A Bela e a Fera
A história famosa da princesa bonita que se apaixona por um ser deformado nasceu de uma fábula antiga e se transformou em um musical da Disney estrelado na Broadway com bastante sucesso. Também virou série, animação, longa metragem, etc... Agora, em nome da politização de padrões culturais e estéticos, a mesma Disney relança o espetáculo, mas com uma princesa “Bela” negra e obesa. Tudo para fugir aos padrões de beleza socialmente aceitos e para demonstrar uma pretensa igualdade étnica e estética. Nada contra isso à luz do Direito. Se a obra é de domínio público ou o titular dos direitos autorais consente em metamorfosear seus conceitos, fica tudo de bom tamanho e ninguém é processado. Ocorre que a mudança de paradigmas culturais, abrupta ou enfática, transtorna referências históricas e culturais – como fazem agora com a obra de Monteiro Lobato, extirpando de Emília comentários racistas dirigidos à Tia Anastácia, no inesquecível Sítio do Pica pau Amarelo. Como ficarão as gerações atuais que só travarão contato com aquelas belíssimas histórias depois de filtradas pelos critérios politicamente corretos? Vão perder a referência, não é? Fizeram isso ao personagem Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle – retiraram-lhe o vício da cocaína, presente no original e nas traduções adultas, para encantar o público infanto-juvenil sem assombrá-lo com a drogadição do ídolo. Se você quer criar uma história protagonizada por um herói obeso, ou negro, ou chinês, acho ótimo e vá em frente. Dou a maior força. É bom. Mas modificar etnias e estéticas de personagens consagrados na iconografia cultural é hipócrita e massacra conceitos clássicos, fazendo o público de otário.
É crime pensar
O Tribunal de Nuremberg marcou época no Direito Penal Internacional. Sucede que os líderes nazistas sobreviventes à derrota da Alemanha de Hitler alegaram em seu favor que apenas cumpriam ordens superiores e, à luz do Reich, com isto não descumpriam lei alguma, ainda que dizimassem milhões de judeus. Criaram-se então regras internacionais oponíveis a todos os cidadãos e líderes do mundo, independente de sua soberania e do território em que ocorreram as transgressões. Os chamados “crimes contra a humanidade” possuem uma supraterrritorialidade em direito penal. Em qualquer lugar se poderá julgá-los e puni-los, e hoje é na corte internacional de Haia, na Holanda, que os criminosos transnacionais são julgados. É o que deveria acontecer com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Yun, que sempre massacrou seus desafetos e quem não o apoia. Agora condenou à morte pessoas porque contrabandearam uma cópia da série “Round 6” da vizinha capitalista Coreia do Sul. É crime de pensamento no seu mais alto grau, e não só não fazemos nada, como percebemos a hipocrisia da esquerda, principalmente na mídia, que se cala diante deste descalabro. Como diz Mario Vargas Llosa, ditadura é ruim de que jeito for, de esquerda ou de direita.
Quebrando tabu
Por falar em imprensa tendenciosa, que no Brasil infelizmente é a regra, o canal “Quebrando Tabu”, de óbvias inclinações à sinistra, publicou matéria elogiando escancaradamente ao regime comunista chinês do genocida Mao Tse Tung. Parecia claque e torcida, não jornalismo sério. Mao matou cerca de oitenta milhões de chineses, de inanição ou vítimas de perseguição política. Só em nosso país vemos jornalismo pretensa-mente sério envolvendo-se partidariamente em discussões ideológicas. Não estou falando de jornalismo de opinião (atenção). Este sempre existiu e reflete o posicionamento pessoal de um editorialista, ou da linha do jornal, ou do articulista (colunista). Não é isso. Estamos falando de pretensas notícias veiculadas sob um viés de torcida ideológica à direita ou à esquerda. Ou a imprensa simplesmente se cala, no Brasil, quando a notícia não lhe convém politicamente. Igualdade nunca houve em nenhum sistema político. Ibrahim Sued foi o maior colunista social do país em uma época que colunismo social ditava moda e formava opinião. Alguém lhe criticou, dizendo que suas matérias só abordavam elites se divertindo e comendo caviar. Sued respondeu, com razão, que elites sempre existiram em todas as sociedades e sob quaisquer bandeiras políticas. Não adianta fingir que não existem ou não mencioná-las – elas simplesmente ditam as regras. A diferença é que, na monarquia, a elite é aristocrática. No capitalismo, é econômica. No comunismo, burocrática – formada por rábulas e barnabés apaniguados do partidão.
Revisão petista
Já se imaginando de volta ao poder em 2023, o PT e seus próceres pretendem revisar uma série de políticas implementadas durante as gestões Temer e Bolsonaro que, segundo os comunistas de Lula, retiraram direitos e poder de compra dos trabalhadores. Eles focam na reforma trabalhista, privatizações e teto de gastos públicos. Sem contar que quem destruiu a economia foi Dilma, os gastos públicos seriam ampliados pelo PT para garantir mais esmolas estatais, as mesmas que compram votos e apoio parlamentar através de mensalões. Quanto às reformas trabalhistas, influenciam sim a maior empregabilidade, flexibilizando contratos de trabalho – e o mercado agradece. Privatiza-ções? Portugal, com o socialismo no poder, privatizou tudo! O melhor estado é o menor estado, dizia Thoreau.
O dito pelo não dito
“Mulher com passado não pode ter memória” (de um bêbado desconhecido em um bar de Belo Horizonte).
RENATO ZUPO Magistrado, Escritor