COMBATE AO CÂNCER

Diagnóstico tardio ainda é o maior desafio para o combate ao câncer

Presidente da ACCa afirma que pandemia e medo da doença estão diminuindo as chances de cura de pacientes oncológicos
Por: Ralph Diniz | Categoria: Saúde | 28-01-2023 07:45 | 841
Denise Alves de Almeida Presidente da ACCa
Denise Alves de Almeida Presidente da ACCa Foto: Reprodução

Celebrado no final da próxima semana, em 4 de fevereiro, o Dia Mundial de Combate ao Câncer tem como objetivo aumentar a conscientização e a educação mundial sobre a doença, além de influenciar governos e indivíduos para que se mobilizem pelo controle do câncer, evitando, assim, milhões de mortes a cada ano. A data é uma iniciativa global organizada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Município, o trabalho de apoio às pessoas que sofrem com a doença fica a cargo da Associação de Combate ao Câncer em São Sebastião do Paraíso (AC Ca), uma instituição filantrópica sem fins lucrativos que foi fundada em dezembro de 2000. De acordo com a sua presidente, Denise Alves de Almeida, a entidade tem o objetivo de atender pacientes oncológicos, bem como seus familiares, porque, segundo ela, não é apenas a pessoa com câncer que precisa de apoio durante a fase da descoberta da doença e do tratamento. “A família também adoece junto”, declara.

Sobre os maiores desafios para se combater o câncer no País, Denise, que é enfermeira, relata que o diagnóstico tardio é o maior inimigo do paciente oncológico. Inclusive, boa parte dos pacientes cadastrados na ACCa de Paraíso nos últimos seis meses chegou à entidade com um estágio da doença mais avançado. Há, inclusive, casos de metástase, quando não há mais a possibilidade de cura. Para ela, a pandemia de Covid-19 teve participação direta nesse quadro.

“Quando o diagnóstico é feito logo no início, a pessoa tem chance de fazer o tratamento, tem um tempo de sobrevida maior, com mais qualidade de vida, além da chance de cura. O problema é a demora para começar a se tratar. Nesses casos, ou o paciente não tem mais tanto tempo de vida, ou tem uma qualidade de vida muito ruim. Nós acreditamos que, com a pandemia, as pessoas ficaram mais reclusas em suas casas e não fizeram exames. E quando elas foram ao médico apresentando os sintomas, muitas vezes foi descoberto um câncer em estágio avançado”, explica.

A presidente da ACCa de São Sebastião do Paraíso aponta mais um desafio para o combate ao câncer: o medo da detecção da doença. Segundo ela, as pessoas temem receberem o diagnóstico e, por isso, deixam de fazer exames e procurar ajuda médica logo quando os primeiros sintomas aparecem. “O medo não vai impedir a pessoa se ter um câncer. Se a doença já estiver lá, melhor que seja detectada o quanto antes, pois assim ela terá mais chances de cura. Esse medo não faz sentido. O câncer não tem preconceito, e pode afetar qualquer pessoa. É preciso se cuidar e ficar atento”, alerta.

Atualmente, a ACCa de Paraíso conta com uma equipe multidisciplinar que presta todo o apoio aos pacientes oncológicos. Integram o quadro profissional da associação uma enfermeira, uma psicóloga, uma nutricionista e uma assistente social. Além disso, a instituição ainda mantém como funcionárias uma recepcionista, uma auxiliar de serviços gerais e uma vendedora, responsável pelo bazar de roupas usadas. “Existe, ainda, uma grande equipe de voluntários que se dedicam a desenvolver trabalhos com os pacientes que estão sob controle, além de promover eventos para arrecadação de recursos financeiros para manutenção de toda a despesa da associação”, diz Denise.

Logo que o paciente solicita o apoio, a equipe vai até a sua residência para ter mais informações sobre o seu estado de saúde, suas condições psicológicas e socioeconômi-cas, além da situação dos familiares. Após essa triagem, o paciente com câncer começa a receber o atendimento da ACCa. De acordo com Denise, a maioria das pessoas é atendida em suas residências, pois se encontra em um estado de saúde mais debilitado por causa do tratamento da doença. Já aqueles que estão com a situação mais controlada recebem o apoio na sede da associação.

Atualmente, a ACCa atende cerca de 480 pessoas com câncer em Paraíso. De acordo com a presidente da entidade, os tipos de câncer, bem como seus estágios, são variados. “Temos pessoas que receberam o diagnóstico recentemente; outras que já estão fazendo rádio ou quimioterapia; também temos aqueles que estão com a situação sob controle; as que já se recuperaram e estão curadas, além dos que estão na fase terminal da doença.”

Os casos mais comuns entre os pacientes oncológicos da ACCa de São Sebastião do Paraíso são de câncer de mama e de próstata. Além disso, Denise afirma que um tipo da doença que apresentou um aumento de casos considerável, tanto em homens, quanto em mulheres, é o câncer de intestino. “Os tipos que atendemos aqui no município estão de acordo com os registrados no País pelo Ministério da Saúde. Estamos dentro do padrão de incidência nacional”.

Questionada sobre os recursos que permitem que a ACCa continue realizando o seu trabalho, a presidente esclarece que a entidade não tem nenhum tipo de parceria com o Poder Público e, consequentemente, não recebe verbas públicas. O dinheiro que entra na conta da entidade vem de ações organizadas junto aos voluntários, os lucros das vendas no bazar e de emendas parlamentares que, vez ou outra, trazem um “respiro” à contabilidade da instituição. “Nós sobrevivemos assim. A nossa maior preocupação maior e dificuldade é a folha de pagamento da nossa equipe. Nós precisamos muito dessas profissionais para atender as pessoas com câncer do município”, conclui Denise, que atua na associação como voluntária praticamente desde a sua fundação.