ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 24-11-2021 16:58 | 533
Foto: Reprodução

A vista chinesa
Dentro da Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, há um mirante chamado “Vista Chinesa”, de onde se descortina a belíssima  mata atlântica litorânea carioca. Há outras vistas chinesas, porém, que não permitem que se veja muita coisa. Aliás, é vista grossa e atua encobrindo o  que deveria exibir O mundo todo permanece calado diante dos desmandos da China Comunista, onde não há democracia e ne eleições livres O país mais densamente povoado do planeta abusa na  ofensa aos Direitos Humanos, pune opositores do regime ditatorial que é imposto há quase um século naquele enorme país asiático.  Curioso que, por muito menos, se fale da Rússia de Wladmir Putin. Mas chineses não podem ser difamados, nem quando a acusação é justa – que o digam Eduardo Bolsonaro e Abe Weintraub, excomungados como racistas  porque ousaram imputar aos chineses a responsabilidade sobre a pandemia do Coronavírus. Já imaginaram se o vírus tivesse sido replicado ou criado em um laboratório dos EUA por Donald Trump? Aí todo mundo poderia acusar o ex-presidente ultradireitista. Quanto aos “pobres” chineses, as vistas e olhares de todos se obscurecem perante suas ações despóticas. Agora mesmo, há uma jornalista morrendo internada em um hospital chinês, porque faz greve de fomes desde meses atrás, quando foi presa por revelar para o mundo os efeitos nocivos da política pátria durante a pandemia.

A Conferência do Clima
Já mexi com política estudantil. Naquela minha remota fase de dirigente, toda reunião para discussão de propostas acabava em churrascada e em festas e não redundava em qualquer coisa prática e útil. Guardadas as enormes e devidas proporções, a COP 26, a Conferência do Clima, não é diferente. O mundo já protege seus ecossistemas, a ecologia já é uma ciência respeitada e seguida, a proteção ambiental já é a regra na maioria dos países democráticos do mundo. De vinte anos para cá estamos vivendo um fenômeno diferente: espécies extintas estão voltando a se replicar e a povoar o planeta, habitats vem sendo preservados, reservas ecológicas se expandem, a natureza se regenera e o tal efeito estufa já vem sendo remediado. O que almejam os políticos que protagonizam a COP é a utilização ideológica da bandeira ambientalista para gritar palavras de ordem e utilizar de maneira eleitoreira a boa imagem de guardiães da humanidade criada pela ditadura cultural do politicamente correto. É para isto que servem as conferências do clima.  E é só.

Moro declaradamente político
Não precisava. Desde a época da toga Sérgio Moro sempre pareceu aos entendidos e conhecidos um político despachando processos judiciais. Por tudo, ele foi político enquanto magistrado, orientando ideologicamente sua caneta, vazando informações seletivas e cirurgicamente estratégicas, influenciando a uma eleição presidencial de maneira escancarada. Não culpo Bolsonaro por Moro. Não culpo Lula por Moro.  Culpo Moro por Moro. Nós magistrados abominamos aqueles dentre os poucos de nós que fazem política partidária dentro de processos, ou se mostram parciais em suas decisões – é uma ofensa gravíssima ao Estado democrático de Direito. Acho Lula deplorável para o país, mas jamais o conduziria coercitivamente para depor, só porque é o Lula – Sérgio Moro fez isso. Posso detestar o PT, mas jamais criaria crimes inexistentes para condenar seu dirigente supremo e criador – Moro também fez isso, condenando por corrupção passiva a um réu, de novo Lula, que não era servidor público e que, portanto, não poderia ser corrompido. Jamais orientaria a um dos lados de um processo complicado que afetava os interesses da República, em detrimento do outro lado – e nosso ex super juiz também fez isso. Não vazaria conteúdos de interceptações telefônicas obtidas e realizadas em segredo de justiça – e isso é crime, e Moro permitiu que fosse cometido, e ninguém falou nada, porque era Moro. Essa alforria coletiva, no entanto, esse alvará permanente para fazer e dizer em nome do “combate à corrupção”, esta bandeira sem cor e sem tamanho e na qual tudo cabe e tudo é permitido, essa bandeira Sérgio Moro a perdeu, para a política e para a vida.

Gilberto Gil na ABL
A Academia Brasileira de Letras escolheu Gilberto Gil para integrar seus quadros. Gil é um compositor maravilhoso e um músico fantástico,  dos melhores violonistas que  já ouvi tocar. Não se pode confundir o Gil músico e artista com o Gil político, erro que também cometem com Chico Buarque, outro gênio das artes. Ambos, Gil e Chico, gigantes da música, anões ideológicos – mas não estamos fazendo política quando reconhecemos o belo e o talento das pessoas e dos gênios. De novo, estamos sendo estéticos, utilizando-nos dos sentidos para explicar o mundo através da arte, um ramo da filosofia que desconhece motivações políticas. Gil era merecedor, embora existam inúmeros melhores que ele para compor a ABL, mas era merecedor e ponto final. E viva sua obra. Aos que criticam a escolha de um músico para compor nosso panteão maior das letras, lembro que a Academia Brasileira é de letras, e não de livros, e que já a compõem diplomatas, juristas e outros luminares que não exercem diretamente a literatura autoral em livros de poesia ou prosa. E há o exemplo do Nobel de Literatura entregue a outro músico não-escritor, Bob Dylan.

O Dito pelo não dito.
“A melhor coisa que você pode fazer por uma pessoa é inspirá-la”. (Bob Dylan, músico americano).