ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 14-12-2021 00:25 | 394
Entretanto Renato Zupo
Entretanto Renato Zupo Foto: Arquivo

Milícias armadas indígenas
O instinto belicoso das nações indígenas é histórico – só o cristianismo nos pacificou, e quem duvidar disso dê uma olhada no mapa do mundo e verifique onde perduram as guerras étnicas e religiosas. Sempre, ou quase sempre, onde a fé católica não conseguiu penetrar. Por isso padres jesuítas tentaram catequisar índios durante o período do Brasil Colônia: era uma estratégia de sua domesticação para fins políticos e econômicos. Ainda por aquela época, é notório que portugueses jamais conseguiriam derrotar povos indígenas massificados e beligerantes sem “ajuda interna”. No caso, a nação Tupi tinha ganas de conquistar outros nativos litorâneos e ribeirinhos e auxiliou ao colonizador europeu dizimar outras tribos ou encurralá-las sertão adentro. Este ímpeto guerreiro parece do DNA indígena e os nativos brasileiros sempre demonstraram selvageria dentro de suas reservas amazônicas – “selvageria” aqui vem de “selvagem”, ou “silvícola”, indivíduo destituído de civilização. Não tem sentido pejorativo, pelo amor de Deus. E agora? Caciques criando milícias armadas, matando garimpeiros e exploradores de mogno, isso tudo é notícia antiga. Você pode tratar isso como um fenômeno antropológico provocado pelo colonizador branco, se quiser a opção mais fácil. A mais correta é: isto é apenas o índio sendo o índio, sempre. E aviso aos navegantes: pela lei, índios silvícolas são irresponsáveis civil e criminalmente, tal como as crianças. Não podem ir para o banco dos réus porque praticam delitos. Absurdo isso.

Evasão escolar durante a pandemia
171 por cento! Mais que dobraram os números da evasão escolar de nossas crianças e adolescentes durante a pandemia. Quando os índices falam de “evasão” não estão dizendo, obviamente, do período em que as escolas permaneceram fechadas para aulas presencias ou à distância, mas sim do período em que estas aulas, disponíveis, não foram frequentadas pessoal ou virtualmente pelo alunado. Era de se esperar. Dez anos atrás presenciei um menino pedindo a um pai para lhe comprar um gibi – e o genitor irresponsável mandando o filho trocar a despesa por um picolé, que seria mais aproveitável aos olhos ignorantes daquele idiota. Pais não valorizam o ensino como deveriam, em todas as classes sociais. Mesmo com ensino público e privado cada vez mais mesclado (instituições privadas de ensino são grandemente subvencionadas por verbas governamentais – vide crédito educativo subvencionado), ou seja, mesmo com quase tudo gratuito aqui do lado de baixo do Equador, ainda assim pais não incentivam filhos ao estudo, jovens não estudam com o afinco devido e não prosseguem estudando, mesmo com as portas da educação que lhes são escancaradas 0800. O motivo disso? Pode escolher: a) o alunado vê pessoas se formando e continuando na linha de pobreza, ou melhorando muito pouco, o que desestimula aos estudantes que virão ou que já estão em vias de se formar; b) o mercado de trabalho cada vez mais convidativo e oportunista para jovens desde os 16 anos: o imediatismo juvenil de ganho de dinheirinho rápido toma o tempo do adolescente e o retira da escola, até para ajudar aos pais. Durante a pandemia, então, isso só piorou: faltou dinheiro entre as famílias, o desemprego generalizou entre os mais pobres e todo mundo teve que partir para a sua dose proporcional de sacrifício, o que inclui abandonar aulas, mesmo que virtuais, para ajudar a pagar a conta de luz. Isso quando havia luz quitada. Sem ela, nem o acesso às aulas virtuais seria possível ! E aulas virtuais são péssimas como feitas por aqui, convenhamos. Não prendem alunos à sua temática e conteúdo, porque educadores à distância persistem em se comportar como se estivessem em sala de aula- não funciona, decididamente.

O incêndio da Boate Kiss você ainda se lembra?
Finalmente começaram a ser julgados alguns dos réus do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria/RS. E as pessoas perguntam: por quê demora tanto um caso tão emblemático desse? Processos criminais realmente demoram no Brasil entre sete e dez anos, isto com réus soltos. O processo do Mensalão (remember Joaquim Barbosa), com tanta celeuma midiátca, durou sete anos. Não é uma jabuticaba brasileira: na Itália e na Espanha a demora é mais ou menos essa. Os culpados disso são os ritos processuais arcaicos, medievais as vezes, a imensa variedade de recursos que impede a eficácia da decisão do juiz enquanto não confirmada por várias instâncias, e, sobretudo, uma coisa que não vão te falar na faculdade de Direito ou nas ruas: nossa cultura judiciária de leniência: juízes brasileiros são péssimos para punir. São juízes de absolvição ou pena mínima – raízes históricas e religiosas explicam isso muito bem. Nesta toada, a Boate Kiss é só mais um pouquinho do mesmo. Processo aqui só tramita rápido quando é contra político candidato à reeleição.

Semipresidecialismo
Está tramitando célere no Congresso emenda constitucional do semipresidencialismo. Ideia do Supremo Barroso, apadrinhada obviamente por parlamentares, visando enfraquecer o que consideram ser um presidencialismo falido, exemplificado por recenes gestores alvo de polêmica e insatisfação popular. Não vejo desta forma. Lula, preso e condenado e absolvido, enquanto presidente era um fenômeno de popularidade. Bolsonaro só é questionado por seus detratores: seus eleitores continuam muitíssimo satisfeitos com o jeito de ser do Capitão. Ruim mesmo foi Dona Dilma, e para isso tem o impeachment.

O dito pelo não dito.
“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”. (Imanuel Kant, filósofo alemão).