O STF com medo
Uma coisa é você ser homem público e, por conta disto, não angariar unanimidades e mesmo conquistar desafetos –um ou outro um psicopata disposto a lhe dar uma facada, como aconteceu com Bolsonaro, ou um tiro, como fizeram a John Lennon quarenta anos atrás. O que assusta é quando há milhares de pessoas sobre o planeta querendo a sua morte, a tal ponto que você é obrigado a se preocupar com a sua segurança quando sai de casa ou monitorar a filhos e esposa que vão estudar ou ao trabalho. Ou se está em guerra, ou não se tem legitimidade - e é este o temor em se tratando de Brasil e de STF. Juízes não nasceram para ser adorados, porque proferem decisões polêmicas que transcendem o politicamente correto e deixam um dos lados da demanda sempre contrariado. Isso é pra lá de normal. Agora, o Poder Judiciário despertar ódio nunca se viu, só agora. Porque os cidadãos em sua maioria esmagadora não confiam na imparcialidade da atuação de seus membros ou na correição de suas decisões ou no acerto de seu posicionamento político, deixam de absorver a instituição e o poder como um desdobramento da República, a ela indispensável – a isto se refere a perda de legitimidade. E é por isto que a presidência do STF se preocupa com o vindouro 7 de setembro, com manifestações e ataques, institucionais ou mais esquentadinhos. Não está sem razão em seu medo - deveria era procurar estancar as causas, enquanto ainda desfrutamos de normalidade institucional.
Até a Globo
Em editorial que sobretudo espelha a opinião do veículo de mídia e informação, o jornal O Globo reportou sua preocupação e indignação para com o pró-ativismo judicial do STF, que estaria gerando instabilidade para a República por se imiscuir na gestão de problemas corriqueiros da nação, com fortes vieses de repressão à liberdade de manifestação e pensamento e a independência entre os poderes. Este foi o Globo, hein? Não fui eu. O Editorial cita decisão do Ministro Barroso em determinar que Bolsonaro envide esforços para localizar os dois desaparecidos na Amazônia, isso enquanto ainda não se descobrira que haviam partido desta para melhor, que haviam sido assassinados. Este tipo de manobra não é nova, e orquestrada sempre para desprestigiar o demandado de qualquer jeito – tentaram fazer isso por ocasião da CPI da Covid. O Ministro Barroso manda Bolsonaro achar o jornalista e o indigenista desaparecidos – se encontrar, é porque o Ministro mandou e porque antes da ordem o presidente estava inerte. Se não encontrar, é um genocida que não se preocupa com a natureza ou com as vidas dos defensores do meio ambiente. Na CPI da Covid, enquanto aquele circo pegava fogo (poupando palhaços), diminuíam as mortes e ampliava-se exponencialmente a vacinação. E disseram que os números da pandemia só melhoraram porque a CPI fustigou a inépcia governamental. Se nem assim tivesse adiantado, já viriam críticas ao genocida. Tão óbvio o artifício retórico leninista que até a Globo desconfia, agora, que está apostando no cavalo errado.
Intrépidos e mortos
Você já conhece a história: Bruno Pereira era um sertanista licenciado junto à Funai que resolve fazer um bico levando o jornalista britânico Tom Brady em uma aventura de conscientização, denúncia e captação de informações pelo interior da selva amazônica. Seu interesse era sobretudo na pesca clandestina e documentavam a esta atividade sem cerimônias e sem comunicar às autoridades, até que surpreendidos pela fúria de um pescador ilegal que os assassinou cruelmente - e é para se concluir que arriscavam a vida isto o que se sabe até aqui. E é o bastante para defender a mata, dedicavam trabalho árduo à denúncia justa, tudo muito louvável – mas desempenhavam função pública sem autorização, realizavam atividade de risco sem proteção, e então sua atitude louvável era criticamente perigosa e foi lamentável o assassinato, mas não inesperado. Só há este faroeste brasileiro do lado de cima da linha do equador porque não exploramos e ocupamos e desenvolvemos economicamente àquelas extensas áreas, mantendo-as na mão de grileiros, índios e garimpeiros ilegais (e agora descobrimos: pescadores clandestinos também). Desse jeito, a vasta Amazônia vai se despregar de nosso território e se transformar mesmo em área de domínio internacional.
Fidel Bolsonaro
Por conta da morte dos dois indigenistas, a ativista cubana Carolina Barrero ousou comparar Fidel Castro à Jair Bolsonaro, dizendo-os ambos machistas, preconceituosos e racistas, e que é este tipo de postura que incentiva tragédias como as mortes de caras politicamente corretos como Tom Brady e Bruno Pereira na selva amazônica. O que o traseiro tem a ver com as calças, ninguém entendeu – e olha que o cidadão de extrema esquerda não precisa entender nada, precisa só de palavras de ordem berradas. O que racismo e homofobia têm a ver com pesca ilegal e homicídio entre duas vítimas e um assassino, todos brancos e heterossexuais (presume-se), não se vai saber nunca. E comparar Fidel, um socialista que prendia e executava seus desafetos políticos, a Bolsonaro, que no máximo os processa sem êxito, também é um enigma do outro mundo. O desesperador é que muito menino imberbe fumador de maconha acredita em besteiras assim.
O dito pelo não dito
“Estrangeiros ilegais têm sido sempre um problema nos Estados Unidos. Pergunte a qualquer índio”. (Richard Orben, humorista e teatrólogo norte-americano).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor