ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 16-02-2022 00:16 | 960
Foto: Reprodução

De novo Churchill
Quando a esquerda retoma o poder no Chile, fui equilibrado em todos os meus conteúdos: o jovem novo presidente eleito Gabriel Boric aparentava discurso moderado e não é defeito algum ser progressista. Poderiam ser bons ventos para aquele simpático país em forma de istmo que já foi a vanguarda econômica e cultural da América Latina até bem pouco tempo atrás. Acho que me enganei – e não é que o homem quer abolir as forças armadas?  Isso não é só comunismo: é burrice. Nenhum país fica sem defesa e se o poder armado não pertence aos exércitos profissionais, vai parar na mão de milícias. Para que se tenha uma ideia, no Afeganistão Talibã não há forças armadas – lá são barbudos desordeiros armados pelo  estado que provocam o morticínio. Desarmar o poder constitucional não é caminho para a democracia, é sinal de ditadura. Um dos maiores estadistas da humanidade, Winston Churchill, alertou o mundo inteiro da ameaça nazista enquanto Hitler ainda era o queridinho da imprensa por tirar a Alemanha do buraco financeiro entre as guerras. Ninguém lhe ouvia, até que o líder nazista começou a dominar e destruir a Europa, queimando judeus pelo caminho. Finda a guerra e contido o nazismo, o velho Churchill estabeleceu nova profecia: cuidado com o comunismo, ele pode destruir a humanidade. Também não lhe ouviram, ao menos até agora.

A Monarquia em festa
Elizabeth II faz setenta anos à frente da coroa inglesa e é a chefe de Estado mais longeva do mundo. A monarquia pode estar fora de moda e não ser dos sistemas políticos mais democráticos que existam, mas o saudosismo e a nostalgia com a história aristocrática ancestral  justifica o amor que os ingleses e demais povos europeus nutrem por seus monarcas. Por aqui, louvamos índios e bandeirantes e colonizadores portugueses – cada um tem a história que merece, mas todos a evocam e procuram preservar seus costumes políticos e culturais que recebemos de nossos antepassados. Isso me lembra nosso único governante coroado: Dom Pedro II. O Brasil é o único país das Américas que já foi monarquia, e o bom D.Pedro II reinou por mais de quarenta anos. Ele era um baita líder e prosperou o Brasil. Foi exilado para dar lugar à República que tantos problemas nos traz, até hoje.

Bandeira errada
O congolês Moise morre como um cão sem dono, espancado, e é um absurdo. Demonstra nossa cultura da impunidade e que, muito embora tenhamos uma longa história de receber com hospitalidade a estrangeiros por aqui, também somos burocraticamente ineficientes em de fato acolhê-los, dar-lhes vistos de permanência e trabalho e facilitar sua integração cultural conosco. Bolivianos (principalmente em São Paulo), angolanos e venezuelanos, esses em número recorde fugindo do comunismo bolivariano, sofrem um bocado por aqui e em regra trabalham em regime de semiescravidão nas cidades brasileiras. Mas usar essa bandeira para dizer que somos um país racista e que “a culpa é do Bolsonaro”, isso não é só burrice, é oportunismo e, sobretudo, falta de originalidade: a esquerdopatia brasileira repete a manobra espertinha de seus primos ricos norte-americanos, que aproveitaram o caso de violência policial contra o negro Floyd para aquecer o caldo com o qual fritaram Donald Trump e impediram sua reeleição.  Se toda vez que um negro morrer vítima de violência tivermos passeata, ninguém mais trabalha no país. O que matou Moise, no entanto, não foi o Poder Executivo. Bolsonaro prega mais rigor em nossas leis penais desde sua deputância, mais de vinte anos atrás. Um dos suspeitos da morte de Moise possuía inúmeras passagens pela polícia e ao menos três condenações por crimes graves, um deles extorsão mediante sequestro. Ficou pífios meses preso e foi solto. Com uma vida pregressa assim, um psicopata dessa envergadura não estaria à solta para matar mais gente, caso estivéssemos em um país que valoriza o verdadeiro bem estar social.  A nossa impunidade só existe por conta das leis penais brandas que políticos temem recrudescer porque assim perderiam votos. Além, é claro, da cultura judiciária da pena mínima ou da absolvição. Então, afinal de contas, quem matou Moise?

Saindo da aposentadoria e do armário
Enquanto fez parte dos onze supremos, o Ministro Marco Aurélio era coerente, muito embora nem sempre justo. Seu entendimento sobre a excepcionalidade da pena e da repulsa pelo castigo reclusivo de liberdade era exposto em todos os seus casos. Sua excessiva dó em manter preso a bandidos perigosos revoltou a muitos, mas, verdade seja dita, Marco Aurélio era assim com todo mundo enquanto esteve na ativa.  Ou seja, nunca julgou quem quer que fosse pela cor político partidária, bolso ou amizade e troca de favores. Ele inova agora, talvez tardiamente, ao defender a instituição da presidência da República.  Claro, né. Os cargos são mais importantes que os homens que os ocupam, e chamar Bolsonaro de genocida ou Lula de ex-presidiário resulta em enorme prejuízo de nossa imagem lá fora. Triste saber que jornalistas, que são historiadores do presente e por isso devem agir com transparência e imparcialidade, sejam os primeiros a botar lenha nesta fogueira.

O dito pelo não dito:
“Toga não pode ser usada para se chegar a cargos eletivos” (Marco Aurélio Mello – ex Supremo aposentado e feliz).

RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor