ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 22-09-2021 00:02 | 511
Foto: Entretanto Renato Zupo

Henry Kissinger, Japão e Afeganistão.
Henry Kissinger está bem vivo e é articulista do jornal americano The Economist. Ele é tão antigo que foi secretário de Estado do governo Nixon e, depois, do governo Ford (estamos falando de meados da década de 1970). Está com 98 anos muito bem vividos e em recente coluna, por aqui reproduzida no Estadão, vaticina e diagnostica aos motivos da retomada do Afeganistão pelo Talibã: tal qual no Vietnã, os EUA não levaram em conta que após a invasão e a vitória viriam a ocupação e o controle para a redemocratização, conceito este bastante volátil. Para isto, deve-se levar em conta a tradição do inimigo que paira sobre a terra ocupada e o Afeganistão é um país composto por clãs feudais com sistemas políticos seculares. Sem a mudança deste paradigma, o que os americanos fariam por lá seria só guardar a vaga para o próximo ditador, gastando dólares e matando gente nesse meio tempo – tal qual no Vietnã. Kissinger, aliás, por ocasião do conflito no sudeste asiático, já alertava Nixon disso e conseguiu com Gerald Ford a retirada incondicional das suas tropas de um Vietnã que vivia então uma guerra intestina, entre o norte comunista e o sul ainda subserviente a Washington. Mas já era tarde demais – as cicatrizes da desastrosa intervenção americana no oriente médio marcariam a uma geração de americanos. Bom seria se os EUA fizessem como ao final da Segunda Guerra com o Japão: não destruíram Tóquio, capital das mais populosas do mundo, e preferiram estourar bombas em Hiroshima e Nagasaki, para influenciar a rendição japonesa. Não interessava a dissolução do Estado Japonês, mas retirar-lhe os atributos divinatórios de seu Imperador Hiroito (então comparado a um deus), tornando aquele um país laico e parceiro comercial que compartilhasse a democracia americana e o american way of life – e conseguiram.

O legado do September Eleven
A economia norte-americana é tão poderosa que, vinte anos após o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, se percebe que aquela surpreendente ação terrorista trouxe muito mais lucro do que abalo ao país que é o berço do capitalismo mundial. Nova York, cenário dos aviões transformados em bombas que polvilharam de ruínas e sangue as ruas do coração econômico daquela grande cidade, foi premiada com uma expansão imobiliária rápida e lucrativa após os atentados e hoje o turismo por lá cresceu e atingiu índices até então apenas sonhados: o local onde ficava o antigo World Trade Center é um dos mais procurados pontos turísticos de Manhattan, o distrito mais rico da Big Apple. Os EUA, como sempre e ainda mais ao atacar a Al Caeda, Osama Bin Laden, Saddam Hussein, Iraque, Afeganistão, etc… ganhou dinheiro com guerras, ao menos enquanto elas ocorriam. Podem não ter sabido vencê-las, mas o que venderam de armamentos, incentivando a indústria bélica no país, não teriam conseguido com uma nova guerra mundial. Politicamente, estas duas décadas assistiram a triunfos republicanos (Bush e Trump) e democratas (Obama e Biden), demonstrando que o terrorismo não impediu a saudável pendularidade da indestrutível democracia estadunidense. Em suma, a América demonstra que é o país mais próspero e forte do mundo, o Xerife do planeta, e seu império de controle sobre os demais povos da humanidade está longe de ser concluído. Graças a Deus. A ser dominado, prefiro sê-lo por americanos do que por russos ou chineses.

A vacinação do Brasil
Queiram ou não seus detratores, ou gente de outros poderes que utilizam do cargo para fazer política fora de hora, Bolsonaro vacinou o Brasil. Tivessemos só nos fiado na Coronavac de Dória e Butantan, estaríamos vacinando duzentos mil por dia, ainda com números pífios de imunização completa com uma vacina com baixa taxa de eficácia e proteção. A Coronavac foi boa porque veio rápido, mas sem a ação do governo Federal, incentivando-a em seguida e apresentando alternativas vacinais à população, a vitória política de Dória seria uma vitória de Pirro. E olhem que o STF desde o começo atrapalhou ao presidente da república, mandando-o gastar sem ao menos orientar os gastos: dizendo que todos os entes federados mandavam igual. Com isto, Gilmar Mendes e seus pares jogaram às traças o pacto federativo e impediram a presidência de elaborar e executar um verdadeiro plano nacional de combate à pandemia. O Brasil hoje é o terceiro do mundo em total de vacinados. Seu atual ministro da Saúde tomou posse dizendo que vacinaria um milhão de brasileiros por dia, algo que todos consideraram surreal. Atualmente, vacina quase dois milhões ao dia. Duplicou as expectativas. E há gente que chama a Bolsonaro um genocida, talvez pessoas impelidas pela má política, pela política dos corvos e urubus barulhentos que orienta a CPI da Covid, até hoje moribunda e arruaceira. Os eleitores deveriam tomar nota dos protagonistas desse circo de horrores, lembrando-se deles em eleições vindouras, sim, mas para varrê-los de vez do mapa da política partidária brasileira. Para afugentá-los de Brasília onde, do Planalto Central, irradiam ignorância aos quatro cantos da nação.

O Dito pelo não dito.
“Um diamante é um pedaço de carvão que se saiu bem sob pressão”. (Henry Kissinger, estadista americano).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor