ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 09-02-2022 22:27 | 684
Foto: Arquivo

Descanse em paz
Permaneço furibundo com os inúmeros idiotas que louvaram (!!!) a morte de um dos maiores pensadores brasileiros de todos os tempos, Olavo de Carvalho. Ele era, é fato, iconoclasta e polemista. Nisto, sempre me lembrou H.L.Mencken. Portanto, em sendo Olavo uma não-unanimidade, fique à vontade para discordar dele ou mesmo maldizê-lo. Se é daqueles que não conhece e já não gosta pelo que ouviu dizer, também te respeito. Considerarei você, no máximo, preconceituoso – mas hoje em dia quase todo mundo o é. Porém, quem louva e agradece aos céus a morte de uma pessoa só porque pensa diferente dela, ou porque detém posicionamento político antagônico, é um idiota do mau. Não estou falando de gente de esquerda, mas de esquerdopatas – a diferença é brutal. O esquerdopata apedreja o carteiro por causa da carta, repete a mentira intencionalmente e até que se torne verdade, assassina deliberadamente reputações de seus adversários, oculta informações que possam prejudicar-lhe os ideais e apregoa suas qualidades inexistentes, tudo para angariar adeptos às suas discutíveis bandeiras e teses. O esquerdopata não quer resolver problemas sociais, quer ganhar discussões e eleições, pelo voto ou na porrada. O esquerdopata é o que acha que os fins justificam os meios, sejam os meios quais forem: morticínio, calúnias, desinformação, anarquia social, atentados homicidas. Tivemos prova disso no caso Adélio. Estamos vendo isso agora com Olavo de Carvalho. Se bem que no caso do professor Olavo, até entendo o ódio destes idiotas do “quanto pior melhor”: o velho mestre de Virginia, agraciado com a cidadania americana pela genialidade de sua obra, foi o que melhor diagnosticou o fenômeno da hegemonia cultural e da ditadura da desinformação, botou o dedo na ferida dos burocratas da esquerda e desmascarou os ideólogos e falsos intelectuais e mártires que vivem até hoje das chorumelas de 1964. Olavo será lembrado por séculos. Seus detratores irão para o limbo em uma geração.

Afinal, o que importa?
Sucessivas absolvições e anulações de sentenças estão agraciando réus da Lava Jato e outras operações policiais escandalosas, graças aos tribunais superiores, com ênfase para os onze Supremos do STF. É juridicamente insustentável manter processos penais sérios enfiando no mesmo balaio casos e réus diferentes ao fundamento da existência de conexões criminosas infindáveis, isso verdadeiros juristas sempre souberam – mas porque esta “descoberta” não veio antes? Pelos onze supremos passaram os processos do ex-juiz Moro quando Lula preso era como Judas em sábado de Aleluia e Bolsonaro gozava de sucesso retumbante decorrente da eleição presidencial que então ganhara. À época ninguém ruminou a possibilidade de se estar diante de processos e condenações guiados por magistrados incompetentes, com procedimentos nulos regidos por interesses políticos estranhos à seriedade do processo penal. Quando a maré política vira e Moro sai da toga para entrar na política pela porta dos fundos, só aí o STF e outros tribunais “descobrem” o ovo de colombo, o óbvio ululante, e passam a absolver, a diminuir pena, a anular processos. Se os erros eram tão gritantes, por que não foram apontados e desmascarados lá atrás? O cruzar de braços atendeu tão obviamente a interesses políticos, que ouvimos do próprio supremo ministro Gilmar Mendes o clamor, para ele oportuno: estava na hora de dar um julgamento justo para “o Sr. Lula da Silva”. E deram. Tardiamente. O que importa, se com isso se degenera a segurança jurídica de uma nação?

O caçador de corruptos
Moro pré candidato saiu-se com a pérola: eleito, irá permanecer combatendo a corrupção. Mostrou assim sua laia e seu lado enquanto magistrado: juiz não combate crime, seja de colarinho branco ou preto, seja hediondo ou comum. Juiz julga fatos e, apurado o crime, pune o criminoso. Acatar os dizeres de Moro significaria (olhem o perigo) entender que, se o juiz que condena corruptos “combate a corrução”, aquele que os absolve beneficia aos corruptos e é seu cúmplice. Implicitamente, o ex-magistrado aponta sua parcialidade como mérito e usa o estrito cumprimento de seu dever legal, enquanto juiz, como se qualidade fosse. Na verdade, era sua obrigação julgar, e com imparcialidade.

O perigo Dilma
O problema de Lula para as próximas eleições não será somente seu passado de réu preso, ou o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá. O problema do petista é que, se em seus oito anos na presidência dourou a pílula e construiu um reinado de relativo sucesso, o fez às custas da sutileza de esconder no alforje as verdadeiras bandeiras e flâmulas de extrema esquerda que seu partido sempre defendeu. Não assustou o eleitorado, os empresários, a mídia, quando no poder se fantasiou de “Lulinha paz e amor”. Só que depois de Lula veio Dilma, e ela escancarou a ideologia petista. Por mais pirracento e ruinoso tenha sido seu governo, é inegável que Dilma foi uma verdadeira petista, que defraudou escandalosamente o discurso socialista do seu partido, chutou o pau da barraca, queimou o filme e carbonizou o fotógrafo. E afundou o país. É essa “herança política”, legado de sua criatura Dilma, que o criador Lula terá como seu maior algoz no improvável caminho para o Palácio do Planalto.

O dito pelo não dito:
 “O desejo de salvar a humanidade é quase sempre um disfarce para o desejo de controlá-la.” (H.L. Mencken, pensador e ensaísta americano).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor.