ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 10-05-2023 21:17 | 1503
Renato Zupo
Renato Zupo Foto: Arquivo

Quem serão os juízes
Se virar lei o PL das Fake News, as plataformas e agências reguladoras é que irão  em primeira mão decidir o que é fake news, o que é discurso de ódio e o que é fascismo e apologia ao crime, e poderão tirar do ar imediatamente estes conteúdos, notificando os seus autores, suspendendo-os das redes. É muito poder para burocratas e neófitos – até  o Google insinuou a esta implausível deficiência. Os conceitos do que é proibido são por demais subjetivos. A primeira inconsistência é histórica. O bandido de hoje pode ser o herói de amanhã, ou ao menos o companheiro do mocinho. Veja-se Joesley Batista da JBF, o mesmo que prometeu dinheiro pra Aécio, o mesmo que falou para o irmão que “preso nós num vai”. Aquele Joesley compôs a comitiva de Lula na visita governamental à China, como exemplo de empresário amigo do Brasil e do poder. A outra inconsistência é conceitual. Tente definir o que é fascismo – será que você consegue? E discurso de ódio? Incitar a intervenção militar é discurso de ódio para muitos, incentivar invasões de terra não. A dissonância cognitiva impera e faz filhotes enve-nenados que acirram – aí sim- o ódio entre os dois lados polarizados de um país que está virando um tonel de pólvora e dinamite com o pavio aceso. Portanto, pedir para nerds burocratas das redes que definam certo e errado em termos de discurso é torna-los senhores do bem e do mal.

O mal menor
Não é possível permanecermos sem reguladores nas redes sociais e aplicativos de mensagens. A internet não pode permanecer sendo terra de ninguém, mas não se podem tolher a liberdades constitucionais com base na impossibilidade de regulação do setor ou da punição daqueles que exageram no exercício de uma liberdade de manifestação de pensamento que possuem, mas não a merecem. Mais uma vez estamos todos pagando por um Estado ineficiente que não coíbe o crime e nem processa, julga, condena e executa o castigo de criminosos. Como o estado não faz a este importante dever de casa, vamos proibir a cidadania plena e coibir liberdades - a mensagem é esta, mais uma vez. Ocorre que, entre um e outro quadro, entre tudo valer e nada ser punido (de um lado) e do outro se censurar tudo que fuja da padronagem politicamente correta do momento, prefiro o primeiro cenário: já estamos acostumados com a casa da mãe joana impune que a mídia e as redes sociais se tornaram e é muito melhor lidar com excesso de liberdade do que com a privação dela através da censura. Afinal de contas, prefiro ser castigado por um crime que cometi do que ser impedido de exercer meu livre arbítrio, cometendo-o ou não.

A Covid e Bolsonaro: mais um capítulo
Jair Bolsonaro fez um bom governo?  Não, por dois motivos: não o deixaram governar a partir de outros poderes e, principalmente, não soube lidar bem com a pandemia da COVID. Aliás, trabalhou nela muito mal e ela poderia ter sido utilizada como agregador entre os lados da política, e não mais um elemento que aguçasse a polarização ideológica que vivemos hoje, como de fato o foi. Bolsonaro não se vacinar e não vacinar aos seus era e é um direito dele e de todos os brasileiros – muito embora eu ou você não concordemos com isso. Mas viva a diferença. Mas fingir que vacinou pra viajar pro exterior é um pouquinho demais, né? Mais uma trapalhada de um sujeito bom que não merecia ser tão mal assessorado como foi ao longo de quatro anos de governo. O que não se justifica é a caça às bruxas que promovem contra ele. É a vingança da esquerda alijada do poder e que agora e sempre aparelhou instituições governamentais brasileiras. Simplesmente não deixam os conservadores governarem. Na oposição, sabotam o funcionamento da máquina pública. No poder, perseguem e tornam inelegíveis aos opositores, e assim vão manobrando a opinião pública. O fato das certidões falsas de vacinação merecem ser investigados?  Claro que sim. Com estarda-lhaço, prisões e buscas e apreensões? Claro que não. É a vingança, péssima conselheira, que guia mais um lawfare brasileiro, em um país que de tanto prender ex-presidentes está virando uma república de bananas.

Anulação de indulto vale?
O presidente da República, seja ele quem for, tem o direito de indultar ou conceder a graça, que é o indulto individual, a quem entender que deva. Está previsto na Constituição, em dispositivo que parece não valer para alguns ministros do STF sempre que beneficie ‘a direita conservadora representada por Jair Bolsonaro. A maioria do STF considerar ilegítima a graça individual concedida pelo então presidente da República ao então deputado Daniel Silveira é submeter ao crivo do Poder Judiciário uma decisão administrativa autônoma e que vale por si mesma, assim como no exemplo do fiscal de trânsito. E cria precedente perigoso, atraindo para os juízes e tribunais não somente a competência legislativa, mas também a governança da república. 

O dito pelo não dito:
“Minha mãe sacrificou seus sonhos para que eu sonhasse.” (Rupi Kaur, poeta hindu-canadense)