ENTRETANTO

Os melhores anos

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 16-06-2021 17:10 | 490
Foto: Reprodução

As pessoas na casa dos trinta anos parecem indestrutíveis, e por essa década o tempo não passa. O sujeito casa, descasa e casa de novo e ainda está novo e cheio de vida e “pronto pra outra”. Enquanto se está nos trinta, parece que os quarenta não chegarão nunca e que nunca faremos aniversário ou que os aniversários irão se acumulando muito lentamente, a passos de tartaruga. Em compensação, aos quarenta ou cinquenta, envelhecemos o dobro ou o triplo por ano, tamanha a velocidade vertiginosa dos dias que inauguram nossa velhice.

Mas vamos voltar à melhor fase, os trinta e alguns anos. É aí que o sujeito não tem ressaca, ou quando tem resolve com um Engov antes e outro depois, igual na propaganda antiga. Pessoas na casa dos trinta anos não têm quase nunca, e jamais deveriam ter, preocupações com saúde, velhice ou doença – estes tristes fatos da vida parecem tão distantes quanto os alpes suíços estão das areias de Copacabana. O cara,  ou a mulher, de trinta anos, é aquela pessoa que é madura demais para ser considerada inexperiente, mas por outro lado ainda é jovem o suficiente para se dar ao luxo de errar. Aos trinta e poucos, a pessoa é louvada como promissora pelos mais velhos e, ao mesmo tempo, exemplo a ser seguido pelos mais jovens. É discípulo e mestre ao mesmo tempo.

Se  a vida fosse uma partida de futebol, aos trinta e cinco anos estaríamos ainda no final do primeiro tempo, já entrosados e dominando o  jogo e sem preocupar com o final  da partida, fazendo gols e dando espetáculo pra torcida. Como se ostenta aos trinta e poucos  anos! Não é pra menos. Somos mais bonitos, mais felizes, e se não temos mais dinheiro podemos ao menos dizer que possuímos, ainda, todo o tempo do mundo para conquista-lo. Um cara nessa faixa etária consegue quebrar, arruinar, aprender, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, e ainda será digno de admiração e citado como exemplo e, se bobear, ainda consegue empréstimo no banco a juros camaradas contando com a amizade do gerente.  Aos  trinta, você ainda é tratado com condescendência pelos mais velhos, que lhe permitem errar sem maiores consequências para a sua reputação. Nesta idade, você consegue não só uma segunda chance, mas também uma terceira e, se precisar e desde que antes dos quarenta, uma quarta chance.

Na imensa maioria dos casos, e salvo alguma doença inesperada ou alguma descendência temporã, todos temos pais vivos aos trinta anos e eles nos olham com orgulho, mesmo quando casamos com a mulher errada, vamos parar no SPC ou perdemos dinheiro pesado no jogo – nossos genitores haverão de ainda considerar a estes erros meras  peraltices e estudantadas típicas da juventude. Pelo menos até que passemos dos trinta aos quarenta. Estes defeitos, depois dos quarenta, serão imperdoáveis mesmo aos olhos carinhosos de nossos entes queridos.  Mas aos trinta tudo se pode, porque nessa idade a vida é infinita, os erros são aprendizados e as glórias serão sempre eternas.

Quando ainda não largamos em definitivo a juventude, quando ainda podemos ser considerados jovens adultos ou quando ninguém ainda nos chama de “senhor” ou (infinita ignomínia) “Tio”, podemos nos dar ao luxo de formar em um segundo curso superior, vender nosso negócio e mudar pra Arraial d´Ajuda ou desistir da faculdade e ir lavar pratos em Nova York. Há tempo pra isso tudo e muito mais, neste final de juventude temperada com maturidade em que os amores são mais físicos e menos poéticos, mas nem por isso menos verdadeiros e ardentes. Com trinta e poucos anos temos o fôlego e a virilidade dos dezoito anos acoplados à experiência e à paciência indispensáveis ao exercício sincopado do amor corpóreo.

E a famosa “mulher de trinta anos”? Celebrada mundialmente desde o escritor francês Balzac em pleno século 18, é desde então e sempre considerada a melhor mulher, a mais doce, carinhosa e, ao mesmo tempo, liberta de preconceitos e de amarras morais que sempre tolheram mulheres ao longo da história e ao redor do mundo. A melhor notícia que se tem hoje, aliás, é que com os avanços da ciência, da medicina cosmética e plástica e da educação física, com alimentação  saudável e suplementos, cirurgias e preparo físico, a antiga mulher de trinta, lindíssima, chega aos  quarenta e aos  cinquenta do mesmo jeitinho maravilhoso. Nós, homens, temos assim o privilégio de rejuvenescer com elas e mantê-las lindas como aos trinta anos e por mais uma ou duas décadas, como em  um verdadeiro e memorável feitiço do tempo, permanecendo todos na melhor década de nossas vidas. Afinal, melhor do que estar com trinta anos é não deixá-los ir embora jamais.
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor