Injustiças injustificáveis
É compreensível que um homem público, seja ele um juiz de direito ou um político, ou uma celebridade do show business, tenha reticências quanto à liberdade de imprensa. Fico imaginando como caras graúdos mesmo, como Lula ou Bolsonaro, devem se sentir todas as manhãs, querendo dar porrada e processar maus profissionais da informação que inspiram contra eles comentários maliciosos em meios midiáticos ofensivos, aguçando-lhes a gastrite e a raiva diante da injúria sofrida em escala global. De qualquer forma, o comentário maldoso, a perseguição midiática e o assassinato de reputações têm sempre dois significados: a intenção de lucrar à custa da desgraça alheia é um deles. O outro, menos óbvio, é a ignorância. O jornalista desonesto com seu público geralmente esconde seu desconhecimento sobre o fato que cobre e veicula, ou sua singela falta de cultura ou mesmo burrice acerca da temática que se vê obrigado a divulgar, simplesmente sendo ofensivo, agressivo, criminosamente apelativo. Liberdade de imprensa nenhuma justifica isso.
Remédio para o mau jornalismo
Quando maus jornalistas começarem a ser processados e a pagar horrores em indenizações, falindo seus patrões com recomposições milionárias de danos impostos pela justiça, quando blogueiros forem condenados por difamar, aí teremos um mundo melhor. Porém, em uma democracia isto só pode vir através de sentenças proferidas por juízes imparciais após um processo regular em que respeitado o contraditório e a amplitude de defesa. De outro modo, com perseguições políticas, ameaças de empastelamento, prisões arbitrárias e decisões oportunistas proferidas por autoridades incompetentes e interesseiras, deste outro modo não haverá democracia. Prefiro a má imprensa a com um governo ditatorial. Prefiro passar raiva com o repórter inculto e mal educado do que com o juiz parcial ou com o político corrupto que, para acobertar seus pecados, tenta calar a boca da imprensa.
Censura prévia?
Em boa hora se aboliu a censura prévia no Brasil. Por isso é que o homem de imprensa pode publicar o que bem entender, pode dar a linha editorial que quiser ao seu veículo de comunicação. Não pode ser tolhido nisso, não pode haver censura prévia. Agora, eventualmente responderá por seus exageros, inverdades, ofensas, e arcará civilmente com indenizações, ou criminalmente, vendo o sol nascer quadrado por um tempo. Mas manietá-lo presumindo o crime que ainda não houve, ou como represália ou vingancinha mesquinha e privada pelo comentário maldoso na edição de ontem, não. Aí não estamos falando de justiça e democracia – e olhe que a democracia é cara, cobra um preço alto pela liberdade: no caso, aguentar maus jornalistas vez ou outra, e sua indústria de boatos e maledicências. Paciência. Ainda é muito melhor que suportar congressistas e autoridades ditatoriais.
O factoide da Jovem Pan
Digo isto por conta do criminoso factoide lançado contra a Rede Jovem Pan de comunicação – hoje o veículo de notícias de maior credibilidade no país. Ao término do recesso o Circo da CPI da Covid, o relator daquele teatro de horrores, o questionadíssimo senador Renan Calheiros, solicitou mesmo antes do reinício daqueles deploráveis trabalhos de inquisição que diversos veículos de imprensa tivessem suas contas devassadas, curiosamente todas instituições direta ou indiretamente ligadas ao conservadorismo político atualmente no poder: Brasil Paralelo, Allan dos Santos e sua Terça Livre e... a Jovem Pan! Foi fazer isso e choveram críticas em um dia, para no outro o próprio Renan e seu séquito de áulicos da CPI da Covid pedirem desculpas, dizerem que foi “engano”! Talvez erro de digitação ou do estagiário, quem sabe... Mesmo em uma republiqueta de bananas como aquela em que estamos nos transformando fica bem claro, e não se perdoa, o lançamento de um factoide, de um balão de ensaio, para intimidar a imprensa que não é simpática à oposição. E não o é porque não faz o jogo de grandes empresas de comunicação que aderem ao marxismo cultural para repelir governos conservadores, ou porque simplesmente se mantém imparciais em um lamaçal de intenções obscuras que cercam outros formadores de opinião menos afortunados que buscam, no caos, a glória.
Errando de tom
A Rede Jovem Pan de Comunicações muitas vezes erra no tom, é panfletária à direita ou teimosamente chapa branca, quando poderia exercer um pouco mais seu juízo crítico, mas é muito, muito melhor que a concorrência e seus profissionais e articulistas sérios não se deixam impressionar pelo enorme volume de desinformação que é pulverizado de maneira estrategicamente concatenada para disseminar o ódio. O verdadeiro gabinete do ódio não está no palácio do Planalto, está (infelizmente) em outros poderes da república, está em academias e entre falsos intelectuais, e está, também, na grande mídia – e não estou falando da Jovem Pan, que não deve se intimidar diante do factoide lançado por Renan Calheiros para mostrar ao mundo como ele é mau com seus adversários. Fatos notórios não precisam de comprovação – é o que diz a lei.
O dito pelo não dito.
“Onde há liberdade de imprensa, a distribuição do espaço na mídia acompanha a divisão das preferências ideológicas entre a população. No Brasil, a opinião majoritária da população está totalmente excluída da grande mídia. Isso é liberdade de expressão?” (Olavo de Carvalho, filósofo e escritor brasileiro).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor