Fábio Caldeira
"Faça o que tiver que fazer, mas você tem que ganhar", disse Lula ao Ministro e candidato peronista à presidência da Argentina.
Superficial a divulgação por aqui da visita do atual Ministro da Economia da Argentina Sergio Massa ao Presidente Lula nessa semana. Até porque sua vinda se deu mais pela sua condição de candidato à presidência nas eleições de 22 de outubro do que como ministro. Mais política e menos economia!
Além da acomodação do centrão para garantir maioria na Câmara, Lula tem outra preocupação para se dedicar com proatividade: a eleição Presidencial na Argentina.
Vale atentar na matéria do jornalista Facundo Chaves, do portal de notícias argentino infobae e enviado especial a Brasília para cobrir a reunião. Nela, fica clara a atuação de Lula no processo eleitoral do país vizinho. Vide transcrição das principais partes da mesma:
“De certa forma, as eleições argentinas são para a Brasil parte da política interna. Isso foi confirmado na reunião de ontem à noite entre o ministro da Economia, Sergio Massa, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que demonstrou um nível de conhecimento do processo eleitoral que pegou de surpresa a delegação que chegou ao Palácio do Planalto. "Você tem que ganhar", disse-lhe o líder do Partido dos Trabalhadores.
As fotos e os vídeos dessa reunião ratificam um acordo que, embora previsível, não deixa de ser importante. Ele deu a Massa muito mais do que um tratamento de ministro: recebeu-o na sede do governo federal em sua qualidade de candidato a presidente pela Unión por la Patria e demonstrou um apoio que foi além do cenográfico.
Em primeiro lugar, ele se mostrou aberto a resolver uma necessidade urgente do "ministro Massa": a escassez de reservas. Ele autorizou um mecanismo complicado de empréstimos e garantias cruzadas entre bancos públicos brasileiros e a Corporação Andina de Fomento no valor de 600 milhões de dólares. Esses são fundos que serão usados para financiar importações no setor automotivo e na indústria alimentícia sem tocar nos preciosos dólares do Banco Central. "Pare de juntar dólares. Junte votos", disse Lula a Massa quando conversaram sobre esse assunto.
Além disso, o presidente brasileiro comprometeu seu governo a financiar com US$ 400 milhões do BNDES a exportação de placas e tubos se a subsidiária da Techint vencer a licitação internacional que será aberta nos próximos dias para a construção da segunda seção do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner (GPNK) Sallique-ló-San Jerónimo.
Na reunião, "80% da conversa foi sobre política". Lula lhe deu um conselho, de acordo com os participantes da reunião: "Ele mandou o Sérgio trabalhar e disse a ele que tem que juntar votos, não dólares. Mais votos e menos dólares".
"Faça o que tiver que fazer, mas você tem que ganhar", pediu Lula a Massa durante a conversa que ambos tiveram em uma das salas presidenciais do Planalto.
O presidente brasileiro acredita que uma vitória de Milei - que ele percebe como "mais louco" e com posições mais extremistas do que as de seu adversário, Jair Bolsonaro - poderia levar a uma reversão do processo de integração que começou na década de 1980. Suas opiniões ligam Milei a Bolsonaro, enquanto os dois líderes se elogiam nas redes e um encontro durante a campanha não está descartado. Os dois fazem parte de uma espécie de internacional de direita.
Após a reunião, Lula gravou um vídeo com o ministro-candidato argentino, (e que ilustra este artigo). Os gestos e rumores confirmam o compromisso do líder do PT em apoiá-lo”.
Muitas emoções até 22 de outubro no encantador país vizinho. Pesquisas apontam um segundo turno entre Milei, candidato de direita e Massa, peronista apoiado por Lula. O resultado indubitavelmente impactará na geopolítica da região. Acompanhemos!
Fábio Caldeira Doutor em Direito pela UFMG e professor da Academia da PMMG
(Hoje em Dia 01/09/2023)