OPINIÃO

Duas mulheres, dois casos Boas e más intenções em eventos similares

Por: . | Categoria: Do leitor | 31-12-2023 00:06 | 173
Foto: Arquivo

Por Fernando Fabbrini

A internet foi palco de duas histórias paralelas. A esposa do atual ocupante da Presidência teve perfis invadidos por um hacker que neles postou ofensas diversas. A referida senhora usou o ataque para culpar a rede social. Disse: "A gente precisa não só de regularização das redes, mas a gente (sic) precisa discutir a monetização dessas redes sociais". E ameaçou processar Elon Musk, o bilionário do X. O STF saiu à caça do responsável, e o fato virou manchete na grande mídia.

Quando escrevo "grande mídia", não me refiro ao tamanho físico da empresa de comunicação, número de funcionários, faturamento etc. Falo de entidades que há anos lambem as partes pudendas dos governos populistas que o Brasil ignorante elege e enchem os bolsos com volumes escandalosos de propaganda oficial - a recompensa.

Tais empresas retribuem com mentiras, puxa-saquismo, dados manipulados e ativismo explícito, iludindo o público com novelas, shows e distrações que alimentam, no paraíso da desinformação, gordinha e feliz, a estupidez do povo. Pelo próprio peso e anacronismo, esses dinossauros da notícia afundaram no ambiente da internet. Perderam credibilidade, audiência e faturamento, obrigando-os, cada vez mais, a depender do dinheiro público e a pagar o preço da submissão absoluta ao poder. A internet tornou-se o divisor das águas em que vão se afogando.

Porém, houve outro episódio nas redes - este, com final trágico. O perfil Choquei, de propriedade de Raphael Sousa Oliveira, com milhões de seguidores, divulgou fofocas sobre Jéssica Vitória Canedo, uma mineira de 22 anos. Mesmo após justos pedidos de desmentidos dos envolvidos no logro, Jéssica foi ainda mais ironizada pelo perfil; permaneceu assediada e alvo de bullying. Em profunda depressão, ela se matou, nas vésperas do Natal. Com raras exceções (O TEMPO foi uma delas), a mídia disfarçou a notícia. A esquerda brasileira logo esfregou as mãos, tentando se aproveitar de uma garota morta para impingir mordaças.

Se a internet é a gleba dos escândalos atuais, ela também é o arquivo de memórias indeléveis. Há fotos do atual ocupante do Palácio da Alvorada beijando a testa do administrador do Choquei, seu militante ardoroso durante a eleição. Edson José da Silva Jr. também recebeu homenagem de um vereador petista na Câmara de Nova Andradina (MS). Outra imagem mostra o mesmo rapaz, risonho, abraçado à senhora que pensa processar Musk. Ninguém duvida da sólida amizade entre membros do governo e os caras do Choquei, convidados VIP para festinhas reservadas em Brasília.

Os irresponsáveis do perfil tiraram imediatamente seus traseiros da reta, apagando postagens. O ministro dos Direitos Humanos - caladinho até então - finalmente manifestou-se com palavras de praxe. Um deputado está acionando o Ministério Público baseando-se no artigo 122 do Código Penal: "induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça". Dá cadeia.

Existirá tecnologia capaz de separar "bem" e "mal" ou "bom" e "mau" apenas via inteligência artificial, sem participação humana? Claro que não: "regularização das redes" é música para os ouvidos das tiranias; um eufemismo cafajeste para justificar a censura violenta como a imposta na China, Irã, Cuba, Coreia do Norte, Azerbaijão, Myanmar.

O triste desfecho do caso Jéssica botou as autoridades numa saia-justa inédita. O governo petista usou a invasão no site da tal senhora supracitada com evidentes fins políticos. Mas fica a pergunta: agirá com rigor contra seus jovenzinhos aliados enriquecidos na militância digital? Eis uma oportunidade perfeita para confirmar quem deve prevalecer nesse impasse: a lei imparcial e soberana ou a hipocrisia despudorada de sempre. Eu, desencantado de Brasil e de justiça, já tenho uma resposta.

* Fernando Fabbrini escreve todas as quintas-feiras no Portal O Tempo (Extraído do Portal O Tempo - 28/12/2023)