OPINIÃO

Brasil avança no (des) combate à corrupção

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 03-02-2024 00:04 | 42
Foto: Arquivo

Fábio Caldeira

Cabe refletir acerca da frase atribuída por muitos ao ex-presidente francês Charles de Gaulle, mas que na verdade é de autoria do então embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza: "O Brasil não é um país sério".

Não importa seu verdadeiro autor e seu diverso contexto, mas é pertinente transportá-la aos dias atuais, especificamente na conjuntura do momento quando dispomos da temática corrupção.

A corrupção em suas diferentes esferas e níveis drena dinheiro suado dos nossos impostos para bolsos vorazes de criminosos, que usufruem de seus cargos públicos ou mandatos eletivos em proveito próprio, familiar e partidário. E o pior, enfraquece e fragiliza a democracia. Está no mesmo nível dos golpistas de 8 de janeiro de 2023. E merecem, ou mereceriam o mesmo tratamento pelo poder judiciário e pela grande mídia.

A refletir do porquê de não ter sequer um indivíduo preso dentre os envolvidos nos grandiosos, comprovados e fartamente divulgados escândalos recentes intitulados mensalão e petrolão.

Apenas um desinformado ou mal intencionado ou conivente pode atestar que as políticas de combate à corrupção no Brasil estão em andamento e efetivas. E o pior, vez ou outra vemos um "artista" apregoar isso em entrevistas ou postagens nas redes sociais.

Pois bem, em recente divulgação pela ONG Transparência Internacional do Índice de Percepção da Corrupção de 2023, o Brasil caiu dez posições e ficou em 104º lugar entre 180 países.

O índice classifica os países conforme uma pontuação que vai de 0, no pior cenário de corrupção, a 100, no melhor. Essa é a pior queda do Brasil desde 2017, quando o país perdeu 17 posições no ranking em relação a 2016 (foi de 79º para 96º lugar). O Brasil ficou atrás de nações como Argentina, Belarus, Etiópia e Zâmbia.

No topo do ranking estão Dinamarca (90), Finlândia (87), Nova Zelândia (85) e Noruega (84). Segundo Roberto Livianu, do Instituto Não Aceito Corrupção, "paradoxal e agonizante sermos uma das 10 maiores economias do mundo e cairmos num único ano 10 posições no ranking mundial da percepção da corrupção".

Vale citar trechos do editorial do jornal Folha de São Paulo do dia 30 de janeiro, veículo que tem uma linha claramente tendenciosa em favor do governo Lula: "A trajetória do indicador brasileiro corrobora a impressão de que as expectativas sobre a prevenção e a punição dos crimes do colarinho branco atingiram o pico em 2014. Naquele ano fora deflagrada a Operação Lava Jato, na esteira do julgamento do mensalão, que condenou à prisão figuras antes tidas como intocáveis pela lei penal".

Mais adiante dispõe que "no relatório em que apresentou os dados de 2023, a Transparência Internacional mostra-se solidamente informada sobre as causas da deterioração brasileira. O pacto da impunidade é uma obra coletivamente empreendida por representantes de todo o espectro político-partidário e ideológico, bolsonaristas e petistas, juízes e congressistas, autoridades e oligarcas".

O pacto da impunidade citado pela Folha nos conduz a quase afirmar que o combate à corrupção no Brasil foi para as calendas gregas (para nunca; para um dia inexistente).

Pelo menos para esta geração, esqueçamos um verdadeiro e profundo combate à corrupção no país. Até quem sabe um dia uma convulsão social nacional resolva dar um basta!

Fábio Caldeira - Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político (Hoje em Dia 02/02/2024)