O pai da Constituição
Não foi Ulysses Guimarães que forjou nossa Constituição Federal, ele só propiciou-a politicamente. O professor Yves Gandra, então e até hoje nosso maior constitucionalista vivo, é que foi o cérebro da nossa Carta Magna. Ele a engendrou, foi seu criador jurídico, e recentemente teve a coragem de dizer que o STF faz da Constituição gato e sapato quando julga processos em primeira e única instância por crimes de opinião que não existem em nossa legislação. Gandra também propaga que a Lei de Segurança Nacional não foi encampada em nosso ordenamento jurídico após a constituinte de 1988. Ele foi dos poucos juristas brasileiros a gritar contra os inquéritos por crimes que não existem ou a maneira ideológica com a qual ministros do STF vão legislando em afronta às regras constitucionais republicanas. Agora, se posiciona a favor do indulto individual de Bolsonaro ao Deputado Daniel Silveira e contra a possibilidade do Supremo rever este ato soberano do presidente, sempre à luz da Constituição Federal. A esquerda diz dele que está esclerosado e não sabe o que fala – a mesma esquerda que afirma que o líder russo Vladmir Putin, egresso da KGB e da União Soviética, é um fascista conservador de direita. Avaliem, por favor, quem é que está falando besteira.
A esquerda nua
Conta a fábula que dois malandros enganaram a um rei, vendendo um caríssimo traje mágico que só seria enxergado por pessoas inteligentes do reino. A notícia se espalhou entre os aristocratas e súditos do soberano e quando o monarca na verdade foi vestido com nada e saiu nu e enganado para ser ovacionado pela multidão, na verdade estava pelado. Mesmo assim foi aplaudido por todos, receosos de serem considerados burros por não enxergar a roupa que na verdade não existia, até que uma inocente criança que não atinara para aquela farsa coletiva gritou no meio da multidão: “O rei está nu”. Pois bem. O rei é a má esquerda populista, e o povo deslumbrado e receoso de dizer-se enganado ou intelectualmente diminuído permanece aplaudindo – ainda. O menino é o finado Olavo de Carvalho. Poderia ter sido também Paulo Francis ou K.L.Mencken. Quem nunca leu quaisquer dos três não sabe o que está perdendo.
A onça e o cavalo
Quando digo que devem haver forças progressistas de esquerda em toda República e é bom que o Brasil as tenha, meus amigos conservadores torcem o nariz e alguns bolsonaristas me ofendem na internet. É que confundem a verdadeira esquerda com essa mais rumorosa, e estúpida, tristemente na moda por estes tempos tumultuados que vivemos. Tem que haver esquerda, que é o rastro de onça, que assusta o poder e o torna mais humano – aquela velha história de dar direitos para que estes direitos não sejam tomados na porrada. E quando me refiro à esquerda que presta e não é populista e nem manipuladora, refiro-me a vultos do passado como Mário Covas, Ulysses Guimarães, Norberto Bobbio, George Orwell, dentre outros. Orwell detestava o totalitarismo e mostrou à política que é possível ser de esquerda sem ser comunista. Mesmo no Brasil atual, mesmo no PT, há progressistas honestos que lutam democraticamente por ideais que consideram justos: Aloisio Mercadante e Eduardo Suplicy são dos que me vem à memória agora. Estão errados, mas são coerentes. Não enganam, fingindo que não são socialistas. Votam neles aqueles que quiserem – são bons políticos que apenas escolheram apostar no cavalo errado. Mas vale pelo rastro da onça.
O partido comunista
Assisti a um noticiário da RAI, a TV estatal italiana, em que juristas defendiam a proibição do partido comunista na Europa – ele ainda é proscrito em alguns países do mundo. Segundo aqueles estudiosos, quando os partidos políticos foram juridicamente construídos e albergados pelas constituições do mundo, se pensou em associações privadas compostas por pessoas comuns com índole política e que, agremiando gente da mesma ideologia, poderiam periodicamente procurar influenciar no poder, tentando investir-se dele candidatando-se através de plataformas de governo e campanhas eleitorais. Só que aí surge o partido comunista que, muito além de operar política ocasionalmente conforme as eleições, fora delas aparelha o estado, boicota instituições, subverte a ordem quando não esteja no poder e tolhe a liberdade da oposição com artifícios enganosos. Faz com os opositores políticos, sobretudo, o que recomendava Lenin: acusa-os do que faz, xinga-os do que é. Inviabiliza as repúblicas, frauda a verdadeira democracia. Um partido assim pode ser ou permanecer legalizado? – Essa indagação anda muito em voga na Europa, sobretudo depois de Vladimir Putin invadir a Ucrânia.
O dito pelo não dito:
“Não há assuntos chatos, apenas escritores chatos”. (H.L.Mencken, jornalista norte-americano).