Urnas fraudadas
Tenho mais de vinte anos de exercício intermitente como juiz eleitoral, presidindo eleições realizadas através de urnas eletrônicas. Nunca, repito: nunca, presenciei casos meramente suspeitos que fossem envolvendo a estas urnas em específico. Por um simples motivo: elas funcionam off line durante a apuração dos votos e este funcionamento é antecedido e sucedido, de forma imediata, por listagens zerézima e de resultados que são acompanhadas em tempo real por mesários e fiscais de partidos. De todos os partidos, diga-se. No entanto, as urnas são de fato obsoletas hoje e não vejo qualquer problema em atualizar seu funcionamento, tornando o voto auditável, como sugere muita gente boa, inclusive o presidente da República. A lógica é simples: quem não deve não teme. Ao contrário, acho estranho que exista resistência dentro do TSE ou por parte de muito formador de opinião pseudopensante resistindo a esta mudança. E não adianta dizer que seria caro – quem autoriza gasto de mais de cinco bilhões com o desnecessário Fundo Partidário não pode se dar ao luxo de reclamar de despesas muito mais oportunas.
O Centrão
Retire todas as conotações pejorativas que ao longo dos anos são despejadas através da mídia. O “centrão” da Câmara dos Deputados não é um bando de políticos a disposição para serem corrompidos ao custo do loteamento de nomeações e verbas orçamentárias. Ou ao menos em teoria não é pra ser assim. Um parlamentar do Centrão nada mais é que um político moderado, sem vinculações ideológicas e que age pragmaticamente. Portanto, possui um posicionamento maleável e independente e uma tendência imprevisível e que pode se modificar ao sabor do momento político. Essa ala moderada é muito comum, por exemplo, no parlamento inglês, e é ela que dá a toada da governabilidade do gabinete eleito. Se estamos mudando para parlamentarismo ou semipresidencialismo (que eufemismo esfarrapado), é bom que nos acostumemos com os deputados independentes, moderados, do “Centrão”. Agora, é claro que há deturpações em todos os sistemas políticos do mundo e pode bem ser que deputados sem tendência ideológica como o são os moderados acabem de fato se corrompendo, mas isto também ocorreria em tese com aqueles outros que polarizam o parlamento. Interesses escusos os há em todos os polos e cantos da política, mas também há os excelentes exemplos.
Democracia semidireta
Por ocasião das últimas eleições presidenciais norte-americanas entre Biden e Trump e o questionamento deste último quanto à incrível derrota sofrida nas urnas, aproveitei para revisitar os fundamentos do Direito Eleitoral dos Estados Unidos, que possuem base constitucional particularíssima. Como se sabe, por lá o voto é semidireto e o eleitor vota no delegado do partido – e este é que irá escolher o presidente da República. Fui entender o porquê disso relendo “O Federalista”, e apesar da resistência de importantes representantes do pensamento político mundial, a motivação é prudente e justíssima. Com o voto semidireto se evita o equívoco eleitoral gigantesco de se colocar no poder um tirano ou um insensato, presumindo-se que políticos votem mais conscientemente do que o eleitorado. É claro que isto vai depender da qualidade de nossos representantes, mas a causa é justa. Curioso que, durante a denominada “ditadura militar”, os generais presidentes nos tenham imposto eleições semidiretas e todos os presidentes eleitos durante aquele regime tenham em tese se submetido à oposição na eleição junto ao colégio eleitoral formado por parlamentares. Nos Estados Unidos é assim e sempre foi e o país é considerado democrático. Por aqui, enquanto durou, era sinônimo de ditadura.
A Olimpíada e o doping
Em toda Olimpíada há casos de doping, alguns deles visíveis. Basta-nos uma primeira vista sobre os rapazes e moças transformados fisicamente, alguns simiescos, outros deformados por hormônios e aminoácidos. Com uma queixada que evidencia macromegalia, músculos bombados, sexualidades indiscerníveis, quase não é necessário exame antidoping em muitos esportes e o tal espírito olímpico mais uma vez acaba soterrado por interesses econômicos bastante distantes do desporto. Isso me desanima com os jogos. Ainda bem que todas as espécies de doping são puníveis à luz da legislação esportiva do mundo. E há três tipos: o de resultado, em que o atleta se dopa pra melhorar o desempenho e ganhar disputas desonestamente; o recreativo, em que o atleta se droga na vida privada por entretenimento e acaba caindo na malha fina do exame; e o medicamentoso: o atleta toma medicação para conter uma enfermidade ou para prevenir uma doença, mas o remédio é proibido durante a competição, às vezes porque prejudicial à própria saúde do esportista. Em qualquer caso, para preservar o exemplo social e o espírito olímpico, se pune o atleta dopado, que pode ser até mesmo banido do mundo esportivo.
O Dito pelo não dito
“Se há uma característica comum aos grandes campeões em qualquer área de atividade, é a habilidade de manter o foco”. (Michael Jordan, jogador de basquete americano).