OPINIÃO

Mundo estranho esse: divertimos no carnaval e milhares sofrem mundo afora

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 09-02-2024 00:57 | 151
Foto: Arquivo

Fábio Caldeira
Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político 

Primeiramente não é uma reflexão a ser qualificada como hipócrita, de posicionamentos entre certo e errado, ou maniqueísta de querer personificar nós humanos entre os campos do bem e do mal. Nada disso. Mas para aqueles que têm um pouco de empatia e compaixão, é estranho e gera incômodo, com certeza.

O mundo não caminha bem, basta acompanhar as notícias diárias. Um meio termo é aconselhável, ou seja, não podemos focar em excesso nas notícias diárias, pois seguramente afetarão sobremaneira nosso emocional, nos deixando bem "pra baixo", comprometendo nossa saúde. Mas também não podemos ser omissos e alienados em não acompanhar e se indignar com o que se passa no chamado macro mundo, como as guerras, o terrorismo, conflitos étnicos, migratórios, etc.

Por suposto também no médio mundo, a brutal violência que assola o país, assassinatos, intolerância, fome, acidentes, enchentes, alagamentos e corrupção.

E ainda da maior relevância envolvermos no nosso chamado micro mundo, atentando para o que se passa com nossa família, nossos amigos, vizinhos, colegas de trabalho, pessoas da nossa convivência mais próxima. Incoerente e inaceitável sair às ruas ou postar algo em defesa da Amazônia ou do fim da guerra entre Israel e o Hamas e não cumprimentar o porteiro, a moça da faxina ou ignorar um familiar ou amigo que precisa de ajuda.

Bem, chegou o carnaval. O momento no Brasil mais longo em que o país fica quase que exclusivamente por conta de festas, trios elétricos, bloquinhos, e por aí vai.

Repetindo o dito no início desta coluna, sem nenhuma hipocrisia da minha parte, até porque eu também sairei da rotina nesses 05 dias e darei uma pausa em minhas atividades profissionais e rotineiras. Mas que é estranho é, a dubiedade e o caráter paradoxal do mundo nesse período. Basta ver as manchetes das notícias que dividem a imprensa.

"Hamas quer retirada de tropas israelenses de Gaza em proposta de cessar-fogo; fontes acreditam que exigências não devem ser aceitas por Israel". CNN, 07 de fevereiro

"Pochete para disfarçar a doleira, creme contra assaduras e cuidados com o celular: influencer dá dicas para evitar transtornos nos blocos". Oglobo, 07 de fevereiro

"Policial morto em Santos já teve irmão PM assassinado: Pai lamenta a perda do segundo filho para a violência: "Estamos sem chão". Estadão, 07 de fevereiro

 "Embratur aposta nos carnavais de BH, Rio e Salvador para atrair turistas estrangeiros". G1, 03 de fevereiro

"Rússia coloca soldados ucranianos na defensiva na linha de frente e indica nova fase na guerra". Estadão, 06 de fevereiro

"Israel admite que estão mortos pelo menos 31 dos 136 reféns nas mãos do Hamas". Euronews, 07 de fevereiro

"Bares e restaurantes esperam crescimento nas vendas durante carnaval". Band, 31 janeiro

"Líder de seita no Quênia que matou 191 crianças de fome deve passar por avaliações médicas de saúde mental". G1, 17 de janeiro

"Carnaval no Rio terá recorde de megablocos, distribuição de água e reforço na segurança". Folha SP, 24 de janeiro. E basta acompanhar notícias dos próximos cinco dias e veremos com maior clareza o mundo ambíguo em que vivemos. Novo normal após a pandemia da Covid? Não, sempre foi assim. Mas que é estranho esse comportamento de nós humanos, em nossa breve passagem pelo planeta Terra, ah é sim! (Hoje em Dia 09/02/2024)