Desmonetização
Nasci em 1969 e as tecnologias simplesmente não funcionam bem comigo. Ou eu com elas. Sou o único empreendedor digital do mundo que ainda acha que “nuvem” tem significado meramente meteorológico. Mas aprendi o que é monetização: você publica vídeos na internet e conforme eles vão ficando populares, vão “viralizando” (outra expressão nova importante), anunciantes surgem e você começa a ganhar um dinheirinho com isso. Mas o STF cunhou uma nova expressão: a desmonetização, ao impedir que os canais conservadores lucrem o que quer que seja com suas postagens em redes sociais. Acho que essa é nova no mundo inteiro, ou ao menos onde se privilegia a iniciativa privada, e equivale a uma lei da mordaça econômica. Não tem problema: quando youtubbers progressistas falarem da foice e do martelo, ou falarem que o Judiciário persegue Lula, ou defenderem o comunismo, quero o mesmo tratamento pra eles. Aí tudo bem: pau que dá em Chico tem que dar em Francisco.
A Anticiência
Considerando-se que toda pesquisa científica e, via de consequência, toda descoberta científica é empírica (embasada em tentativa e erro), não posso concordar com o Ministro Barroso quando o mesmo afirma que a “anticiência” não pode ter proteção constitucional. Aliás, eu quase nunca concordo com o Barroso, mas aí já é outra história. O interessante aqui é que não existe “anticiência”, coisa que um intelectual como o nosso ministro deveria saber muito bem se agisse com seu intelecto jurídico e não com seu coração ideológico ao falar uma imprecisão dessa magnitude (falei “imprecisão” pra não ser preso nem ser “desmonetizado”, viu? Se estivesse falando de um simples mortal, diria “burrice”). O resultado científico errado serve como trampolim para a descoberta certa na experimentação seguinte – Thomas Edison e a sua lâmpada ensinaram isso pra humanidade. E toda opinião, certa ou errada, merece proteção constitucional. Rosa Luxemburgo, comunista sim, mas de outra estirpe (mais autêntica), dizia que a liberdade que interessa é somente a liberdade de quem discorda de nós.
O Talibã é de esquerda!
Um movimento que combate o imperialismo com o apoio de grandes massas populares e que procura transferir o poder de elites aristocráticas para um aglomerado de militantes... Não. Não estou falando do PT, mas do Talibã, e qualquer semelhança não será mera coincidência. Claro que você vai falar das diferenças aparentemente mais gritantes entre os fanáticos muçulmanos e os fanáticos socialistas da turma do Lula: o elemento religioso e a violência. Será? Eu já disse aqui, diversas vezes, que nazismo, comunismo, fascismo, não são ideologias, mas religiões políticas – a ideia é de Yuval Hahari, o autor de “Sapiens”, o novo pensador acima de qualquer suspeita da intelectualidade. A diferença religiosa, assim, desmorona. Resta a violência: de novo, parece que não estamos no mesmo planeta nesse quesito, eu e os pensadores de esquerda. Por aqui associamos a ideia de democracia às esquerdas e a ideia de pancada estatal e repressão aos conservadores porque nossa última experiência escancarada de luta ideológica foi entre militares do regime que comandou o Brasil por vinte anos contra comunistas adestrados em Cuba que eram pseudointelectuais imberbes, muitos deles presos, torturados, mortos, exilados (voluntariamente ou não). Isto se deu porque a esquerda perdeu, ao menos no campo das armas, aquela Revolução de guerrilhas e AI-5. E quem perde apanha, e quem apanha não esquece – aliás, nos lembram disso até hoje em todo palanque político. Só que esse exemplo recente é a exceção. Em todo lugar que a esquerda tomou o poder, o fez pelas armas e, no poder, dizimou e calou a boca de inimigos. Não estou falando de partidos de esquerda, tá bem? Estou falando de governos comunistas e socialistas e os milhões que eles dizimaram ao redor do mundo. Então, ficamos assim: a esquerda brasileira é religiosa no pior sentido, que é o ideológico/político, e só não é armada porque não precisa – e se precisasse estaria, tal qual o Talibã. Para quem assassina reputações, assassinar pessoas é só mais um passo (não é, Adélio?).
O Impeachment de Alex Luthor
Não é impossível a um ministro do STF sofrer impeach-ment. Seria inédito, não inviável. O que o pessoal está pedindo é aquilo que a constituição prevê – e quando falo “pessoal” estou falando simplesmente de setenta por cento das pessoas que conheço, e conheço gente de todas as classes sociais e tendências políticas. Alexandre de Moraes pode ser implicado pelo teor das suas decisões? Depende. Em um quadro de normalidade no exercício da magistratura, não. No entanto, quando suas decisões são escatológicas e afrontam reiteradas vezes a dispositivos expressos da Constituição que Moraes, mais do que um cidadão comum e muito mais que um magistrado de carreira, deve defender a qualquer custo, aí é possível. O impeachment de Dilma, apeada do poder sem crime de responsabilidade, nos mostrou que tudo é possível no Brasil com o apoio do Congresso Nacional.
O dito pelo não dito.
“Os seguidores de toda religião estão convencidos de que somente a sua é a verdadeira.” (Yuval Hahari, escritor israelense).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor