ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 30-03-2022 00:59 | 2386
Foto: Arquivo

Anita  influenciadora?
Um país com 100 milhões de analfabetos funcionais ou totais é capaz, sim, de aceitar influências de cantores de funk e youtubbers jogadores de games de cabelo pintado. Anita segue na onda, já inaugurada por Miriam Leitão. Tenta estrategicamente alterar os números das eleições para presidente, e tenta do mesmo jeito que Miriam: incentivando o voto adolescente. Ela não está preocupada com civismo ou com a juventude, é claro. Quer impedir a reeleição de Bolsonaro, como a maioria de seus compadres da classe artística e dos pseudointelectuais. Também é claro que a ideia não foi dela e vai proliferar. O partidão manipula esse pessoal como marionetes, tudo para voltar a refrescar o mercado de notícias, informações e shows com dinheiro público. O comunismo de hoje em dia se esconde atrás de bandeiras simpáticas, como o ativismo contra o racismo, a luta pela liberdade de gênero e o voto jovem. Quase ninguém percebe, porque a falta de cultura política e conhecimento filosófico de nosso  povo é um investimento de longa data.

Até o Datafolha
As últimas eleições gerais mostraram que o rigor estatístico dos institutos de  pesquisa definha a olhos vistos. A lavada de Bolsonaro em Haddad, Zema eleito em Minas e Dilma em quarto lugar para o Senado quiseram dizer que pesquisas valem muito pouco e só servem para influenciar eleitores indecisos e sem malícia. Mesmo assim o instituto Datafolha registrou aumento das intenções de voto para a reeleição de Jair Bolsonaro.  Não que a empresa tenha se tornado da noite para o dia imparcial, longe disso. O fenômeno conheço bem, trata-se de não tornar a mentira escandalosa demais, o que arruinaria de vez a credibilidade do setor. Ao menos até a boca das urnas, ou a boca do caixa, conforme o caso.

O segredo que não há
O senador Renan Calheiros, aquele totem de honestidade e virtude, pede ao STF a suspensão do “orçamento secreto”, conforme apelidado pela mídia. Em primeiro lugar: nem Renan tem legitimidade processual para o pedido, e nem nossos supremos ministros possuem competência, no sentido técnico, para julgá-lo. O STF é, sobretudo, instância recursal, e de tempos para cá está legislando, as vezes monocraticamente, as vezes em colegiado. Orçamento secreto tampouco existe: o apelido se refere a emendas orçamentárias que não  precisam de prévio exame do Congresso e nem se referem à verba “carimbada”. Ou seja, dinheiro que pode ser concedido e gasto com mais liberdade e sem vinculação rígida de finalidade. O que tem isso de secreto? Sempre existiu na República Brasileira, mais ainda após a Constituição de 1988.

Tortura infantil?
Torturar, para o direito, é impingir intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental a uma pessoa. Quando a vítima é uma criança, nosso estômago se contrai de náuseas e nosso coração se enche de revolta e queremos prender e deixar apodrecendo na cadeia ao infrator. Todavia, juízes não podem julgar com o coração ou o estômago. A diretora e proprietária de uma escola infantil em São Paulo está com prisão preventiva decretada porque teria amarrado crianças de tenra idade próximas a instalações sanitárias de seu educandário. É mesmo surreal, mas não vi amarração com cordas, não vi os pimpolhos sofrendo intensamente nos vídeos. Os vi contidos em cadeirinhas com cintos de segurança e uma espécie de camisa de força infantil (aliás, vendida para este fim). O fenômeno é cultural, porque certa vez e em viagem ao exterior comprei e coloquei em meu filho mais novo, então com seis anos, uma coleira peitoral com guia vendida lá fora também para essa finalidade. Não queria perde-lo na multidão de Nova York. Ele não gostou e se sentiu humilhado e vi uma ou outra cara de reprovação ao redor. Acabei tirando rapidamente o adereço. Moral da história: a diretora deveria ter consultado aos pais diante de uma inovação dessa natureza. Errou. Foi tortura ou maus tratos? Não.

A porrada de Will Smith
Depois de um gracejo do  apresentador Cris Rock na noite do Oscar, o astro americano Will Smith sentiu referências à sua esposa e tomou satisfações: deu um tapa no comediante em plena cerimônia. Para justificar-se,  o agressor se vale da defesa de sua  mulher diante de uma piada ofensiva. A justificativa contém inconsistências: perdemos nosso tempo educando nossos filhos a não resolver na porrada problemas diários e aparece um astro de cinema e prova o contrário com seu péssimo exemplo; também nos esquecemos que o humor por natureza é transgressor e, por fim, que o feminismo não embrutece as pessoas, ele as suaviza, bem ao contrário da postura estúpida de Will Smith.

O truque da falácia
A falácia é uma conclusão positiva diante de duas premissas negativas – comum em discursos políticos, feitas para enganar trouxas. Imagine-se o raciocínio do orador: “Não há 100% de políticos corruptos. Nem todos os políticos do PT são corruptos. Logo, há políticos do PT que não são corruptos. “A conclusão dá um salto e engana a lógica ou o ouvinte, porque a premissa negativa exclui a hipótese e não a direciona para uma conclusão positiva.

O dito pelo não dito.
“Há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas”. (Mark Twain,  escritor americano).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor