ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 29-03-2023 18:48 | 1665
Foto: Arquivo

Perseguição a Sérgio Moro
Lembrem-se do que se disse aqui, e várias vezes: governos de esquerda historicamente são simpáticos ao crime e ao criminoso. Não é que o insuflem, mas simplesmente não enfatizam o seu combate e não tratam a segurança pública como a prioridade que é em um país que só não ingressa no primeiro mundo por suas mazelas ligadas à violência urbana e rural e seus óbvios reflexos econômicos. A trama criminosa para liquidar Sérgio Moro e outros próceres da Lava Jato é apenas mais do mesmo, e assusta a indiferença do parlamento e o sarcasmo da Presidência da República quando um representante do Poder Legislativo Federal, e outras autoridades, são ameaçados de morte por uma facção criminosa. Já se disse, e concordo, que independente de Moro ser quem é, quando ameaçado ou perseguido, se está ameaçando e perseguindo ao Estado por via oblíqua – e o Estado nunca esteve tão indefeso como está hoje. Basta vermos a baderna criminosa que ocorre nas barbas das forças públicas no Rio Grande do Norte e adjacências. A rua é dos bandidos, como nunca antes foi tanto.

O sarcasmo lulista
Se eu tivesse sido condenado por Sérgio Moro e, por conta da decisão dele passasse mais de um ano preso, certamente teria divergências existenciais com meu algoz, ainda que a condenação fosse acertada e, no íntimo, eu concordasse com o castigo. Portanto, Lula não sentir a mínima pena de Sérgio Moro não somente é explicável, como também é humano. No entanto, o estadista Lula não pode afirmar categoricamente, como o fez, que Moro é um farsante, porque detrás da denúncia do atual senador há um trabalho de meses da Polícia Federal, que identificou a um bando armado de facção criminosa em plena execução do plano criminoso engendrado para liquidar Moro e outras autoridades ligadas à Operação Lava Jato. Ao fazê-lo, Luís Inácio age como cidadão comum e se esquece que sua atuação política depende de sua resiliência, sua capacidade de esquecer rancores do passado em nome da nação e das coalisões políticas que vai ter que protagonizar e engolir. Sem isso, ninguém governa.

Proteção às mulheres ou contra as mulheres?
Na calada da noite e sem muito alarde o Congresso aprovou micro alteração do Código Penal, criando-lhe o art. 147B, que tipifica como crime de violência psicológica doméstica: “Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ...” Os tipos penais vagos são um perigo. O “constrangimento” expresso na nova lei, ou o “controle de ações”, e principalmente a “manipulação”, abrem margem para diversas interpretações, tão perigosas que qualquer conflito doméstico doravante pode acabar sendo resolvido em delegacias de polícia ou varas criminais. Manipula o marido que troca com a esposa um fim de semana na praia por um presente de aniversário mais luxuoso, por exemplo, ou o marido que pede à esposa que ajude a preparar o almoço antes dela sair para trabalhar? Ou seja, todo conflito doméstico virou crime. O companheiro não pode mais criticar mais veementemente a mulher, não pode discutir sua religião, roupas ou comportamentos. Quem é ou já foi casado que me responda: é possível um casamento sem rusgas? E quando é a mulher que pratica o fato, fica impune? Igualdade entre os gêneros acabou?

Robinho e a suruba.
Pende pedido de cumprimento de pena do ex-jogador Robinho, condenado por estupro coletivo na Itália. Como o Ministério das Relações Exteriores negou sua extradição para cumprimento de pena em um presídio italiano, agora nossos irmãos europeus pedem que ele cumpra a pena de nove anos de reclusão aqui. Na verdade, Robinho participou de sexo grupal, uma suruba como se dizia antigamente, e a mulher que atendia sexualmente a Robinho e aos amigos estava bêbada. Sexo grupal não necessariamente é contra a vontade da mulher envolvida, há quem goste e quem não goste. O problema é que a lei brasileira (e a italiana) atualmente dizem que a mulher bêbada não possui consentimento, equiparando-a à uma criança. Ela é vulnerável aos olhos da lei e incapaz de querer. Logo, sua vontade não conta. Bem, este entendimento é moderno. Antigamente, se transar com mulher bêbada desse cadeia, metade dos homens da minha geração teria sido condenado e preso em algum momento de sua juventude. Saber se a mulher está ou não bêbada o suficiente para consentir, ou caindo pelas tabelas e semi-inconsciente, pode ser uma tarefa difícil – porque geralmente o homem que está com ela bebeu no mesmo nível. São dificuldades práticas que somente quem vive a vida sabe que ocorrem. Desse jeito, solteiros e solteiras vão ter que andar com bafômetros individuais, doravante. Como dizia Guimarães Rosa, “Viver é muito perigoso”.

O dito pelo não dito:
Eu sou uma feminista da equidade, eu quero que o mundo público seja estruturado de uma forma que permita às mulheres avançarem igual aos homens nos campos profissional e político. É sobre isso que o feminismo deveria tratar. O feminismo não deveria tentar mudar as pessoas em suas vidas privadas, foi aí que ele deu errado”. (Camile Paglia, escritora e feminista norte americana).