ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 05-11-2022 02:30 | 2003
Foto: Reprodução

Jair Bolsonaro, o legado
Quando conheci Jair Bolsonaro vi nele a antítese, o antagonista do político profissional.  Politicamente incorreto, patriota, bonachão, não se assemelhava a alguém que passara várias décadas no exército e outras tantas no plenário da Câmara dos Deputados, para qual foi eleito e reeleito diversas vezes. Eram os idos de 2015 e ele não era nem pré-candidato ainda. Dilma estava na corda bamba e Temer articulava uma sucessão peculiar, o que acabou se dando. Depois revi Bolsonaro aqui em Araxá, já pré-candidato, antes da facada do Adélio. Ele em visita às minas de Nióbio e eu ajudando a ciceroneá-lo, intermediado pelo bom amigo Tadeu Carneiro, então CEO da CBMM, a maior mineradora de Nióbio do mundo. De novo, tive a mesma impressão. Sobre a corrida à presidência em 2018, ele vaticinava que não teria sossego por quatro anos, se eleito. Concordei, brincando que poderiam ser oito. Não foram. Muito difícil lutar contra a mídia, o stablishment, a censura e o pró ativismo judicial, sem pegar em armas. Neste aspecto, Bolsonaro foi um herói, porque se negou à rebelião cívica a que teria direito todo o tempo, preferindo jogar sempre “dentro das quatro linhas da constituição”, como sempre disse. De seu governo, além da bravura de quem lutou contra o populismo e (quase) deu a vida pela pátria, recebemos o legado de um país que manteve sua economia à tona durante os tempos da pandemia, com uma moeda que menos se desvalorizou logo após o terror da COVID, tornando-se um gigante do  agronegócio e o quarto país do mundo a receber dólares e atrair investimentos estrangeiros. Mais que isso, duas heranças recebemos do bonachão Capitão Jair: o amor cívico à pátria, a bandeira e hino (que ele ressuscitou) e a morte definitiva do teatro das tesouras forjado por Lula à moda dos ditadores socialistas, forjando inimigos ideológicos que não existiam e eram, na verdade, compadres ideológicos (refiro-me, é claro, ao PSDB). Depois de Bolsonaro, direita é direita e esquerda é esquerda, com o hino nacional ao fundo, o pavilhão e o hino brasileiro tocando.

Insurreição Civil?
Não acredito em resistência à posse de Lula ou em qualquer tentativa judicial de impedi-la. No primeiro caso, porque caminhoneiros e produtores rurais, que trabalham árdua e honestamente, vão ser vencidos pelo cansaço. Afinal, mais cedo ou mais tarde vão ter que retornar aos seus afazeres para pagarem as contas.  E é claro que Bolsonaro e seus correligionários conservadores não pretenderiam, no TSE ou no STF, reverter o aparente resultado das urnas, por considerarem com algum acerto que em parte foi o pró-ativismo judicial emanado destas instâncias do Poder Judiciário que contribuiu para a sua relativa derrota. Afinal, se me perdoam a paródia e antes que venha a censura, “para o capeta, o inferno está sempre certo”.  E disse “relativa” derrota porque o presidente perdeu por números ínfimos, reverteu uma tendência de distanciamento do eleitorado, virou milhares de votos que seriam brancos ou penderiam para o lado vermelho da disputa. De dez pontos percentuais, que era a distância estimada por todos, perdeu por um ponto em uma vitória apertadíssima do adversário político. Pela resiliência e por lutar contra tudo e todos, somente com enorme parcela do povo ao seu lado, Bolsonaro na verdade sai vitorioso, para mim o político mais popular do Brasil hoje. Não foi Lula quem ganhou as eleições, foi o  antibolsnarismo, tão forte quanto o  grupo de adeptos eleitores do capitão Jair.

Saudades do Olavo
Se Olavo de Carvalho estivesse vivo se sairia com um “eu não falei, porra?” diante do resultado apertadíssimo do segundo turno das eleições presidenciais. O maior pensador brasileiro desta quadra do século 21 insistia, sempre, que a sociedade só funciona com o socialismo morto e enterrado. Não adianta derrotá-lo. É necessário destruí-lo, não com armas, como fizeram os militares a contar de 64, mas ideologicamente, intelectualmente, desprestigiá-los e desmascará-los, mata-los de fome ao destruir lhes a credibilidade em faculdades, no meio artístico e jornalístico. Sobretudo sepultar a falsa intelectualidade brasileira que só pensa para um lado – esse era o bom e velho Olavo de Carvalho. Que saudades dele..

Blitz no transporte eleitoral
Vimos mais uma inovação jurisprudencial neste segundo turno das eleições, quando o presidente do TSE, o Ministro Alexandre de Moraes, determinou que as blitzen da Policia Federal sobre o transporte irregular de eleitores fossem veladas, sem divulgação para a imprensa. Nova censura, na verdade, em uma época de tempos duros em que a censura prévia é uma triste realidade, a tal ponto de não ser novidade pra ninguém,  tolerada por muitos porque é “contra a direita’. Covardes os que se calam. Quando se rasga a constituição, se rasga para todos os lados. Não que eu acredite que somente eleitores de um ou outro lado seriam impedidos de votar com a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) contendo o transporte ilícito de eleitores. Não, isso seria escandaloso demais. Além disso, com a experiência de mais de duas décadas presidindo eleições, sei que os dois lados em campanha transportam eleitores irregularmente. É chumbo trocado. Mas impedir a imprensa de divulgar e o cidadão de se inteirar do assunto por ocasião do dia do voto é mais uma facada nas liberdades e garantias constitucionais. Juristas do Brasil, onde estão?

O dito pelo não dito:
“Inteligência sem coragem é pinto sem bolas. Muitos intelectuais, no Brasil, conseguem posicionar-se, por exemplo, contra um governo, contanto que o façam com  todos os seus colegas. Difícil é ficar contra os colegas”. (Olavo de Carvalho, escritor brasileiro).