alvejado. Nove meses depois veio ao mundo o filho que Telmo não viu nascer.

Meados de 1952 ela arranjou as malas e embarcou, de corpo e alma para o Rio de Janeiro. Dias depois, a voz bonita que havia conquistado ouvintes em Paraíso, tendo lhe rendido até pedidos em casamento, fazia parte do “cast”  integrado por Renato Murce, Rodolfo Mayer, Ari Barroso, Paulo Gracindo, Brandão Filho. A Nacional, do Balança mas não Cai, Papel Carbono, Emilinha Borba, Marlene, Cauby Peixoto, do Repórter Esso, e tantos outras celebridades.

Na Radio Nacional a locutora paraisense não encontrou dificuldades, se sentiu em casa como apresentadora e radioatriz. No entanto abandonou os microfones, receosa, temendo pelo futuro.

Cheia de ideais, amadurecida pelo sofrimento, alçou novos voos, e foi o presidente Getúlio Vargas, com quem teve contato nos tempos da Rádio Nacional, que a colocou como funcionária da Rede Ferroviária, onde conheceu seu segundo esposo, e reconstituiu sua trajetória de vida.

Vaidosa, como se autodenomina, Maria Terezinha Ferreira Magalhães cursou Direito na Faculdade Cândido Mendes, formando-se em 1980. Exerceu a advocacia por algum tempo, mas caiu em desencanto, por nem sempre poder ver triunfar a justiça, em meio a tantos processos. Queria algo mais palpável, humano.

Inspirada nos exemplos de seu avô Zeca Ananias, farmacêutico, que segundo ela se pautava pelo amor ao próximo e pela caridade, e apoiada pelos filhos, prestou novo vestibular, desta vez para Medicina.

Aos 64 anos ingressou na Universidade, e ao formar-se foi integrada a um projeto do Governo Federal de interiorização da Saúde. Trabalhou no interior do Maranhão e em outros estados até vir para o Norte de Minas Gerais, onde passou a cuidar de comunidades pobres, e aldeias indígenas (Xacriabás), nas regiões de Medina, Manga, Novo Cruzeiro. “Tive oportunidade de exercitar a caridade e chegar mais perto de Deus”, salienta.

Doutora Maria Terezinha, conforme explica, em algumas décadas no exercício da Medicina poucas vezes se recolheu em férias. Não tem pressa em suas consultas, não raras vezes feitas embaixo de árvores. “A arte na Medicina é a paciência”, ensina.

Recentemente, a sempre lembrada locutora da Difusora Paraisense que aprontou as malas e foi falar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e continua no Norte mineiro, veio rever sua Paraíso, E no seu dizer, a encontrou “moderna, renovada, uma cidade jardim”.

Externou sua gratidão aos avós queridos, bons conselheiros, fontes de inspiração, e seu reconhecimento aos que a apoiaram em momentos difíceis, mencionando sua tia, professora Alice Naves, com quem sempre esteve de mãos dadas.

Doutora Maria Terezinha, advogada e médica, com voz de locutora.