O 7 de setembro
Devemos ao atual cenário político brasileiro essa súbita valorização da nossa data cívica mais famosa, o Dia da Independência. Jair Bolsonaro vem do Exército Brasileiro e de uma política parlamentar que sempre valorizou os símbolos nacionais e como hoje é o político mais popular do país, saindo às ruas seus muitos admiradores encontram uma forma de homenagear sua candidatura através de passeatas e manifestações, sem com isto praticar irregularidades eleitorais. Também é a forma que encontram de protestar pacificamente contra os demais poderes da República, que os adeptos do bolsonarismo, e muitos além destes, consideram desconsiderar a autonomia funcional do presidente e atrapalhar o seu governo, o Poder Judiciário (STF) por ação e pró ativismo, e o Poder Legislativo (Senado) por covardia e inação. Só isso, não é tentativa de golpe, apologia ao terrorismo ou quaisquer desta besteiras desenhadas para justificar ações juridicamente questionáveis e repressão violenta à manifestação de opinião. Ou seja, o AI-5 sem AI-5.
Revisores e fiscais
Imaginem se toda multa de trânsito, pra valer, tivesse que ser revista e confirmada por um juiz. Seria o caos, uma bagunça no ordenamento jurídico, semelhante àquela protagonizada pelos entendimentos supremos de agora e que contam com a conivência covarde de grande parte da classe jurídica brasileira. Sem contar que teve juiz em Brasília querendo multar Bolsonaro por abdicar da máscara no auge da pan-demia, e aí tomar a iniciativa fiscal estatal que nunca foi atribuição do Poder Judiciário – mas esta é a apenas a constatação de que o exemplo que vem de cima contamina e degenera as instâncias judiciais inferiores. Com a graça, o indulto individual presidencial, concedido ao deputado Daniel Silveira, dá-se o mesmo: Alex de Moraes insiste em processá-lo e bloqueá-lo em redes sociais e dentro de um processo criminal que não existe mais, porque já liberto dele o réu pelo ato administrativo de Bolsonaro. E assistimos impávidos a isso tudo. Por essas e outras, meu pai dizia sempre: brasileiro é igual cordeirinho que vai pro abate quieto.
Olavo e a terra plana
A dominação cultural tem por pressuposto indispensável o assassinato de reputações, e para consegui-lo seguem a estratégia da distorção de mensagens e da retirada de contexto das informações e declarações. Assim, os manipuladores do verdadeiro “gabinete do ódio” produzem aquilo que são, de fato, “Fake News”, lembrando-me sempre Lenin, para quem se devia xingar o inimigo daquilo que se é e acusá-lo daquilo que se faz. Aconteceu contra Olavo de Carvalho, que nunca foi terraplanista. Simplesmente porque disse em um vídeo que não era possível filosoficamente demonstrar que a terra não era plana para que seus detratores o acusassem de desacreditar de um planeta redondo ou oval. Os (de)formadores de opinião também criam um factoide chamado “espantalho”, uma discussão que não há e que serve para distrair a tolos e incautos. Foi assim com a epidemiologista Nise Yamaguchi: por defender o tratamento preventivo com cloroquina e outros fármacos, disseram-na avessa à vacinação, o que jamais houve. Uma tese não é automaticamente antítese da outra e é perfeitamente possível a uma pessoa defender a ambas. Eu, não por acaso, mas por estudos, o fiz. Criou-se o espantalho de que o Kit Covid abominava a vacina, o que não é necessariamente a regra geral.
Duguin
Alexander Duguin é o Olavo de Carvalho russo, mas às avessas. Tanto que debateram ambos por uma semana sobre o globalismo, em discussão que gerou um livro brilhante. Tentaram matar Duguin semana que passou, mas arrebataram-lhe a filha em atentado terrorista que Putin quer por na conta dos ucranianos. Ainda vamos descobrir muitas coisas novas para nós sobre o conflito na Ucrânia e começo a acreditar que Putin viu longe e está mais próximo da razão do que o resto do mundo ocidental, pensa através de seus líderes – sobre isso o futuro dirá. No entanto, é importante esclarecer que Duguin e Carvalho, iguais em importância em seus respectivos contextos, possuem no entanto, duas características que os opõem como pensadores: Olavo é um conservador cristão e Duguin um pensador da nova esquerda de Putin, mais uma vez desmascarando a tese de que o líder russo seria da direita. Para todo esquerdopata, se o sujeito é feio, tem verruga no nariz ou bate na mulher, é de direita e pronto. Fizeram isso com Hitler e com Putin agora. Até agora. Se a história disser que Putin está certo na Ucrânia, ele voltará para a esquerda rapidinho nas manchetes de jornais e será chamado de “progressista”, porque para esse pessoal da esquerda caviar filho feio não tem pai.
O dito pelo não dito.
“Não queiras ter pátria, não dividas a terra, não arranques pedaços ao mar. Nasce bem alto, que todas as coisas serão tuas...” (Cecília Meirelles, escritora brasileira).
RENATO ZUPO – Juiz de Direito na comarca de Araxá – Escritor