Indústria cultural
Deixe-me falar sobre a indústria cultural brasileira. Esta mesma que brada contra políticos corruptos e faz campanha ideológica contra o governo federal conservador. Tenho projetos culturais há dez anos, lanço livros pelo Brasil e exterior afora. Em todas as oportunidades, todas, em que me deparei com assessores de comunicação, agentes literários, grandes redes de comunicação, tive sempre a impressão de estar diante de uma indústria milionária. Mas não é só isso: se você não for um Neymar da sua área, um fora de série, precisará de contatos pessoais e dinheiro para se promover – é essa a toada dos cadernos de cultura, do jornalismo cultural, do entretenimento midiático. É esse pessoal que pretende dar lições de moral a esmo, supostamente defendendo os valores nacionais e republicanos. Lembro-me dos artistas da época de Getúlio Vargas: o ditador gaúcho fazia e acontecia e mandava matar (matar!), prendia desafetos políticos e perseguia opositores ao seu regime simpático ao fascismo. Ele se vestia como uma mistura de Mussolini e Hitler, também de farda e com um gestual ridículo. A classe artística, no entanto, se calava. Em troca, Getúlio mantinha abertos os cassinos. Quando não há distribuição de benefícios, artistas viram ideólogos.
Lobão
Vinte e cinco anos atrás o cantor Lobão denunciou a indústria do “Jabá”: músicos apareciam em programas de auditório e tocavam nas rádios conforme as gravadoras pagavam por sua exposição. Foi um escândalo e a indústria cultural passou a boicotar Lobão, que sumiu das rádios e dos programas do Faustão e do Gugu da vida – esta era a mídia daquele tempo. O roqueiro transgressor teve que apelar para a inventividade e lançar CD com recursos próprios e distribuição em bancas de jornais, porque até as lojas de disco se fecharam pra ele. O pessoal do mainstream sabe ser cruel: gelaram também José Mayer por uma suposta denúncia de assédio sexual (jamais comprovada), conforme outrora fizeram com os cantores Jair Rodrigues e Wilson Simonal. O primeiro ousou afirmar em alto e bom som que sua amiga Elis Regina de fato morrera de overdose (coisa que a imprensa evitava falar) e o segundo caiu no ostracismo porque era simpático aos militares durante o regime de 1964. Pois é. Concorde comigo, ande conforme as minhas regras, agite a bandeira da moda, ou te ponho no freezer – a lição da indústria do entretenimento é esta. Decifra-me ou te devoro.
Hemingway
Sempre considerei Ernest Hemingway um artista supervalorizado. Foi considerado o melhor escritor de língua inglesa de seu tempo, premiadíssimo e best seller, mas para mim ele tinha um bom ouvido para diálogos e é só. Aliás, também esta a opinião de outro escritor, Charles Bukowski – este sim fantástico. O lance era que Hemingway (Hem para os amigos) sabia construir lendas ao redor do próprio nome. Não vendia livros, vendia partes de sua vida aventureira: herói da primeira guerra mundial, atuou como voluntário na guerra civil espanhola e na espionagem durante a segunda grande guerra. Libertário e opositor de ditaduras, amante de várias mulheres, bebia rios caudalosos de álcool e cultivava amigos. Lutava boxe e caçava ursos, e nas horas vagas vivia ao sol do caribe fumando charutos e degustando a fama de ter sido o mais famoso escritor de sua época. Ah! Viveu em Paris certo tempo, durante os anos de ouro da capital francesa, e por lá aprimorou seu texto. Matou-se aos sessenta e poucos anos com um tiro de espingarda. Esse era o velho Hem.
E 2022?
Já vencemos a pandemia. O presidente apelidado maldosamente de genocida nos vacinou em massa e hoje estamos bem e a COVID 19 é apenas um retrato na parede. Alguém aí, por falar nisso, se lembra ainda da CPI da Covid? Aquela balela orquestrada por palhaços deu em pizza depois de muito gasto de tempo, de paciência e de dinheiro público. O objetivo era minar Bolsonaro, coisa que não se conseguiu diante da escandalosa diferença entre as críticas daquele povinho encrenqueiro e da realidade que os bons números da vacinação nos proporcionaram. O presidente deve ser reeleito. Não tem ninguém forte o suficiente para fazer-lhe frente. A tal terceira via é apenas uma tentativa de capturar votos dos indecisos, mas ninguém suporta Moro, Dória, Eduardo Leite, essa patota sem sal toda. A economia e a política continuarão nos preocupando – e, repito, só o que retira nosso presidente do poder são os preços dos gêneros alimentícios, da gasolina e o retorno da inflação. Fora isso, tudo suave na nave.
O dito pelo não dito.
“Mesmo quando estava entre a multidão, estava sempre sozinho”. (Ernest Hemingway, escritor americano).